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Explosão Demográfica |
Faltam pouco mais de três meses para a população mundial chegar ao inédito número de 7 bilhões de pessoas, segundo uma previsão da Organização das Nações Unidas (ONU). Mais gente habitando a Terra significa um uso maior de água, alimentos, carros, roupas, casas… Uma lista quase infinita. E o planeta já se encontra estafado pelo consumo desenfreado.
Para amenizar os impactos de uma população que só cresce, os especialistas defendem dois caminhos. O primeiro é a redução do consumo. Quando usamos menos recursos naturais, diminuímos nossa pegada de carbono e, consequentemente, o potencial do temido aquecimento terrestre. O ponto central da mudança rumo a uma economia de baixo carbono é o consumidor. O segundo é a revolução tecnológica. As empresas terão de inovar na busca de soluções ambientais de baixo impacto. E de produtos adaptados a uma nova geração com consciência ecológica.
Essas ideias estão no livro “Toneladas sobre os ombros”, de Ernesto Cavasin Neto, da consultoria Price Waterhouse and Coopers. A publicação, uma análise profunda desta transformação que evolui junto do atual mercado de carbono, vai ser lançada pela Editora Schoba no próximo dia 30. No texto, a vida e comportamento de Santos Dumont é relacionada a ideias para a evolução do combate ao aquecimento global. Cavasin apresenta sugestões de como as empresas podem se preparar para esta nova economia de forma inovadora e definitiva.
Em seu Ensaio sobre o princípio da população, de 1798, o inglês Thomas Malthus fez uma previsão sombria. Como a população humana crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos aumentava em progressão aritmética, no longo prazo o saldo desse descompasso seriam a fome e o aumento da mortalidade. Só a tragédia ajustaria o tamanho da população à oferta de alimento. Malthus viveu no período em que a humanidade atingiu a marca de 1 bilhão de pessoas. A partir de 31 de outubro, de acordo com a previsão das Nações Unidas, seremos 7 bilhões. E a questão malthusiana volta a se impor: haverá espaço, comida e recursos para todos?
Desde os tempos de Malthus, os humanos têm exercido um impacto brutal sobre a superfície, os oceanos e a atmosfera terrestres. Além de exaurir recursos naturais, destruir fauna e flora e erguer gigantescos monumentos artificiais – na forma de plantações, estradas, usinas, portos e aglomerações urbanas –, a ação humana tem sido tão extrema que, de acordo com os pesquisadores, tem alterado a própria geologia do planeta Terra. Para muitos cientistas, a Revolução Industrial – a época de Malthus – deveria marcar o início de um novo período geológico, batizado, em homenagem ao Homo sapiens, de Antropoceno. A Era dos Humanos.
A população avançou lentamente desde a evolução da espécie há 200 mil anos. Foi só há 10 mil anos, com a invenção da agricultura e o aumento na oferta de grãos, que o crescimento começou a acelerar. Ainda assim, continuou lento, regulado pela alta mortalidade. Epidemias, fome e guerras dizimavam milhões. Isso mudou desde o início da Era dos Humanos, com a introdução de vacinas e antibióticos e melhores técnicas agrícolas. Mesmo os conflitos armados ficaram mais restritos. Com melhores perspectivas, a humanidade prosperou – e se multiplicou.
Apesar das previsões trágicas de Malthus, a Era dos Humanos tem sido uma era de relativa abundância. Desde então, a produção agrícola, graças à tecnologia, acompanhou o aumento populacional. A bomba demográfica foi desarmada nos países ricos. Na Rússia e em seus antigos satélites, como a Geórgia, a população está até caindo. Em países de renda média, como o Brasil, a fertilidade, que era de até seis filhos por mulher nos anos 1960, caiu para taxas inferiores a 2,1 filhos, como resultado de avanços na educação e na saúde. No Brasil, os recém-nascidos já equivalem aos mortos – o suficiente para estabilizar a população em duas décadas. Mas, como um todo, a humanidade não parou de crescer. Na Índia, no mundo árabe e na África, as taxas de natalidade ainda são elevadas. As nigerianas têm em média 5,6 filhos.
Desde Malthus, passaram 130 anos até a humanidade chegar ao segundo bilhão, em 1930. No século passado, com a queda na mortalidade infantil e as conquistas da medicina, o ritmo acelerou. Em 1960, éramos 3 bilhões. Em 1974, 4 bilhões. Em 1987, 5 bilhões. Em 1998, 6 bilhões. E bastaram 13 anos para crescermos o último bilhão. Se as projeções (conservadoras) das Nações Unidas se confirmarem, e o crescimento mantiver o ritmo atual, seremos 8 bilhões em 2025 e 9 bilhões em 2043.
É verdade que, aos poucos, a taxa de natalidade tenderá a cair nos países que hoje mais crescem. Segundo as previsões dos demógrafos, em algum momento em torno de 2100 a população se estabilizaria pouco acima de 10 bilhões e depois declinaria lentamente. Mas, antes disso, será preciso construir centenas de milhões de casas, erguer milhões de hospitais e creches, abrir vagas escolares para bilhões de crianças e criar empregos para uma multidão equivalente a duas Chinas ou quase três Índias.
Garantir aos humanos condições dignas de vida e acesso aos bens de consumo é o maior desafio de nosso tempo. O ar das cidades nunca foi tão sujo, nem tamanha a sede por combustíveis. Na China, a economia cresce sem parar há duas décadas. A alta da construção civil absorve todo o ferro, alumínio, cobre e zinco que as mineradoras globais extraem do subsolo. A demanda mundial por matérias-primas, energia e comida joga para cima os preços e não dá sinais de ceder.
Em 1999, os indianos celebraram nas ruas quando o país passou a barreira de 1 bilhão de habitantes. Os políticos saudaram a conquista na televisão. Agora, a marca dos 7 bilhões inspira uma reação mais ambígua. São 7 bilhões com potencial criativo, capazes de produzir riqueza e progresso. Mas exigirão mais recursos de um planeta que chegou ao limite. O desafio para as próximas décadas é desenvolver novas formas de produção e criar novos padrões de consumo, para garantir que a humanidade caiba na Terra com conforto.
(Foto: Elizabeth Dalziel/AP)
Fonte: Blog do Planeta