Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O BAMBU E SUA UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL AO LONGO DO TEMPO

O Bambu surgiu na terra no período Cretáceo, ou pouco antes da era Terciária, quando surgiu o homem. É conhecido como a “Planta dos mil usos”, pois propicia a produção de alimentos, abrigo, calor, armas, utensílios domésticos, ferramentas agrícolas, artesanato, papel, tecido, cordas, e uma infinidade de aplicações.
Bambusa oldhamii
No século XVII a.C a China já contava com onze milhões de habitantes, e a população enfrentava problemas como a má distribuição de terras e grãos. Manchúria, região de exuberante geografia que abrigava extensas plantações de bambu, começou a utilizar o bambu para construir casas, pontes, móveis, ferramentas e uma infinidade de utensílios. Descobriram o uso do bambu na alimentação e na medicina através do cozimento dos brotos e da infusão de raízes; decifraram suas propriedades físicas e mecânicas, sua resistência à tração, compressão, flexão e construíram com a planta a cidade sagrada, a comunidade solidária. Com isto o nordeste da Manchúria ficou conhecido como “Civilização do Bambu”.
Muito tempo depois, em países como o Japão, Indonésia, Malásia, Coréia, Vietnã, Índia e tantos outros, o bambu, de planta sagrada, passou a ser reconhecido como protagonista social e até hoje exerce forte influência na economia, cultura, religiosidade e literatura oriental.
A partir de 684 a.C, o bambu se tornou fonte de muitas aplicações. Dele, os asiáticos obtém alimento, vestuário, moradia e medicamentos. Foi utilizado em grandes invenções como as pontes suspensas, cúpula dos templos, avião, helicóptero e motor a explosão.
No Brasil, por questões culturais, o bambu não é visto como um material de construção convencional, portanto sua aplicação torna-se difícil, pelo desconhecimento e pelo uso indevido. Porém se forem analisadas suas propriedades como, sua alta resistência mecânica, sua durabilidade e forem obedecidas às recomendações corretas de manejo e uso do material, o bambu poderá se apresentar como uma excelente alternativa para baratear as construções habitacionais populares. O uso desse material ecologicamente correto, possibilita a diminuição de gastos com energia na fabricação de componentes para a construção civil.
Além disso, o bambu possibilita, com o plantio em áreas degradadas, a recuperação do solo, a contenção da erosão e o aumento da umidade relativa do ar na região, dando suporte ao crescimento de espécies arbóreas nativas. Esta planta também contribui para o seqüestro de carbono na Terra (converte CO2 em O2), gerando mais oxigênio do que a mesma quantidade de árvores. Se o bambu desaparecesse de repente da face da Terra, aproximadamente 10% da população asiática ficaria desabrigada.
Suas propriedades físicas e mecânicas são extraordinárias, tanto que no ataque da bomba atômica em Hiroshima ele conseguiu sobreviver às radiações emitidas pelo impacto.
Bambusoideae, da família das gramíneas. As opiniões variam muito e novas espécies e variedades são acrescentadas ano a ano, mas calcula-se que existam cerca de 1250 espécies no mundo, espalhadas entre 90 gêneros, presentes de forma nativa em todos os continentes menos na Europa. Habitam uma alta gama de condições climáticas e topográficas.
As duas maiores plantações comerciais de bambu das Américas estão no Nordeste brasileiro. Uma no Maranhão e a outra em Pernambuco. Juntas alcançam aproximadamente 40 mil hectares. Na região Sudeste, no interior de São Paulo e Paraná, existem muitos cultivadores de Mosô, descendentes dos imigrantes japoneses que trouxeram esta e outras variedades de bambu para o Brasil.
De todos os materiais renováveis utilizados na construção ecológica, o bambu se destaca, por várias razões. Mas principalmente porque é um recurso renovável, com baixo custo de produção e pouco poluente. A partir do terceiro ano após o plantio, o bambu pode ser colhido anualmente - uma árvore demora no mínimo 20 anos para poder ser aproveitada na produção de madeira ou carvão. A utilização do bambu como substituto da madeira pouparia milhões de árvores por ano e, além disso, ele pode ser plantado em áreas onde a agricultura é inviável.
Na Colômbia, ele é utilizado para construir casas resistentes a terremotos. O bambu também pode ser utilizado nas construções, como alternativa ao tijolo, sem função estrutural, apenas para o fechamento de paredes. O bambu pode aparecer em dois tipos de sistema construtivo: como uma taipa (estrutura de bambu amarrado entre si, com acabamento de barro ou cimento que pode ser emassado e pintado), ou como esterilha (estrutura em varas de bambu, fechamento em esteiras de lascas de bambu amarradas e acabamento em cimento, emassado e pintado)
O SEBRAE de Três Rios (RJ) e a ONG RECICLA montaram uma fábrica de casas populares de bambu+cimento+borracha de pneu+cal+bambu moído. O sistema é modular (de encaixes macho e fêmea) com blocos de 50cmx100cmx9cm, muito rápido de montar e custa pouco mais da metade de uma casa de tijolos de barro. O sistema foi desenvolvido pelo Engenheiro Civil Edson Satori, o Arquiteto e Rubens Cardoso Jr. e o Arquiteto Alejandro Pereira da Silva.
Buscar soluções para um mundo mais sustentável há tempos saiu da esfera pública
As possibilidades técnicas do bambu são muitas, limitadas pelas características inerentes do material, que pode ser aliado a outros materiais perfazendo equilíbrio de funções, e multiplicadas pela imaginação e inventividade dos construtores. O bambu é leve, suavemente cônico, resistente, econômico e sustentável.
De modo geral o bambu pode substituir o aço e a madeira em colunas, vigas e demais elementos passíveis de serem utilizados em formato cilíndrico ou tubular. Uma estrutura bem planejada pode resistir as ações de ventos fortes. A triangulação das estruturas de bambus inteira nas paredes, adicionada com malhas rebocadas, resulta em paredes bastante resistentes.
O alto potencial socializador do bambu já justificaria sua aplicação nos mais diversos casos. Essa planta é cada vez mais tida como significativa para o desenvolvimento de países pobres. Recentes programas de habitação, por exemplo, no Equador, na Colômbia e na Costa Rica, já incluem o bambu como principal material nas edificações. É cada vez maior o número de arquitetos latino-americanos defendendo a utilização do bambu nas mais diversas situações, pois ele não é limitador de criações únicas e modernas.
Artefatos e construções que utilizaram o bambu
Não há dúvidas de que o bambu é um material que pode auxiliar o homem na superação de muitos problemas, desde os relativos à sobrevivência, oferecendo meios de construção de casas, objetos e diversos utensílios, até os mais sofisticados, que lidam com a estética e o prazer do convívio com materiais naturais de beleza incontestável.


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