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terça-feira, 5 de abril de 2016

CIENTISTAS DESCOBREM NOVA ESPÉCIE DE JARARACA EM ILHA CAPIXABA



Pesquisadores brasileiros acabam de descrever uma nova espécie de jararaca. O nome dela é Bothrops sazimai e ela só existe numa pequena ilha de 15 hectares no sul do Espírito Santo: a Ilha dos Franceses. É a quarta espécie de jararaca insular descrita no Brasil nos últimos 10 mil anos, desde que as ilhas do Sudeste foram isoladas do continente pela elevação do nível do mar.
Bothrops sazimai. Foto: Ricardo Sawaya
Pesquisadores brasileiros acabam de descrever uma nova espécie insular de jararaca. O nome dela é Bothrops sazimai, e ela só existe numa pequena ilha de 15 hectares ao largo da costa sul do Espírito Santo: a Ilha dos Franceses, em frente à praia de Itaoca, município de Itapemirim.
Essa é a quarta espécie de jararaca insular já descrita no Brasil. As outras são a Bothrops alcatraz (ou jararaca-de-alcatrazes, só encontrada na ilha de Alcatrazes, em São Paulo), a Bothrops insularis (ou jararaca-ilhoa, que só existe na ilha de Queimada Grande, em São Paulo), e a Bothrops otavioi (endêmica da Ilha Vitória, também no litoral norte paulista).
Todas são diferentes entre si e distintas da jararaca comum do continente (a Bothrops jararaca), considerada a espécie ancestral, da qual elas se separaram depois que as ilhas foram isoladas pela elevação do nível do mar.
Durante o Pleistoceno, entre 12 mil e 10 mil anos atrás, o oceano estava 60 metros mais raso do que é hoje, e todas essas ilhas que vemos das praias no Sudeste estavam conectadas ao continente. Naquela época, era tudo floresta, tudo Mata Atlântica, daqui até lá. Quando o nível do mar voltou a subir, as populações de jararaca que ficaram isoladas nessas ilhas passaram por um processo de especiação, que acabou tornando-as diferentes. Todas elas ficaram menores do que a espécie original do continente (pela limitação de espaço e alimento), e cada uma teve que se adaptar às condições naturais e à disponibilidade de comida em cada uma das ilhas.
Alcatrazes e Queimada Grande, por exemplo, são ilhas montanhosas, com grandes costões rochosos e bolsões de floresta, enquanto que a Ilha dos Franceses é uma ilhota chata, dominada por arbustos. São hábitats significativamente diferentes. Os pesquisadores avaliaram 58 serpentes da nova espécie (das quais apenas 5 foram coletadas e levadas da ilha, para serem depositadas em museus de história natural). O tamanho médio da Bothrops sazimai é 57 cm para machos e 62 cm, para fêmeas.
Ilha dos Franceses, no ES, é o único lugar onde a espécie existe. Imagem
Herton Escobar/via Google Earth
Diferenças
Segundo os pesquisadores: “A nova espécie difere das populações continentais de B. jararaca principalmente pelo menor tamanho, maior comprimento relativo de cauda, menor comprimento relativo da cabeça e olhos relativamente maiores. Diferencia-se também de B. alcatraz, B. insularis e B. otavioi pelo maior número de escamas ventrais e subcaudais, maior comprimento relativo de cauda e menor comprimento relativo de cabeça. A nova espécie é encontrada em grande abundância na ilha, sendo noturna, semi arborícola, e se alimenta de pequenos lagartos e centopeias.”
O trabalho que descreve a espécie, publicado na revista Zootaxa, é assinado por oito pesquisadores (da USP, UFES, ICMBio e Unifesp), liderados por Fausto Barbo, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, e Ricardo Sawaya, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Paulo.
Eles propõem que a espécie seja classificada como “criticamente ameaçada de extinção”, por ocorrer numa área extremamente restrita e vulnerável, e que a Ilha dos Franceses seja transformada em uma área protegida, para garantir sua sobrevivência. Afinal, um incêndio na ilha poderia dizimar a espécie — e ela fica a menos de 4 km do continente.
O nome Bothrops sazimai é uma homenagem ao professor Ivan Sazima, da Unicamp, considerado por muitos um dos zoólogos mais influentes e mais queridos do Brasil.
Bothrops sazimai: Espécie também tem hábitos arborícolas. Foto: Ravel Zorzal

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