Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ESPÉCIES MARINHAS INVASORAS AMEAÇAM EQUILÍBRIO DE RESERVA AMBIENTAL DE ARRAIL DO CABO NO RJ




Pode-se dizer que Arraial do Cabo é uma região privilegiada em termos de biodiversidade marinha. É o único ponto no país onde ocorre o fenômeno da ressurgência, que, no verão, faz emergir das profundezas correntes de águas frias, repletas de nutrientes. Como a região permanece relativamente intocada e é de interesse para pesquisas, foi criada ali a Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, onde só é permitida a pesca de canoa, ou dos barcos de pescadores locais. Isso, no entanto, não tem evitado a introdução de espécies exóticas, como os corais Chromonephthea e Tubastraea, este último popularmente conhecido como coral sol. Uma outra espécie exótica, o ofiuróide Ophiothela, vem sistematicamente colonizando as gorgônias orelhas de elefante, outra espécie de coral, endêmica da costa brasileira e considerada ameaçada de extinção.
Na área pesquisada, o hidrocoral Millepora alcicornis
       cresce sobre a gorgônia Phyllogorgia dilatata

(Felipe Ribeiro / UFF)
Monitorando essas espécies invasoras, o biólogo Bernardo Perez da Gama, do Departamento de Biologia Marinha, da Universidade Federal Fluminense (UFF), alerta para a competição por espaço com as espécies nativas, para a possível redução de diversidade marinha que isso representa e os consequentes prejuízos à pesca comercial. Em seu projeto, desenvolvido com recursos do edital Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, pelo menos alguns invasores importantes vêm sendo alvo de acompanhamento: o coral Millepora alcicornis; a Tubastrea, de esqueleto calcário, também chamado coral sol por sua cor amarelo forte, e seu enorme potencial para dispersão; e Chromonephthea, um coral mole, que por enquanto tem se mantido relativamente confinado a poucas áreas; e Isognomon bicolor, uma espécie de ostra que já está estabelecida na região entremarés – que permanece submersa durante a maré alta – e é bastante difícil de erradicar; ou ainda Ophiothela, um ofiuróide (tipo de equinodermo similar a uma pequena estrela do mar amarela), que parece agir em colaboração com o coral nativo Millepora alcicornis para a colonização da gorgônia orelha de elefante.
"Precisamos monitorar o comportamento dessas espécies exógenas e, sempre que possível, evitar que elas cheguem e se estabeleçam em Arraial." Segundo o pesquisador, o Isognomon, por exemplo, vem competindo com o mexilhão, que é uma espécie comercial importante para os pescadores da região. "Hoje, a densidade desse invasor está mais baixa do que há alguns anos. Mas a espécie está estabelecida por aqui há 15, 20 anos e era bastante abundante em toda a área de costão. Não se sabe, porém, exatamente o que aconteceu para reduzir sua presença. Talvez tenha sido alvo de algum patógeno ou de um verão extremamente quente, que tenha elevado demasiadamente a temperatura das águas, a um ponto intolerável para a espécie. Com isso, sua densidade ficou bastante reduzida, mas precisamos evitar que ela prolifere novamente", fala.
Como explica o pesquisador, invasores como o Tubastraea, por exemplo, já são consideradas espécies estabelecidas em Angra dos Reis e na Ilha Grande. "Isso porque, como seus ovos fertilizados são dispersos nas águas e levados pelas correntes, isso significa um potencial enorme para se espalhar rapidamente. 
Invasora Millepora avança sobre gorgônia brasileira (à esquerda)
A Chromonephthea, ao contrário, tem sido limitada por sua forma de reprodução assexuada, que faz com que se espalhe apenas em pontos restritos em seu entorno." O que também tem impedido uma maior proliferação de espécies exógenas tem sido a ação dos peixes. Como o fenômeno da ressurgência torna toda aquela região abundante em pescado, e com as limitações impostas à pesca comercial, os peixes que ali se reproduzem se tornam importantes predadores das espécies invasoras. "Eles terminam exercendo uma forma natural de controle, fazendo com que essas espécies se mantenham apenas dentro dos limites do porto do Forno, e promovendo um relativo equilíbrio na reserva", esclarece.
Para confirmar esse papel de controle dos peixes sobre os invasores, Perez da Gama e equipe fizeram um experimento, levando placas com incrustação de espécies da baía de Guanabara a um ponto controlado de Arraial do Cabo e levando uma placa incrustada com espécies de Arraial a um ponto da baía de Guanabara. "Em Arraial, pudemos observar como a comunidade de peixes consome seletivamente as espécies invasoras. Mas na baía da Guanabara, como o ambiente já é muito invadido e a poluição orgânica favorece a bioincrustação de organismos filtradores, como ostras e mexilhões, a ação dos peixes predadores não é tão perceptível. Até porque, como as águas poluídas se tornam muito escuras, eles têm dificuldade de perceber visualmente as espécies exógenas."


Segundo o pesquisador, tudo isso confirmou a importância da pesca controlada em Arraial do Cabo, como forma de se manter o equilíbrio da biodiversidade local. "A própria existência da reserva é fundamental para evitar que essas e outras espécies invasoras se estabeleçam." Para Perez da Gama, é possível dar continuidade a aspectos preventivos, com algumas medidas. "Como o porto do Forno é o único acesso marítimo para grandes embarcações em Arraial, é preciso evitar-se a entrada de navios com uma quantidade elevada de bioinscrustação na parte submersa do casco, especialmente agora que a exploração de petróleo e gás vem possibilitando o trânsito de um maior número de embarcações em suporte a essas atividades."
Como explica o pesquisador, é preciso manter a fiscalização tanto nas embarcações que por ali transitam quanto para o controle da pesca. "Reduzir as comunidades de pescado a níveis mínimos, mantendo-as sob o estresse constante de uma redução ainda maior, significa também perder o controle natural de invasores e permitir que eles proliferem. Na conta final, significa também reduzir a biodiversidade local e promover modificações naquele ecossistema com consequências difíceis de prever. Os únicos resultados certos da falta de controle são os prejuízos comerciais e sociais para toda essa região", conclui.
Fonte: FAPERJ/UFF/ Vilma Homero

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