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sábado, 18 de março de 2017

O QUE É O “EL NIÑO COSTEIRO” E POR QUE ELE PODE INDICAR UM FENÔMENO GLOBAL



Desde o fim de janeiro, fortes chuvas já afetaram milhares de pessoas e causaram sérios danos em casas e estradas no Peru e no Equador. A área não assistia a um desastre de tamanha proporção desde 1998.
Meteorologistas de todo o mundo observam a costa do Peru e do Equador. Direito de imagem EPA
Em uma única região peruana, Piura, há aproximadamente 15 mil atingidos, que têm sofrido com rios transbordando e o colapso dos sistemas de canalização. As principais áreas afetadas estão no norte do país, Tumbes, Piura e Lambayeque, mas os efeitos também podem ser vistos em La Libertad, Cajamarca, Ica e na capital Lima.
Enquanto isso, as enchentes já provocaram a morte de 14 pessoas e danificaram milhares de casas na costa do Equador - principalmente nas províncias de Chimborazo, Guayas, Los Rios e Manabí.
Essa situação se deve a um fenômeno que, por suas consequências, é parecido com o El Niño, mas que está localizado apenas ao longo das costas do Peru e Equador.
Por essa semelhança, cientistas peruanos o batizaram de "El Niño costeiro", e especialistas de todo o mundo observam o que ocorre ali. O motivo: trata-se de um sinal de que um El Niño de escala planetária pode estar se aproximando.
Aquecimento localizado
Durante o El Niño, a temperatura da água aumenta em toda a franja equatorial do oceano Pacífico até os Estados Unidos, e os efeitos são sentidos em todo o mundo: chuvas de monções fracas na Índia, invernos mais frios na Europa, tufões na Ásia e secas na Indonésia e na Austrália, entre outras calamidades.
Mas no "El Niño costeiro" o aquecimento ocorre apenas na zona costeira do Peru e Equador - as consequências, como chuvas torrenciais, se restringem apenas a esses territórios, explica o Comitê Multissetorial para o Estudo do Fenômeno do El Niño no Peru.
O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, visitou Piura, uma das regiões mais afetadas. Direito de imagem EPA
O fato de que a temperatura da água está aumentando sozinha na costa de ambos os países pode ser relacionado com correntes de vento que circulam nesta área.
No final de 2016, ventos do norte, provenientes da América Central, favoreceram o deslocamento de águas quentes para o sul. No caminho até a costa equatoriana e peruana, essa massa hídrica não encontrou nenhuma barreira, explica o meteorologista Nelson Quispe, diretor do departamento de previsão do Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru.
Os ventos costeiros que seguiam em direção oposta - do sul ao norte - ficaram enfraquecidos durante os primeiros dias de dezembro de 2016 e permitiram a entrada das águas quentes oriundas da América Central.
Chuvas intensas também deixaram rastro de destruição no Equador. 
Direito de imagem Secretaria de Gestão de Riscos do Equador
"Normalmente, o vento que vai do sul ao norte ajuda a levar a corrente marítima de Humboldt, que é fria. Mas como o vento enfraqueceu, a corrente também ficou mais leve", acrescenta Quispe.
O aquecimento atípico do mar na costa começou em meados de janeiro e já causou picos na temperatura da água de até 29ºC no Peru e de 28ºC no Equador.
"A temperatura normal no verão é 24ºC ou 25ºC. Agora, está quatro a cinco graus acima, e isso é que causa as chuvas (por forte evaporação da água)", explica Quispe.
Um requisito para que as autoridades peruanas confirmem a presença do "El Niño costeiro" é registrar essas mudanças por pelo menos três meses consecutivos.
Espera-se que as precipitações continuem neste mês e que diminuam apenas no final de abril, assinala Quispe.
Segundo o Ministério da Agricultura do Peru, 1,2 mil hectares de cultivo foram perdidos em Piura. 
Direito de imagem EPA
El Niño global?
A definição do "El Niño costeiro" foi criada pelo Comitê Multissetorial para o Estudo do Fenômeno do El Niño no Peru para analisá-lo e prevenir danos no país, explica Rodney Martínez, diretor de um centro similar no Equador.
Cientistas não acreditam que um El Niño esteja acontecendo em nível mundial, mas não descartam que isso ocorra nos próximos meses.
"(Para alguns cientistas) o que acontece no Equador e Peru é um aquecimento anormal no Pacífico oriental que provoca chuvas acima do nível normal. Mas não é reconhecido como um Niño. É um fenômeno bastante localizado, muito da nossa região", diz Martínez.
Mas ele adverte que, se o aquecimento no Pacífico oriental permanecer, pode ser um precursor para um El Niño global.
"Tudo o que acontece no Pacífico oriental afeta a pressão atmosférica em todo o Pacífico e contribui para uma potencial evolução até um El Niño", argumenta o diretor do centro equatoriano.
Medições de temperatura indicam aquecimento acima do esperado no Peru. 
Direito de imagem NOAA
"Não se observava essa intensidade (no aquecimento do Pacífico) há 18 anos. É um aquecimento atípico, pouco esperado e forte para a parte norte", emenda Martínez.
Meteorologistas estimam em 40% as chances de que um novo El Niño se desenvolva numa escala global.
Mas isso seria algo atípico, uma vez que já se registrou um fenômeno de grande intensidade entre 2015 e 2016, batizado de "El Super Niño" - por causa dele, as temperaturas mundiais bateram vários recordes.
Esperava-se que as águas equatoriais esfriassem nos últimos meses, dando lugar à "La Niña", algo que, até o momento, tem acontecido de forma intermitente.
Isso levou cientistas a rebatizarem "La Niña" como "La Nada", dado os poucos efeitos detectados.

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