A Times Square de Nova York ainda
terá neve em 2050?
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Um
"snowmageddon", ou armagedon de neve, se tornou quase uma tradição
anual nos Estados Unidos. Hoje é difícil ver um ano sem alguém, em algum lugar,
em meio a uma intensa tempestade de neve. Os "sortudos" mais recentes
foram os moradores de Nova York.
Considerando
que o mundo está cada vez mais quente em decorrência das mudanças climáticas
por ação humana, esse fenômeno pode parecer estranho para alguns. Se o mundo
está esquentando, essas nevascas não deveriam ser mais raras?
Uma
resposta – que sempre aparece depois de uma forte tempestade de neve – é dizer
que o aquecimento global é um "mito".
Mas
mesmo se você concordar com o amplo consenso científico sobre a realidade da
mudança climática, a força das nevascas ainda pode ser algo intrigante. Talvez
o planeta ainda não tenha esquentado o suficiente para derreter toda a neve?
A
resposta verdadeira é bem surpreendente. Nevascas extremas são uma consequência
esperada de um mundo mais quente.
Pode
parecer paradoxal, mas isso porque costumamos acreditar que o clima frio é a
única condição para a neve.
Na
verdade, nevascas precisam de algo mais para acontecer: uma boa quantidade de
umidade atmosférica. Em geral, essa umidade se forma em massas de ar quente,
porque a atmosfera pode comportar 7% mais vapor d’água sempre que a temperatura
sobe 1ºC.
Tais
bolsões de ar quente se tornaram mais comuns com a mudança climática, e ajudam
a explicar o que ocorreu na costa leste dos EUA neste inverno no hemisfério
Norte.
Em
parte por consequência do aquecimento global, o oceano Atlântico é mais quente
hoje do que há algumas décadas. O resultado é que o ar sobre o Atlântico também
está mais quente e úmido.
Quando
esse ar quente encontrou o ar frio e seco do Ártico, formou-se uma tempestade
de inverno – e estavam dadas as condições para uma nevasca gigantesca.
Imagem de satélite mostra a dimensão da última
nevasca nos EUA
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Daqui
em diante, a costa leste dos EUA pode esperar eventos climáticos extremos por
muitos anos, porque os ingredientes para os "armagedons de neve" irão
continuar a ocorrer. O oceano Atlântico seguirá abastecendo a região com ar
quente e úmido no inverno e o Ártico manterá suas remessas de ar frio e seco
para o sul.
"É
possível que em 30 anos o Ártico perca todo o gelo por pequenos períodos no
pico do verão, mas no inverno a região continuará congelada", diz Kevin
Trenberth, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, em Boulder
(EUA). "Então o ar frio continental continuará a se formar."
Mudanças
climáticas, porém, são complexas. Mesmo se um planeta mais quente ajuda a criar
condições para nevascas extremas em algumas regiões, isso não significa
necessariamente que haverá mais neve como um todo.
"Na
comparação com as precipitações anuais de neve, eventos extremos de neve
respondem de forma diferente à mudança do clima", afirma Paul O’Gorman, do
MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Em
um estudo de 2014, O'Gorman usou modelos computacionais para investigar como
nevascas moderadas e intensas no hemisfério norte poderão mudar de padrão no
final do século, caso as emissões de gases estufa continuem altas.
Para
regiões localizadas a menos de 1000 metros acima do nível do mar e que costumam
ter temperaturas abaixo de zero no inverno, a conclusão é que as chances de
nevascas extremas irão cair, em média, apenas 8%. Mas o total de neve a atingir
essas áreas em cada inverno pode cair até 65% em média.
"Há
regiões em que o total de neve estacional deverá cair, enquanto a intensidade
de nevascas extremas não mudará muito, ou ate crescerá", afirma O'Gorman.
A tempestade deixou o leste dos EUA coberto em
branco
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A
própria estação de neve também deverá diminuir no futuro. O começo e o fim do
inverno serão mais quentes no hemisfério Norte, então, segundo Trenberth,
qualquer precipitação nesses períodos será em forma de chuva, e não de neve.
Em
outras palavras, clima com neve poderá de fato ser mais raro no futuro, e a
estação em que a neve se forma será mais curta, mas os "armagedons"
de gelo deverão ser tão intensos como os de hoje.
Essa
é uma má notícia para negócios que dependem da neve. "Muitos resorts de
neve da costa leste dos EUA sairão do mercado por força da natureza mais
esporádica das tempestades de neve, a não ser que encontrem novas
oportunidades", prevê Trenberth.
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