Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

INSTITUTO DA PATOLOGIA DO LIVRO CUIDA DOS ESCRITOS RAROS EM ROMA

Guerras, inundações, ratos ou cupins - o Instituto da Patologia do Livro de Roma, ICPAL, oferece há mais de 70 anos tecnologia para "cuidar" dos livros e escritos preciosos, danificados por acontecimentos os mais diversos, ou para periciar uma obra.
Essa instituição interdisciplinar, fundada em 1938, "é a primeira do mundo com essas características", além de ser referência para todos os problemas ligados à conservação e à restauração de livros e arquivos. O Vaticano também recorre, quando precisa de uma ajuda altamente especializada, conta à AFP Marina Bicchieri, do Departamento de Química. O ICPAL foi solicitado, inclusive, para a exposição do célebre autorretrato de Leonardo da Vinci.
"Os principais problemas que encontramos são causados pela água, pelo calor, além da poeira e insetos. Algumas bactérias conseguem até proliferar em bibliotecas", explica Flavia Pinzari, do Departamento de Biologia.
O museu, que fica na parte interna do Instituto, ilustra com detalhes os tipos de danos que algumas obras podem sofrer, podendo ser vistos livros com buracos, do tamanho de um punho, roídos por cupins, e outros com partes "comidas" por fungos ou ratos, quando não furados por balas - um remanescente da Segunda Guerra Mundial.
"Após as recentes inundações na Toscana, fomos chamados pelas autoridades locais para ajudá-las com seus arquivos inundados", explica Flavia Pinzari.
O Instituto aconselhou "congelar os livros, porque isso impede a água de diluir a tinta e os micro-organismos de se propagar; num segundo tempo, a água será liofilizada, fazendo-a passar do estado sólido ao gasoso, evitando que destrua ainda mais", prossegue Flavia Pinzari.
No Instituto, trabalham lado a lado químicos, biólogos, especialistas em literatura ou artesãos, hábeis em encadernar livros à moda antiga, reconstruindo as páginas em papel ou pergaminho e colando os velhos manuscritos.
Utilizam microscópios eletrônicos com raios X, mas também furadoras, alavancas, prensas ou instrumentos especiais para "envelhecer" artificialmente o papel.
"Consultamos antigas receitas, algumas datando da Idade Média para elaborar as cores e alguns tipos de tinta. Ao analisar fragmentos dos pergaminhos do Mar Morto, descobrimos tinta confeccionada, entre outras substâncias, com sangue", conta Flavia Pinzari.
Manuscritos danificados aguardando recuperação
A partir daí, Marina Bicchieri e uma das colaboradoras do Departamento de Química criaram uma tinta misturada com seu próprio sangue para estudar as diferentes características.
O Instituto se apoia, também, "numa rede de empresas especializadas, na Itália e no exterior, para a fabricação de diferentes tipos de pergaminho", ou no Japão, para a fabricação de um papel especial, que serve para "reconstruir" páginas danificadas.
Uma restauradora trabalha com uma furadora numa carta do ex-dirigente italiano Aldo Moro e "insere" um minúsculo fragmento de papel japonês num buraco situado num determinado ângulo deste documento, "colando-o" com a ajuda de uma película especial muito fina, fabricada no Instituto.
"Essas cartas serão fotografadas e, depois, inseridas numa espécie de envelope muito fino, feitos com um plástico especial que respira, permitindo sua consulta", explica Flavia Pinzari, sobre as últimas cartas do líder democrata-cristão, antes de seu assassinato pelos sequestradores, os terroristas das Brigadas Vermelhas.
"O livro não gosta de ser movimentado, de viajar. Ele se adapta ao meio ambiente, mesmo quando não é o ideal, mas é a mudança de temperatura e de umidade e a manipulação que lhe causam mais desgastes", comenta Bicchieri que "fala" dos documentos dos quais ela se ocupa como se fossem crianças.
"Mesmo os livros mais antigos foram escritos e são feitos para serem lidos. Devemos, então, encontrar o meio certo entre consulta e conservação", acrescenta Flavia Pinzari.
O Instituto criou há dois anos uma escola para os restauradores com formação teórica e prática de cinco anos, ao final do que eles poderão trabalhar de forma independente neste setor.


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