Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

POR QUE OS HUMANOS QUE MIGRARAM DA ÁFRICA PARA A EUROPA FICARAM BRANCOS HÁ MILHARES DE ANOS


Esqueleto de 10 mil anos mostra que a pigmentação da pele era de escura a negra
estudo do esqueleto humano mais antigo encontrado no Reino Unido contradiz a crença popular de que a maioria dos europeus sempre teve a cor da pele branca.

Pele negra e olhos azuis: assim era o primeiro britânico 10 mil anos atrás. - BBC
Uma análise genética do esqueleto de 10 mil anos revelou que a pigmentação de sua pele era de "escura a negra". O fóssil ficou conhecido como "homem de Cheddar" em virtude do local onde ele foi encontrado, em Cheddar, no Reino Unido.

Seu rosto foi reconstruído graças a um scanner de alta tecnologia e mostra um fenótipo totalmente oposto à pele branca que caracteriza muitos dos britânicos.
"A combinação de uma pele muito escura com olhos azuis não é o que normalmente imaginamos, mas essa era a aparência real dessas pessoas", diz Chris Stringer, do Museu de Ciências Naturais de Londres, onde a imagem do "homem de Cheddar" foi exposta, na quarta-feira (7).
Segundo Yoan Dieckmann, da equipe da UCL (University College London), responsável pelo estudo, a pele clara que associamos aos europeus modernos, principalmente do norte, seria um fenômeno relativamente recente.
Então em que momento a pele desses ancestrais começou a mudar de cor e por que isso aconteceu?
MIGRAÇÃO DA ÁFRICA
Segundo especialistas, existem dois fatores principais que explicam essa transformação.

Chris Stringer, do Museu de Ciências Naturais de Londres, estudou o "homem de Cheddar" por mais de 40 anos. - BBC

O primeiro deles é a mobilidade geográfica das populações modernas, que estavam na África há 150 mil anos e tinham pele escura. 
"Aquelas populações, que seriam nossos ancestrais diretos, começaram a migrar. Elas chegaram na Europa, por exemplo, há cerca de 45 mil anos", explica Víctor Acuña, professor da Escola Nacional de Antropologia e História do México.
Alguns estudos genéticos concluíram que a pigmentação da pele mais clara começou a ficar mais comum em algumas regiões europeias por volta de 25 mil anos atrás.
A descoberta do "homem de Cheddar", que viveu há 10 mil anos, indica que esse embranquecimento só ocorreu muito tempo depois em locais como as ilhas britânicas.

Mapa mostrando a distância entre Londres e Cheddar - BBC
Em 2014, análises de outros fósseis humanos de 7.000 anos encontrados em León, na Espanha, concluíram que os restos também pertenciam a um homem de pele negra e olhos azuis.

PROTEÇÃO CONTRA O SOL
O segundo fator, e o mais importante, é aquele que explica por que ao atingir essas áreas do planeta a pele dos humanos tende a clarear.
"Os seres humanos, diferente de outros primatas, têm muito pouco pelo no corpo. Por isso pensamos que a pigmentação da pele era uma barreira aos efeitos negativos dos raios ultravioletas que é tão intensa na África", diz Acuña.

A cor escura da pele protegia o "homem de Cheddar" aos efeitos nocivos do sol - PA


Quando migraram para regiões no norte do planeta, onde os raios solares são muito mais escassos, elas não precisavam mais da pigmentação, uma proteção natural contra possíveis queimaduras e doenças como o câncer de pele.
Como explica Acuña, "em zonas com pouco sol, ter cor da pele mais clara permitia uma melhor absorção da luz ultravioleta, que é vital para a obtenção de vitamina D".
Isso explica por que, na própria Europa, as diferenças na cor da pele começaram a ocorrer. As peles mais claras tornaram-se mais frequentes no norte, enquanto no sul a população apresentava tons mais variados.
Em suma, a cor da pele desempenhou um papel fundamental na época em que essas gerações poderiam se adaptar ao ambiente de forma natural.
10% DE ANTEPASSADOS
Com essa explicação, é óbvio que essa característica da evolução humana não se reduz somente aos ancestrais dos britânicos.
De fato, como destaca Acuña, essa tendência a uma pigmentação cada vez mais clara não foi registrada apenas entre aqueles que chegaram ao norte da Europa.

O esqueleto do "homem de Cheddar" foi encontrado há mais de um século. - EPA

"Os estudos indicam que processos evolutivos similares ocorreram também em populações que chegaram ao leste da Ásia e da África. Nesses locais também houve notáveis mudanças na pigmentação da pele das pessoas", diz o professor Acuña.
O especialista confirma que a atual população da Europa poderia ser portadora de não mais de 10% dos genes dos antepassados do grupo ao qual pertence o "homem de Cheddar".
"Aquela primeira população teve contato com outras, que migraram posteriormente. Essas 'desapareceram' como cultura arqueológica ao ser assimilada por outros grupos", disse Acuña à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Estima-se que o "homem de Cheddar" migrou da Europa continental para as ilhas britânicas ao final da Era de Gelo.
Seus restos foram encontrados em uma caverna próxima a Cheddar, na Inglaterra, em 1903, mas apenas com os avanços tecnológicos do século 21 os cientistas conseguiram conhecer os primeiros ingleses.
Fonte: BBC

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