Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

COMO SEU GLITTER NO CARNAVAL CHEGA AOS PEIXES NO OCEANO



O que o glitter que você passa no rosto no Carnaval tem a ver com o oceano? Para alguns pesquisadores, tudo.
Como seu glitter no Carnaval chega aos peixes no Oceano
As pequenas partículas brilhantes que adornam o corpo dos foliões são feitas de plástico, material que não é biodegradável. Quando se lava o corpo ou rosto coberto de glitter, as peças escorrem pelo ralo. Pequenas demais para serem filtradas no sistema de tratamento de esgoto, acabam parando em rios e mares.
O plástico é o maior poluente do oceano. E o glitter é um "microplástico", como são chamadas as partículas desse material com menos de 5 milímetros. Nem todas têm o tamanho que o glitter tem originalmente: parte delas são grandes produtos de plástico que chegaram a esse tamanho depois de sua deterioração por forças mecânicas no oceano ou radiação solar.
O perigo das partículas de microplástico no oceano é que podem ser ingeridas pela fauna marinha.
"Pesquisas recentes dão conta de que microplásticos perturbam o início da cadeia de alimentação aquática, como os plânctons. Também afetam ostras e mexilhões", diz Trisia Farrelly, da Universidade de Massey, na Nova Zelândia, especialista em ecologia urbana.
"Os microplásticos ingeridos por esses organismos podem afetar seu crescimento e atrapalhar sua alimentação como um todo - e consequentemente impactar toda a cadeia de alimentação." Plânctons, por exemplo, são um alimento dos peixes, que, por sua vez, alimentam os humanos.
O material base do glitter é plástico, que é tingido e cortado em pequenas partículas. 
 Direito de imagem Getty Images
Trilhões de partículas
Não há estudos sobre o glitter nesse contexto, especificamente, porque não é fácil identificar a origem de um microplástico. Mas o material é contabilizado entre os microplásticos que poluem o oceano - são entre 15 e 51 trilhões de partículas, segundo um estudo de 2015 conduzido por pesquisadores do Imperial College London, de Londres, em parceria com especialistas da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Holanda, e outros países.
Para Joel Baker, diretor do Centro de Águas Urbanas da Universidade de Washington, não se pode medir o impacto dos microplásticos no oceano. "Não sabemos se há um problema, mas não é um absurdo ser cuidadoso e não querer colocar coisas no meio ambiente que o degradem."
Parte dos microplásticos são os microbreads, ou grânulos, como os presentes em pastas de dentes e esfoliantes.
"É plástico feito para ter uma vida muito curta. Você limpa seu rosto ou seus dentes, enxágua e eles vão direto para o ralo", diz Farrelly. O uso de grânulos em produtos como esses foi proibido no Canadá, nos Estados Unidos e no Reino Unido. A Nova Zelândia deve implementar a proibição no primeiro semestre de 2018. No Brasil, seu uso ainda é permitido.
Embora não tenha sido proibido, o glitter também entrou no escrutínio público. Empresas no Brasil e no mundo começam a fabricar glitter biodegradável a partir de celulose, também metalizada com uma camada de alumínio.
"Eu gosto de coisas brilhantes. Mas com 7 bilhões de pessoas no planeta, não podemos usar as coisas só da maneira como gostaríamos. Precisamos pensar no impacto que causamos", diz Sherri Mason, professora de química da Universidade do Estado de Nova York em Fredonia e especialista em poluição de plástico em ecossistemas aquáticos.
Ela observa que, embora seja uma iniciativa positiva, "glitter biodegradável não dará conta da demanda que temos". "Então eu insisto que temos que reduzir o uso de glitter."
Para ela, governos podem tarifar mais os produtos de plástico para embutir em seu preço o impacto no meio ambiente.
Farrelly, da Nova Zelândia, diz que "o glitter, em si, não é o problema". "O glitter é uma parte do problema. E se está chamando atenção para o problema maior, então ótimo."
Por causa da poluição que causam, países estão proibindo grânulos como os encontrados em esfoliantes. Direito de imagem Getty Images
Como o glitter é produzido?
O glitter de plástico como o conhecemos é produzido a partir de placas de PET ou PVC que são metalizadas com alumínio e, depois, tingidas com cores diferentes.
Depois desse processo, explica o americano Joe Coburn, um dos proprietários da fábrica de glitter RJA-Plastics GmbH, as placas de plásticos são revestidas novamente com uma camada transparente para tentar "segurar" sua cor e dar consistência ao alumínio.
Essas placas são então cortadas em pequenas partículas e passam por uma máquina que tem um cilindro com 60 dentes rotativos de corte e uma faca - uma espécie de combinação entre um triturador de galhos e um triturador de papel.
Hexágono e outras curiosidades
"Matematicamente, o formato das partículas que causa menos desperdício é o hexágono", diz Coburn. Por causa disso, este é justamente o formato em que a maior parte das partículas de glitter, segundo ele, são trituradas.
"E isso também faz com que as diferentes partículas de glitter nunca caiam no mesmo ângulo. Quando não estão uniformes, brilham mais, porque há mais chances de receberem luz em diferentes partes."
Ele também explica que há diferenças entre a durabilidade das cores: um vermelho intenso não se mantém dessa cor ao longo do tempo tão facilmente quanto o glitter verde claro. E o tamanho também varia: o menor tipo de glitter já produzido pela empresa tem 0.02 mm.
A fabricante empacota o glitter em grandes sacos e exporta o produto em caixas de 25kg, tomando o cuidado de não misturar as cores.
Glitter usado no Carnaval pode afetar organismos no oceano. Direito de imagem Getty Images
"Uma fábrica de glitter não é um país encantado. É para ser um ambiente bem estéril", diz - o que não significa que não aconteçam vazamentos.
Por causa da forma como precisam operar a máquina, com testes antes que seja ligada, funcionários ficam com o corpo repleto das partículas.
"É uma infestação. Fica nos seus ouvidos, nariz, embaixo das unhas, no volante do carro. O volante do nosso carro tem uma camada permanente de glitter", conta Coburn. "A única solução possível para tirar todo esse glitter é ar comprimido."
Coburn conta que, uma vez, por causa da umidade, uma caixa de 25kg cedeu, espalhando glitter por todas as partes.
Coburn e seu irmão herdaram a fábrica de seu pai, morto em 2011. Seu avô tinha uma fábrica de adesivos nos Estados Unidos - "a família sempre trabalhou com coisas brilhantes" - e duas máquinas de glitter foram encontradas por ele e seu filho.
"Meu avô pediu que meu pai as vendesse, mas meu pai descobriu como funcionava e começou a produzir e vender", diz Coburn. Na época, "era uma tecnologia secreta".
Em 2018, segundo ele, a empresa começará a produzir glitter biodegradável.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

MÉDICOS DIZEM ESTAR PERTO DE CHEGAR A EXAME DE SANGUE PARA TODOS OS TIPOS DE CÂNCER



Cientistas dizem que estão mais perto de criar um exame de sangue universal, capaz de identificar todos os tipos de câncer.
Estudo conduzido com 1.005 pacientes por uma equipe da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, testou um método que detecta oito tipos de proteínas e 16 mutações genéticas comuns em quem já foi diagnosticado com a doença.
Apesar do método ter identificado oito tipos diferentes de câncer em 70% dos pacientes testados, ainda há dúvida se exame é capaz de detectar a doença em estágio inicial. Direito de imagem Getty Images
O teste foi capaz de identificar oito tipos de câncer e foi considerado bem-sucedido em 70% casos.
Especialistas no Reino Unido classificaram os resultados como "extremamente animadores". Mas ainda há dúvidas se é possível detectar um câncer em estado inicial com esse tipo de exame de sangue.
Tumores normalmente liberam vestígios minúsculos do DNA alterado na corrente sanguínea. O exame, chamado de "Cancerseek" ("procura do câncer", em tradução livre), foi capaz de identificar as alterações na maioria dos pacientes que tinham sido diagnosticados com a doença no ovário, fígado, estômago, pâncreas, cólon, pulmão, esôfago e na mama, mas que não sofriam de metástase.
Integrante da equipe que conduziu o estudo, Cristian Tomasetti, da escola de medicina da Universidade Johns Hopkins, disse à BBC que o diagnóstico precoce é crucial para reduzir o número de mortes por câncer.
Segundo ele, os resultados são animadores, porque podem potencialmente identificar a doença mais rapidamente.
Arma contra o diagnóstico difícil
Quanto mais cedo o câncer é descoberto, maiores são as chances de tratá-lo com sucesso.
Os pesquisadores estão animados porque alguns dos tipos de câncer identificados a partir do exame de sangue são de difícil diagnóstico.
Os resultados do teste foram divulgados na revista científica Science. 
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Cinco dos oito tipos pesquisados nesse estudo, por exemplo, dificilmente são identificados com ultrassom.
O paciente com câncer no pâncreas normalmente apresenta poucos sintomas, e a doença é detectada tardiamente - nesse caso, uma média de quatro em cada cinco pessoas morrem depois do diagnóstico.
Os pesquisadores agora tentam descobrir se é possível identificar as mutações antes de aparecerem os primeiros sintomas.
Segundo Cristian Tomasetti, descobrir tumores enquanto eles ainda podem ser removidos por meio de cirurgias faz aumentar as chances de sobrevivência.
O teste agora está sendo realizado com pessoas que ainda não foram diagnosticadas com câncer. A expectativa é poder avaliar a possibilidade de identificar a doença em uma fase bem inicial.
A esperança é que o exame de sangue possa complementar outros testes, como mamografias no caso do câncer de mama e colonoscopia no caso de câncer no intestino.
"Imaginamos que um exame de sangue como esse possa ser feito uma vez por ano", diz o cientista.
Exame universal
Os achados do estudo foram divulgados pela publicação científica Science e tratados como novidade porque o método desenvolvido identifica tanto proteínas quando DNA modificado geneticamente.
Aumentar a possibilidade de, em um único exame, identificar um número cada vez maior de mutações e de proteínas vai permitir detectar também uma maior quantidade de tipos de câncer.
E, por isso, cientistas acreditam estar no caminho certo para um exame de sangue universal, que seria capaz de indicar qualquer tipo da doença.
Método detecta, a partir do exame de sangue, oito tipos de proteínas e 16 mutações genéticas comuns em quem já foi diagnosticado com câncer. Direito de imagem Science Photo Library
O oncologista Gert Attard, que comanda uma equipe no Instituto de Pesquisas do Câncer em Londres, avalia que a pesquisa tem um enorme potencial.
"É extremamente animadora. Pode ser o Santo Graal: um exame de sangue capaz de diagnosticar câncer sem a necessidade de outros procedimentos como ultrassonografia ou colonoscopia."
Attard disse que "estamos muito perto" de usar exames de sangue para identificar a doença, uma vez que já "temos a tecnologia".
No entanto, ele alerta para o fato de ainda haver incertezas em relação ao que fazer depois do diagnóstico. Em alguns casos, o tratamento pode ser ainda pior que viver com a doença, em especial quando ela não coloca a vida da pessoa sob um risco imediato.
Homens, por exemplo, podem desenvolver câncer de próstata mais lentamente quando monitorados do que quando submetidos a um tratamento.
R$ 1,6 mil é o preço do exame que detectou os oito tipos de câncer. 
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"Quando nós detectamos um câncer de uma forma inesperada, não podemos ter certeza de que todo mundo vai precisar de um tratamento", afirma Attard.
Paul Pharoah, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, tem uma postura mais cautelosa em relação à descoberta.
Ele disse que mais estudos são necessários para avaliar o resultado desses exames de sangue em casos nos quais a doença está em fase inicial.
"Demonstrar que um teste é capaz de detectar câncer em estágio avançado não significa que o exame vai ser útil identificar a doença quando os sintomas ainda são iniciais, e muito menos casos em que estão em estágio pré-sintomáticos", diz Pharoah.
"O nível de sensitividade de câncer em estágio 1 nesse estudo foi de apenas 40%."
O custo do exame, segundo os pesquisadores, é de aproximadamente US$ 500 (R$ 1,6 mil) por paciente.