Lavoura devastada pela Doença do Panamá, que
ameaça espécie mais popular da banana
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A
banana é a fruta mais popular do mundo. E além dos seus predicados
gastronômicos, ela já foi usada tanto para designar governos corruptos em
países tropicais - as Repúblicas das Bananas - quanto para sinalizar algum
comportamento estranho - no inglês "going bananas". Também tem se
mostrado útil a atletas, como repositora de nutrientes. Quem não lembra do
tenista Gustavo Kuerten comendo bananas no intervalos de jogos?
Atualmente,
mais de 100 milhões de bananas são consumidas anualmente no planeta.
Mas
agora o mundo enfrenta uma nova ameaça que pode provocar, segundo
especialistas, a extinção da variedade mais comum da banana, a Cavendish (no
Brasil, banana d'água e/ou nanica). E talvez da fruta em todas as suas
espécies.
Tal
possibilidade tem a ver com uma propriedade rural no condado de Derbyshire,
Inglaterra. Ali, há 180 anos, foi desenvolvida a variação da fruta que se
tornaria a mais consumida no mundo.
“Planta exótica”
O
jardineiro da propriedade de Chatsworth, Joseph Paxton, recebeu, em 1830, um
cacho de bananas importadas das Ilhas Maurício. Paxton havia visto bananas em
um papel de paredes de um dos 175 quartos da propriedade. Na esperança de
cultivar o fruto, o jardineiro plantou o que seria a primeira bananeira daquela
propriedade.
"Paxton
sempre esteve atento a novas plantas exóticas e era bem relacionado, o que lhe
permitiu saber que bananas haviam chegado à Inglaterra", comenta o atual
jardineiro-chefe da propriedade, Steve Porter.
Em
novembro de 1835 a bananeira de Paxton finalmente deu frutos. Mais de 100, o
que rendeu ao jardineiro a medalha durante a exposição da Sociedade
Horticultural britânica.
A
banana acabou batizada pelos empregados da propriedade de Cavendishii, já que
Cavendish era o nome de família dos donos do local, a duquesa e o duque de
Devonshire.
"Naquela
época, era muito interessante para uma família inglesa plantar bananas e servir
a fruta a seus visitantes", diz Porter. "E ainda é", comenta.
Banana é fruta mais consumida no mundo. O Maior
produtor é o Equador
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Missionários
acabaram levando as bananas Cavendish para o Pacífico e Ilhas Canárias. Com a
epidemia da Doença do Panamá, que dizimou as plantações de outros tipos de
bananas a partir de 1950, mas não afetou a Cavendish, esta variação da fruta
passou a ser a preferida de agricultores mundo afora.
A
Cavendish era imune ao fungo assassino. E acabou sendo o tipo-exportação. A
fruta rendeu, em 2014, US$ 11 bilhões em exportações da fruta, sendo o Equador
o principal vendedor. O Brasil é o sexto maior produtor, com mais de 7 milhões
de toneladas produzidas, mas consome quase toda a banana que produz.
O
problema é que, enquanto produtores aperfeiçoavam a banana Cavendish,
encontrada em supermercados do Ocidente quase sempre com o mesmo tamanho e sem
manchas, o fungo da Doença do Panamá também evoluiu. E, agora, ameaça
seriamente as Cavendish.
O
novo fungo é ainda mais poderoso do que o que atacou o tipo mais popular de
banana antes dos anos 50, a Gros Michel, e agora afeta plantações em diversos
lugares no mundo. Mais de 10 mil hectares de plantações foram destruídos.
Como
o todas as Cavendish produzidas atualmente são clones daquela plantada pelo
jardineiro Joseph Paxton há quase dois séculos, se uma for atingida, as demais
também serão.
Perigo
O
fungo foi redescoberto em 1992, no Panamá, e detectado desde então na China,
Indonésia, Malásia e Filipinas. E, de acordo com a Panamá Disease.org, -
entidade formada por pesquisadores holandeses para alertar sobre o perigo da
doença- afetará logo, e em larga escala, plantações da América do Sul e África.
"O
problema é que não temos outra variação da banana que seja imune à doença e que
possa substituir a Cavendish", diz Gert Kema, especialista e produção da
planta na Wageningen University and Research Centre, na Holanda, e um dos
membros do Panamá Didease.org.
Pesquisadores
trabalham com duas linhas de ação para salvar a banana. Primeiro, conter o
avanço da doença através de campanhas.
Mas
é mais fácil falar do que fazer, alerta Alistair Smith, coordenador
internacional da organização Banana Link, que reúne cooperativas de
agricultores ao redor do mundo.
"É
mais ou menos possível conter (o fungo) com medidas severas, mas isso não
significa que a doença não será transmitida", diz.
Temos
tecnologias mais avançadas agora do que tínhamos quando perdemos a Gros Michel",
complementa Kema. "Podemos detectar e rastrear o fungo muito melhor do que
antes, mas o problema persiste, pelo fato de que a Cavendish é muito vulnerável
à doença".
Outra banana
Daí
surge a segunda linha de atuação: achar uma banana não vulnerável ao fungo.
"Continuar
plantando a mesma banana é burrice", alerta Kema. "Podemos tentar
aperfeiçoar a Cavendish geneticamente. Mas, em paralelo, precisamos aumentar a
diversidade".
A
eventual extinção da banana traria impacto severo para a economia e a dieta de
vários países, lembram os pesquisadores.
Enquanto
isso, ainda distante da crise, a plantação de bananas iniciada por Joseph
Paxton em 1830 segue firme em Chatsworth, na Inglaterra, onde são colhidos de
30 a 100 cachos por ano.
"Elas
parecem mais com plântano, mais densas e não tão doces", comenta o atual
jardineiro, Steve Porter. "Mas ficam bonitas na decoração e são usadas
também em alguns pratos da casa. Equanto pudermos, vamos manter nossa
plantação".
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