O
Ártico perdeu mais gelo marinho neste ano do que em qualquer outro período
desde que registros por satélite começaram a ser feitos, em 1979, segundo a
Nasa (a agência espacial americana).
Cientistas
que calculam as perdas afirmam que isso é parte de uma mudança fundamental.
Além
disso, o gelo marinho geralmente atinge seu ponto mais baixo em setembro, então
acredita-se que o derretimento deste ano vá continuar.
Segundo
a Nasa, a extensão de gelo marinho caiu de 4,17 milhões de km² em 18 de
setembro de 2007 para 4,10 milhões de km² em 26 de agosto de 2012.
A
cobertura de gelo marinho aumenta durante o frio dos invernos no Ártico e
encolhe quando as temperaturas voltam a subir. Mas, nas últimas três décadas,
satélites observaram um declínio de 13% por década no período de verão.
A
espessura do gelo marinho também vem diminuindo. Sendo assim, no total o volume
de gelo caiu muito – apesar de as estimativas sobre os números reais variarem.
Joey
Comiso, o principal pesquisador no Goddard Space Flight Center da Nasa, disse
que o recuo deste ano foi causado pelo fato do calor de anos anteriores ter
reduzido o gelo perene – que é mais resistente ao derretimento.
"Diferentemente
de 2007, as temperaturas altas no Ártico neste verão não foram fora do comum.
Mas nós estamos perdendo o componente espesso da cobertura de gelo", disse
Comiso.
"Assim,
o gelo no verão fica muito vulnerável."
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Ártico
perdeu mais gelo neste ano do que em qualquer outro período desde 1979 |
Morte inevitável
Segundo
Walt Meier, do National Snow and Ice Data Center, que colabora nas medições da
cobertura de gelo, "no contexto do que aconteceu nos últimos anos e ao
longo dos registros de satélite, isso é um indicativo de que a cobertura de
gelo marinho do Ártico está mudando fundamentalmente".
O
professor Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge, disse à BBC que
"diversos cientistas que trabalham com medição de gelo marinho previram
alguns anos atrás que o recuo iria se acelerar e que o verão Ártico se tornaria
livre de gelo em 2015 ou 2016".
A
previsão, na época considerada alarmista, agora está se tornando realidade, diz
ele. E o gelo ficou tão fino que irá inevitavelmente desaparecer.
"Medições
de submarinos mostraram que (a região) perdeu pelo menos 40% de sua espessura
desde os anos 1980. Isso significa uma inevitável morte para a cobertura de
gelo, porque o recuo de verão é agora acelerado pelo fato de que enormes áreas
de água aberta permitem que tempestades gerem grandes ondas, as quais quebram o
gelo restante e aceleram seu derretimento", afirmou.
"As
implicações são graves: a maior área de água aberta reduz o albedo médio
(refletividade) do planeta, acelerando o aquecimento global; e nós também
estamos vendo a água aberta causar derretimento do permafrost (solo composto
por terra, gelo e rochas congelados), liberando grandes quantidades de metano,
um poderoso gás causador do efeito estufa", disse.
Ameaças e
oportunidades
As
opiniões variam sobre a data da morte do gelo marinho de verão, mas as notícias
mais recentes causam pessimismo.
Um
recente estudo da Universidade de Reading, na Grã-Bretanha, usou técnicas
estatísticas e computadores para estimar que entre 5% e 30% da perda recente de
gelo se deve à Oscilação Multidecadal do Atlântico – um ciclo natural do clima
que se repete a cada 65 a 80 anos. Está em uma fase quente desde meados dos
anos 1970.
Mas
o restante do aquecimento, estima o estudo, é causado pela atividade humana –
poluição e desmatamento de florestas.
Se
o gelo continuar a desaparecer no verão, haverá oportunidades, assim como
ameaças.
"As implicações são graves: a maior área de
água aberta reduz o albedo médio (refletividade) do planeta, acelerando o
aquecimento global; e nós também estamos vendo a água aberta causar
derretimento do permafrost (solo composto por terra, gelo e rochas congelados),
liberando grandes quantidades de metano, um poderoso gás causador do efeito
estufa" (Prof.
Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge).
Alguns
navios já estão economizando tempo ao navegar por uma rota antes intransitável
ao norte da Rússia.
Companhias
de petróleo, gás e mineração estão brigando para explorar o Ártico – apesar de
sofrerem forte oposição de ambientalistas. O Greenpeace tem protestado contra
exploração pela gigante russa Gazprom.
Entre
as muitas ameaças, o aquecimento é ruim para a vida selvagem do Ártico. Graças
à influência do gelo marinho nas correntes de jato, as mudanças podem afetar o
clima na Grã-Bretanha.
As
mudanças – caso ocorram – poderiam abrir depósitos congelados de metano que
iriam aquecer ainda mais o planeta.
Oceanos
mais quentes podem levar a um maior derretimento da cobertura de gelo da
Groenlândia, o que contribuiria para a elevação do nível do mar e para mudanças
na salinidade do mar, que por sua vez poderiam alterar as correntes oceânicas
que ajudam a controlar nosso clima.