Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

CIENTISTAS AGUARDAM NASCIMENTO RARO DE “DRAGÕES” EM CAVERNA NA ESLOVÊNIA


O proteus nada como uma enguia e pode passar dez anos sem comida

Em uma caverna visitada por um milhão de turistas todos os anos, um anfíbio pouco estudado colocou ovos que estão causando grande expectativa.
Acredita-se que o Proteus anguinus, o proteus, uma salamandra cega encontrado em rios de cavernas nos Bálcãs, viva por mais de cem anos, mas se reproduz apenas um ou duas vezes por década.
Uma fêmea em um aquário da caverna Postojna, na Eslovênia, colocou entre 50 e 60 ovos - e três estão mostrando sinais de crescimento.
O proteus é uma espécie de ícone na Eslovênia, onde aparecia em moedas antes da chegada do euro. Há centenas de anos, quando enchentes expulsavam as criaturas para fora das cavernas, eram tidas como bebês de dragões.
Ninguém sabe quantos filhotes irão sair dos ovos e nem sequer quanto tempo isso vai levar.
"No momento, parece que há três bons candidatos", diz Saso Weldt, um biólogo que trabalha na caverna.
Ele e seus colegas tiraram fotos com exposição muito alta na escura caverna para reunir indícios de que os pequenos ovos estão se desenvolvendo.
"Ela começou a colocar ovos em 30 de janeiro. Ela ainda está colocando um ou dois ovos por dia, e eles precisam de cerca de 120 dias até o animal nascer."
 Cerca de 60 ovos foram colocados

Estima-se que levará pelo menos quatro meses até que os ovos comecem a vingar
“Extraordinário”
Essa estimativa por alto, explica ele, é baseada no conhecimento adquirido com uma colônia dos anfíbios estabelecida na década de 1950 em um laboratório subterrâneo nos Pirineus franceses para estudar aspectos da vida biológica em cavernas.
Mas lá eles vivem um uma água uma pouco mais quente, com temperatura de 11º C.
"Na nossa caverna é um pouco mais frio, 9º C, então tudo vai durar mais."
É uma oportunidade única de observar o enigmático proteus se reproduzindo na mesma caverna onde morou por milhões de anos.
"É muito significativo porque não há muitos dados sobre a reprodução deste grupo de animais", disse Dusan Jelic, pesquisadora do programa Edge da Sociedade Zoológica de Londres que estuda proteus mergulhando em cavernas na Croácia.
Visitantes podem ver a fêmea por uma câmera infravermelha
Se os filhotes saírem do ovo e se desenvolverem com saúde, seria algo "maravilhoso", segundo Jelic.
"Na natureza, nunca achamos ovos ou larvas. Eles estão provavelmente escondidos em localidades específicas dentro do sistema das cavernas", afirma.
Postojna tem um sistema de cavernas desse tipo, com sua própria população de proteus selvagens. Mas esses ovos, especificamente, foram colocados em um aquário da movimentada área aberta para visitantes da caverna.
"Isso é muito legal - é extraordinário", diz Primoz Gnezda, outro biólogo que trabalha na caverna Postojna. "Mas também estamos com medo de que algo dê errado, porque os ovos são muito sensíveis."
Como os únicos vertebrados de caverna da Europa, o proteus está muito adaptado a seu reino subterrâneo e protegido: cavernas criadas à medida que a água abre caminho entre rochas solúveis.
"Por 200 milhões de anos eles estavam em um ambiente que não mudou", disse Jelic.
Como consequência, os animais - e principalmente seus ovos - estão muito vulneráveis a mudanças na qualidade da água e temperatura. Mesmo as mudanças das estações mal são percebidas no subsolo.
Dragões bebês
O proteus não enxerga e tem guelras salientes
Na Eslovênia eles também são chamados de 'peixes humanos' por causa da palidez
Em 2013, outro proteus de Postojna colocou ovos, mas nenhum deles vingou e muitos foram comidos por outros proteus do tanque.
Desta vez, precauções foram tomadas. Todos os animais, exceto a mãe, foram removidos e o aquário está protegido da luz. Oxigênio extra está sendo adicionado de forma artificial.
"Agora cabe a eles", diz Weldt.
Uma câmera infravermelha transmite imagens a uma tela próxima para que a equipe da caverna, assim como os turistas, possam ver o que acontece.
Quase não há movimento, mas às vezes a fêmea proteus se mexe para checar os ovos, colocar mais um ou se proteger de anfípodes - crustáceos pequenos e famintos que ela não pode ver, mas que detecta usando órgãos eletros sensíveis em seu focinho.
O proteus é uma espécie de ícone na Eslovênia, onde aparecia em moedas antes da chegada do euro; há centenas de anos, quando enchentes expulsavam as criaturas para fora das cavernas, eram tidas como bebês de dragões
Nas últimas semanas, a "mãe dragão" do Postojna virou uma celebridade e, agora, leva uma grande expectativa em seus pequenos ombros.
Mas o peso também é sentido pelos biólogos da caverna.
"É um desafio e uma responsabilidade", diz Weldt. "Estou animada."
Fonte: BBC

sábado, 27 de fevereiro de 2016

ZIKA: NADA INDICA QUE VACINAS, INSETICIDAS OU MOSQUITOS TRANSGÊNICOS CAUSEM MICROCEFALIA, DIZ OMS



O Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta sexta-feira um boletim desmentindo diversos boatos que circularam nos últimos meses atrelando diferentes fatores à microcefalia.
Vacinas, inseticidas ou mosquitos transgênicos não causam Microcefalia - Segundo a OMS
Segundo a organização, não há provas de que vacinas, inseticidas ou mosquitos transgênicos causem a má-formação, que vem afetando bebês brasileiros.
"Não há evidências ligando qualquer tipo de vacina ao aumento do número de casos de microcefalia observados primeiro na Polinésia Francesa durante o surto de 2013 e 2014 e, mais recentemente, no Nordeste do Brasil", afirma o documento.
Segundo a OMS, tanto um extenso estudo realizado em 2014 como um levantamento do Global Advisory Committee on Vaccine Safety (GACVS) mostraram que não há evidências de que vacinas administradas durante a gravidez causariam qualquer problema congênito nos bebês.
A organização também abordou os relatos, que circularam ultimamente, de que o inseticida piriproxifeno seria a verdadeira causa da microcefalia.
"Uma equipe de cientistas da OMS recentemente revisou os dados toxicológicos do piriproxifeno, um dos 12 larvicidas que a OMS recomenda para reduzir a população de mosquitos. A equipe não encontrou evidências de que o larvicida afete o desenvolvimento de fetos."
A OMS também afirmou que as agências de Proteção Ambiental dos EUA e da União Europeia chegaram a conclusões semelhantes sobre o produto.
Mosquitos e peixes
O boletim esclarece ainda que a OMS não tem provas de que mosquitos geneticamente modificados estariam causando microcefalia.
"Nesses mosquitos, os genes dos machos são modificados. Por causa dessa alteração, quando eles acasalam com fêmeas, as larvas geradas não sobrevivem. Essa prática tem como objetivo controlar as populações de mosquitos."
Tanto que a organização considerou positivo o fato de alguns países afetados pelo zika e pela dengue estarem usando métodos biológicos como parte do controle de mosquito.
El Salvador, por exemplo, com um forte apoio das comunidades ligadas à pesca, está introduzindo peixes que devoram larvas em locais que armazenam água.

CIENTISTAS DESVENDAM MECANISMO AUTOIMUNE DE REAÇÃO À PICADA DE ESCORPIÃO E A RESPOSTA PARA INATIVA-LA, QUE ESTÁ LOGO ALI, NA PRATELEIRA DA FARMÁCIA, O ANTI-INFLAMATÓRIO.

Escorpião Amarelo o “Tityus serrulatus”

Picadas de escorpião são a maior causa de acidentes com animais peçonhentos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Em Ribeirão Preto foram 261 vítimas em 2015, sem nenhuma morte, segundo a Secretaria da Saúde. As vítimas dessas picadas apresentam reação local ou sistêmica, que pode evoluir para edema pulmonar, com chance de levar à morte, principalmente, crianças, idosos e pessoas com problemas cardíacos ou pulmonares.
Pesquisadores da USP de Ribeirão Preto desvendaram o mecanismo que leva ao edema pulmonar e sua relação com os mediadores lipídicos (substâncias produzidas pelo sistema imunológico ante o ataque de um corpo estranho) e com a interleucina 1β (IL-1β). A descoberta levou o grupo a tratar o edema pulmonar com anti-inflamatório comum, existente no mercado, e salvar 100% dos animais inoculados por escorpião. Esses resultados abrem caminho para salvar a vida de cerca de três mil pessoas que morrem envenenadas por escorpião, por ano ao redor mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O artigo Opposing roles of LTB4 and PGE2 in regulating the inflammasome-dependent scorpion venom-induced mortality, descrevendo esses resultados foi publicado hoje, 23 de fevereiro, pela Nature Comunications, versão online de uma das mais importantes edições científicas do mundo.
Os antagonistas do processo
Ao identificar que dois mediadores lipídicos, as prostaglandinas e os leucotrienos, são responsáveis pela regulação da ativação do inflamassoma, estrutura essencial para a ativação da resposta inflamatória, os pesquisadores também descobriram que esses mediadores têm papéis antagônicos na regulação dessa inflamação.
“Enquanto a prostaglandina E2 (PGE2) aumenta a produção da IL-1β (molécula formada pela ativação do inflamassoma), o leucotrieno B4 (LTB4) diminui a produção dessa molécula”, na verdade, buscando equilíbrio no sistema de defesa. É o que revela a professora Lucia Helena Faccioli, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP e orientadora do estudo.
Lucia Helena Faccioli
Com essas informações, os pesquisadores identificaram também que no envenenamento por escorpião se não acontecer a regulação da ativação do inflamassoma pelo LTB4, há um aumento exagerado de PGE2 e de IL-1β.  “Quando isso ficou claro, começamos a tratar os animais com um anti-inflamatório comum, já existente no mercado, que inibe a produção de prostaglandinas. Com isso conseguimos reduzir o edema pulmonar e 100% dos animais sobreviveram”, diz Karina F. Zoccal, aluna de pós-doutorado da FCFRP e principal autora do estudo publicado.
Outro aspecto interessante encontrado nos estudos, diz a professora Lucia, é que a ciência conhecia o LTB4 como uma molécula inflamatória, mas nossos resultados indicam que este lipídeo também tem um papel anti-inflamatório. “Esses resultados também abrem caminhos para estudos de outras doenças provocadas pela inflamação”.
Como fica o local em que o Escorpião picou.
No rastro dos mediadores lipídicos
Parece óbvio e simples, mas para chegar a esses resultados, o laboratório coordenado pela professora Lucia estuda há anos mediadores lipídicos, em especial as prostaglandinas e os leucotrienos. “A comunidade científica já sabia que o envenenamento por picada de escorpião causa edema pulmonar, mas o mecanismo que leva ao edema era desconhecido, assim como a relação com os mediadores e a ativação do inflamassoma”.
Durante anos, a equipe realizou estudos in vitro e, ao obter resposta positiva para a hipótese do envolvimento dos mediadores, passou à investigação em modelos animais, o que levou os pesquisadores, na opinião da professora, a uma resposta mais próxima do que podem encontrar em humanos. “Foi no modelo animal que conseguimos concluir a eficácia do uso de anti-inflamatórios”.
Criaram, então, um protocolo para tratar os animais. Usaram camundongos, que recebiam o anti-inflamatório e ao mesmo tempo o veneno. Nesse primeiro protocolo, 100% dos camundongos sobreviveram. Num segundo momento dos experimentos, inocularam o veneno entre 15 minutos e meia hora depois, foram tratados com o anti-inflamatório. Desse grupo de animais, entre 70% a 80% sobreviveram. “Isso mostra que o tratamento é efetivo mesmo quando dado terapeuticamente”, avalia Lucia.
A professora acredita que os testes em humanos devem começar nos próximos meses, assim que o projeto for aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, onde já foi protocolado em dezembro último.
Lembra ainda que, mesmo com o uso do anti-inflamatório, o soro antiescorpiônico continuará sendo administrado, pois além de ser o protocolo estabelecido para esse tratamento, o veneno do escorpião desencadeia outros eventos no organismo, que dependem do soro. “A nossa ideia é inibir o edema pulmonar até que o soro seja aplicado”.
O Estado de São Paulo é considerado região endêmica de escorpião, causada principalmente pelas condições climáticas, de saneamento e pelo desmatamento. “A espécie mais comum no Brasil é o escorpião amarelo o “Tityus serrulatus”, extremamente venenoso, e com esses resultados, abrimos caminho para salvar vidas”, comemora a professora.
Todo o projeto desenvolvido pelo grupo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Participaram ainda do trabalho os professores Elaine Candiani Arantes, Carlos A. Sorgi e Francisco W. G. Paula-Silva, todos da FCFRP; Dario Zamboni e Juliana I. Hori, ambos da FMRP, e Carlos H. Seresani, da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, Estados Unidos.
Mais informações: (16) 3315.4303.
Karina F. Zoccal, Lucia Helena Faccioli e Carlos A. Sorgi