Esta foto foi escolhida pela BBC 28 de setembro, 2012 como uma das 20 mais bonitas

Sejamos proativos nas questões relacionadas às mudanças climáticas, pois não seremos poupados de seus efeitos devastadores a curto e longo prazo.
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quinta-feira, 25 de maio de 2017

MECANISMO DE ANTIKYTHERA: O OBJETO MAIS MISTERIOSO DA HISTÓRIA DA TECNOLOGIA



Se não fosse uma forte tempestade na ilha grega de Anticítera (ou originalmente, Antikythera), há mais de um século, um dos objetos mais desconcertantes e complexos do mundo antigo muito provavelmente jamais teria sido descoberto.
Frágil, intrigante e cheio de surpresas: item 15.087 do Museu Arqueológico Nacional em Atenas
Após buscar abrigo na ilha, um grupo de catadores de esponjas marinhas decidiu tentar a sorte naquelas águas. Eles acabaram encontrando os restos de uma galé romana que havia naufragado havia dois mil anos, quando o Império Romano começou a conquistar as colônias gregas no Mediterrâneo.
Nas areias do fundo do mar, a 42 metros de profundidade, estavam itens de grande valor. De início, as peças, danificadas após anos no mar, ficaram esquecidas. Mas em seguida um olhar mais atento mostrou que eram objetos feitos com esmero, engrenagens talhadas à mão.
Um tesouro no fundo do Mediterrâneo.
Obras incomparáveis que sobreviveram aos saques feitos por romanos e à ação da água
Entre belas estátuas de cobre e mármore, estava o objeto mais intrigante da história da tecnologia. Trata-se de um instrumento de bronze corroído, do tamanho de um laptop moderno, feito há 2 mil anos, na Grécia antiga. É conhecido como máquina (ou mecanismo) de Anticítera.
"Se não tivessem descoberto a máquina, ninguém teria imaginado, ou nem mesmo acreditado, que algo assim existisse, pois é muito sofisticada", disse à BBC o matemático Tony Freeth, da Universidade de Cardiff. "É um mecanismo de genialidade surpreendente".
Há divergências sobre a data exata da descoberta, mas isto teria ocorrido entre 1900 e 1902.
No começo o artefato não dizia nada aos cientistas, mas eles logo notaram que as peças traziam marcas e inscrições
"Imagine: alguém, em algum lugar da Grécia antiga, fez um computador mecânico", afirma o físico grego Yanis Bitzakis.
Ambos integram a equipe internacional que investigava o artefato. E eles não estão exagerando nas descrições. Levou cerca de 1,5 mil anos até que algo parecido com a máquina de Anticítera voltasse a aparecer, na forma dos primeiros relógios mecânicos astronômicos, na Europa.
Vanguarda
Em 1950, o físico inglês Derek John de Solla Price foi o primeiro a analisar em detalhes os 82 fragmentos recuperados. Anos depois, em 1971, juntamente com o físico nuclear grego Charalampos Karakalos, foram feitas imagens das peças com raios-X e raios gama, que mostraram como o mecanismo era complexo: com 27 rodas de engrenagem no seu interior.
A primeira surpresa: o mecanismo era formado por 27 engrenagens
Os especialistas conseguiram datar algumas outras peças com precisão, entre os anos 70 a.C. e 50 a.C. Mas um objeto tão extraordinário não podia ser daquela época, pensavam os especialistas. Talvez fosse mais moderno e tivesse caído no mesmo local por casualidade.
"Se cientistas gregos antigos podiam produzir esses sistemas de engrenagens há dois milênios, toda a história da tecnologia do Ocidente teria que ser reescrita", diz o matemático Freeth.
Números que começaram a surgir coincidiam com os conhecimentos dos gregos da época
127 e 235 dentes
Solla Price deduziu que contar os dentes em cada roda poderia fornecer pistas sobre as funções da máquina. Ele, então, chegou a dois números que fazem sentido na astronomia: 127 e 235.
"Esses dois números eram muito importantes na Grécia antiga", diz o astrônomo Mike Edmunds.
Os gregos sabiam como os corpos celestes se moviam no espaço, podiam calcular suas distâncias da Terra e a geometria de suas órbitas.
Os 19 anos solares são exatamente 235 meses lunares, o chamado ciclo Metônico - um dos números encontrados no artefato. Já o outro número, 127, mostrava as revoluções (ou movimentos elípticos) da Lua ao redor da Terra.
Seria possível que os gregos antigos estivessem usando a máquina para seguir o movimento da Lua?
As contas não fechavam se apenas um ano solar fosse levado em conta, mas em um ciclo de 19 anos...
As fases da Lua eram extremamente úteis na época dos gregos antigos. Com base nelas, determinavam-se épocas de plantio, estratégias de batalha, festas religiosas, momentos de pagar dívidas e autorizações para viagens noturnas.
Price desvendou o artefato após 20 anos de intensas pesquisas, mas ainda havia peças do quebra-cabeça por encaixar.
Engrenagens identificadas pelos cientistas não estavam encaixadas, e montar o quebra-cabeças demandou muito trabalho
O futuro 223
O passo seguinte demandou tecnologia sob encomenda. A equipe dedicada a estudar a máquina convenceu o engenheiro de raios-X Roger Hadland a criar um equipamento especial para fazer imagens do mecanismo. Com isso, encontraram outro número chave: 223 era o número de outra roda do mecanismo.
Por volta de 600 a.C., astrônomos babilônios antigos descobriram o ciclo de Saros, no qual a Lua e a Terra voltavam a se encontrar a cada período de 223 luas (18 meses e 11 dias), o que prevê a ocorrência de eclipses.
A máquina de Anticítera, portanto, podia prever eclipses. Não apenas o dia, mas a hora, direção da sombra e cor com a qual a Lua apareceria.
Graças a milhões de tabelas com dados históricos que arquivaram ao longo do tempo, babilônios encontraram o padrão dos eclipses
"Quando havia um eclipse lunar, o rei babilônio deixava o posto e um substituto assumia o poder, de modo que os maus agouros fossem para ele. Logo o substituto era morto e o rei voltava a assumir sua posição", conta John Steele, especialista sobre a Babilônia no Museu Britânico.
Informações sobre eclipses que pesquisadores encontraram na máquina de Anticítera são surpreendentemente sofisticadas
Tudo dependia da Lua
Os pesquisadores chegaram a mais uma maravilha.
O ciclo Saros depende do padrão da Lua, mas "nada sobre a Lua é simples", diz Freeth.
"A Lua tem a órbita elíptica, assim ela viaja mais rapidamente quando está mais perto da Terra", exemplifica.
Podia então a máquina de Anticítera rastrear o caminho flutuante da Lua?
Um mecanismo complexo para desvendar os caprichos da Lua
Sim, podia: duas engrenagens menores, uma delas com uma pinça para regular a velocidade de rotação, replicavam com precisão o tempo da trajetória que o satélite natural executa ao redor da Terra; e outra, com 26 dentes e meio, computava o deslocamento dessa órbita.
Ao examinar a parte frontal do aparelho, os investigadores concluíram que ele demonstrava como os gregos entendiam o Universo naquele momento: a Terra no centro e cinco planetas ao redor.
O movimento dos cinco planetas que podiam ser vistos a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno
"Era uma ideia extraordinária: pegar teorias científicas da época e mecanizá-las para ver o que aconteceria dias, meses e décadas depois", diz o matemático.
Mais um enigma
"Essencialmente, foi a primeira vez que a raça humana criou um computador", acrescenta Freeth. "É incrível como um cientista daquela época descobriu como usar engrenagens para rastrear os complexos movimentos da Lula e dos planetas".
Mas quem foi esse cientista?
Uma pista estava em outra função da máquina.
O aparelho também previa a data exata dos Jogos Pan-Helênicos: quatro festivais separados que se realizavam periodicamente na Grécia Antiga: Jogos Olímpicos, ou de Olímpia, Jogos Píticos, Jogos Ístmicos e Jogos Nemeus.
O curioso é que embora os Jogos de Olímpia tivessem mais prestígio, os Jogos Ístmicos, em Corinto, apareciam em letras maiores.
Chamava a atenção o destaque aos jogos que eram celebrados no istmo de Corinto a cada dois anos, em homenagem a Poseidon, deus grego do mar
Os investigadores já tinham notado que os nomes dos meses que apareciam em outra engrenagem da máquina eram coríntios.
As evidências sugeriam que o criador da máquina era um coríntio que vivia na colônia mais rica governada pela cidade: Siracusa.
Siracusa era lar do mais brilhante dos matemáticos e engenheiros gregos: Arquimedes.
Trata-se, talvez, do cientista mais importante da Antiguidade clássica, que determinou a distância da Terra à Lua, descobriu como calcular o volume de uma esfera, o número fundamental π (Pi) e havia garantido que moveria o mundo com apenas uma alavanca.
"Só um matemático brilhante como Arquimedes poderia ter desenhado a máquina de Anticítera", opina Freeth.
"Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo". Direito de imagem Getty Images
Sabe-se que Arquimedes estava em Siracusa quando os romanos conquistaram a cidade, e que o general Marco Claudio Marcelo havia ordenado que o cientista não fosse morto, mas um soldado acabou assassinando-o.
Siracusa foi saqueada e seus tesouros foram enviados a Roma. O general Marcelo levou consigo duas peças - ambas, diziam, eram de Arquimedes. Os investigadores acreditam que fossem versões anteriores da máquina.
Um indício está em uma descrição que o orador Cícero fez, séculos depois, de uma das máquinas que ele observou de Arquimedes:
"Arquimedes encontrou a maneira de representar com precisão, em apenas um aparato, os variados e divergentes movimentos dos cinco planetas com suas distintas velocidades, de modo que o mesmo eclipse ocorre no globo (planetário) e na realidade".
Cícero descreveu um planetário semelhante ao da máquina de Anticítera
Mas o que aconteceu com a brilhante tecnologia da máquina? Por que ela se perdeu?
Como tantas outras coisas, com a queda da civilização grega e, mais tarde, da romana, os conhecimentos "imigraram" para o Oriente, onde foram mantidos por bizantinos e árabes eruditos.
O segundo artefato com engrenagens de bronze mais antigo é do século 5 e tem inscrições em árabe.
E no século 8, os mouros levaram esses conhecimentos de volta à Europa. 
Todas as peças para introduzir os conhecimentos em uma só máquina
Investigações anteriores apontaram que a máquina estava dentro de uma caixa de madeira que não sobreviveu ao tempo.
Uma caixa que continha todo o conhecimento do planeta, tempo, espaço e Universo.
"É um pouco intimidador saber que, logo antes da queda de sua grande civilização, os gregos antigos tinham chegado tão perto de nossa era, não apenas em pensamento, mas na tecnologia científica", disse Derek J. de Solla Price. 
Máquina revela o incrível desenvolvimento tecnológico da Grécia Antiga
  • O texto foi originalmente publicado no dia 3 de julho de 2016 e atualizada no dia 17 de maio de 2017. BBC

COMO O DERRETIMENTO DE GELEIRAS ESTÁ LEVANDO AO RESSURGIMENTO DE DOENÇAS “ADORMECIDAS”



Seres humanos, bactérias e vírus têm coexistido ao longo da história. Da peste bubônica à varíola, nós evoluímos para resistir a eles, e em resposta eles desenvolveram novas maneiras de nos infectar.
As mudanças climáticas podem trazer de volta à vida antigos vírus e bactérias que já não existiam mais. Direito de imagem Staffan Widstrand/naturepl.com
Já faz mais de um século que temos os antibióticos, desde que Alexander Fleming descobriu a penicilina. Mas as bactérias não deixaram por menos: elas responderam evoluindo sua resistência aos antibióticos. A batalha parece sem fim: nós passamos tanto tempo com patógenos, que às vezes desenvolvemos um tipo de impasse natural.
No entanto, o que aconteceria se nós, de repente, ficássemos expostos a bactérias e vírus mortais que ficaram ausentes por milhares de anos - ou então que nunca vimos antes?
É possível que estejamos perto de descobrir que aconteceria. As mudanças climáticas estão derretendo o solo da região do ártico que existiram ali por milhares de anos e, conforme o solo derrete, ele vai liberando antigos vírus e bactérias que, depois de ficarem tanto tempo "dormentes", voltam à vida.
Em agosto de 2016, em uma região remota da tundra da Sibéria chamada Península Iamal no Círculo Ártico, um garoto de 12 anos morreu e pelo menos 20 pessoas foram hospitalizadas após terem sido infectadas por antraz.
A teoria é que, há mais de 75 anos, uma rena infectada com antraz morreu e sua carcaça congelada ficou presa sob uma camada de solo também congelado, chamado de permafrost. Lá ela ficou até a onda de calor que invadiu a região no verão de 2016 - e derreteu o permafrost.
Isso expôs a carcaça da rena infectada e liberou o vírus para a água e para o solo do local - e, consequentemente, para os alimentos que as pessoas que viviam lá comiam. Mais de 2 mil renas nasceram infectadas ali, e houve um número menor de casos em humanos.
O medo agora é que esse não tenha sido um caso isolado.
Conforme a Terra vai aquecendo, mais camadas do permafrost vão derretendo. Sob circunstâncias normais, cerca de 50cm das camadas de permafrost mais superficiais derretem no verão. Mas com o aquecimento global, camadas mais profundas e antigas têm derretido também.
O permafrost congelado é o lugar perfeito para as bactérias se manterem vivas por um longo período de tempo, talvez até um milhão de anos. Isso significa que o derretimento das geleiras pode abrir a caixa de pandora das doenças.
Renas migrando na região da Sibéria. Direito de imagem Eric Baccega/naturepl.com
A temperatura no Círculo Ártico está aumentando rapidamente, cerca de 3 vezes mais rápido do que no resto do mundo. Conforme o permafrost derrete, outros agentes infecciosos podem ser liberados.
"O permafrost é um bom lugar para preservar micróbios e vírus, porque ele é frio, não tem oxigênio e é escuro", explica o biólogo evolucionista Jean-Michel Claverie da Universidade Aix-Marseille, na França.
"Vírus patogênicos que podem infectar humanos ou animais podem ser preservados em camadas antigas de permafrost, inclusive alguns que podem ter causado epidemias globais no passado."
Só no início do século 20, mais de um milhão de renas morreram por causa de infecção por antraz. Não é fácil cavar tumbas muito profundas, então a maioria das carcaças dos animais são enterrados perto da superfície, espalhados pelos 7 mil cemitérios no norte da Rússia.
No entanto, o maior medo é o que mais pode estar escondido sob o solo congelado.
Pessoas e animais têm sido enterrados em permafrost por séculos, então é plausível dizer que outros agentes patogênicos e doenças infecciosas podem ser desencadeados se o derretimento do solo continuar. Por exemplo, cientistas descobriram fragmentos de RNA da gripe espanhola de 1918 em corpos enterrados em valas comuns na tundra do Alasca. A varíola e a peste bubônica também podem estar enterradas na Sibéria.
Em um estudo em 2011, Boris Revich e Marina Podolnaya escreveram: "Como consequência do derretimento do permafrost, vetores de doenças infecciosas mortais dos séculos 18 e 19 podem voltar, especialmente próximo aos cemitérios onde as vítimas dessas infecções foram enterradas."
Por exemplo, na década de 1890, houve uma epidemia grande de varíola na Sibéria. Uma cidade perdeu praticamente 40% de sua população. Seus corpos foram enterrados sob o permafrost nas margens do rio Kolyma. Cerca de 120 anos depois, a enchente do rio começou a erodir as margens e o derretimento do permafrost acelerou o processo de erosão.
Em um projeto que começou nos anos 1990, cientistas do Centro Estadual de Pesquisa de Virologia e Biotecnologia em Novosibirsk analisaram os restos de pessoas da Idade da Pedra que foram encontrados no sul da Sibéria, na região de Gorny Altai. Eles também testaram amostras de cadáveres de homens que haviam morrido durante epidemias virais no século 19 e foram enterrados no permafrost russo.
Direito de imagem Wild Wonders of Eu
Os pesquisadores dizem que eles encontraram corpos com feridas características das marcas deixadas pela varíola. Eles não chegaram a encontrar o vírus da varíola em si, mas detectaram fragmentos de seu DNA.
Certamente não é a primeira vez que uma bactéria congelada voltou à vida.
Em um estudo de 2005, cientistas da Nasa ressuscitaram com sucesso bactérias que haviam ficado "guardadas" em um lago congelado no Alasca por 32 mil anos. Os micróbios, chamados Carnobacterium pleistocenium, estavam congelados desde o período Pleistoceno, quando mamutes lanosos ainda vagavam pela Terra. Quando o gelo derretia, eles começavam a nadar ao redor, sem parecer afetados.
Dois anos depois, cientistas conseguiram ressuscitar bactérias de 8 milhões de anos que havia ficado adormecidas no gelo, sob a superfície glacial nos vales Beacon e Mullins na Antártica. No mesmo estudo, bactérias de 100 mil anos foram ressuscitadas.
No entanto, nem todas as bactérias podem voltar à vida depois de terem sido congeladas em permafrost. A bactéria do antraz consegue porque ela têm esporos, que são muito resistentes e podem sobreviver por mais de um século.
Outra bactéria que pode formar esporos e, consequentemente, sobreviver no permafrost, é a do tétano e a Clostridium botulinum, responsável pelo botulismo - uma doença rara que pode causar paralisia e até mesmo se tornar fatal. Alguns fungos e vírus também podem sobreviver nesse time de ambiente por mais tempo.
Em um estudo de 2014, uma equipe conseguiu ressuscitar dois vírus que estavam no permafrost da Sibéria por 30 mil anos. Conhecidos como Pithovirus sibericum and Mollivirus sibericum, eles são dois vírus gigantes, porque ao contrário da maioria dos outros, eles conseguem ser vistos sem microscópios. Eles foram encontrados a 30 metros de profundidade na tundra costal.
Uma vez "vivos" de novo, esses vírus se tornaram rapidamente infecciosos. Para a nossa sorte, esses vírus em particular somente infectam seres monocelulares, como amebas. No entanto, o mesmo estudo sugere que outros vírus - que podem infectar humanos - podem ser ressuscitados da mesma forma.
E não é só o aquecimento global que pode derreter diretamente o permafrost para termos uma ameaça. Isso porque o gelo do Mar Ártico está derretendo, então a costa norte da Sibéria se tornou mais acessível pelo oceano. Como resultado disso, a exploração industrial, incluindo a exploração de minas por ouro e minerais, e a própria exploração de petróleo e gás natural estão se tornando agora mais lucrativas.
Os esporos do antraz podem sobreviver por muito tempo. Direito de imagem Cultura RM/Alamy
"Neste momento, essas regiões estão desertas e as camadas mais profundas de permafrost são deixadas em paz", explicou Claverie. "No entanto, essas camadas mais antigas podem ser expostas por escavações de minas ou por perfurações de petróleo. Se vírus ou bactérias ainda estiverem lá, isso poderia abrir as portas para um desastre."
Vírus gigantes podem ser os principais culpados por uma grande epidemia.
"A maioria dos vírus são rapidamente desativados fora de células hospedeiras por conta da luz, dissecação ou degradação bioquímica espontânea", diz Claverie. "Por exemplo: se o DNA dele sofre danos impossíveis de serem reparados, o vírus não será mais infeccioso. No entanto, entre os vírus conhecidos, o vírus gigante tende a ser mais resistente e quase impossível de quebrar."
Claverie afirma que vírus dos primeiros humanos a habitarem o Ártico podem ressurgir. Poderíamos até mesmo ver vírus de espécies humanas há muito tempo extintas, como o Neanderthal e Denisovan, que se estabeleceram na Sibéria e foram infectados com várias doenças virais. Restos do homem de Neanderthal de 30-40 mil anos atrás foram encontrados na Rússia. Populações humanas viveram ali por milhares de anos - adoeceram ali e morreram ali.
"A possibilidade de nós pegarmos um vírus de um Neanderthal há muito tempo extinto sugere que a ideia de que um vírus pode ser erradicado do planeta é errada, e nos dá um falso senso de segurança", pontua Claverie. "E é por isso que deveríamos manter estoques de vacina, para caso voltemos a precisar delas um dia."
Desde 2014, Claverie analisa os DNAs de camadas de permafrost, buscando características genéticas de vírus e bactérias que poderiam infectar humanos. Ele encontrou evidências de muitas bactérias que provavelmente são perigosas para humanos. As bactérias têm um DNA que codifica fatores de virulência: moléculas que produzem bactérias e vírus patogênicos, o que aumenta sua capacidade de infectar um hospedeiro.
A equipe de Claverie também encontrou algumas sequências de DNA que pareciam vir de vírus, inclusive da herpes. No entanto, eles ainda não encontraram nenhum traço de varíola. Por razões óbvias, eles não tentaram reavivar nenhum dos patógenos.
Além do solo do Ártico
Os patógenos que foram isolados dos humanos por muito tempo podem voltar não apenas pelo gelo ou pelo permafrost - cientistas da Nasa descobriram em fevereiro deste ano micróbios de 10-50 mil anos atrás dentro de cristais em uma mina do México.
A bactéria foi encontrada na Caverna dos Cristais, parte de uma mina em Naica, no norte do México. Lá, há vários cristais brancos do mineral selenito, que foram formados ao longo de centenas e milhares de anos.
Bactérias dormentes foram encontradas em geleiras antárticas. 
 Direito de imagem Colin Harris/Era Images/Alamy
A bactéria ficou presa dentro de pequenos bolsos de fluidos dentro dos cristais, mas uma vez que eles foram removidos, ela reviveu e começou a se multiplicar. Os micróbios são geneticamente únicos e podem ser novas espécies, mas os pesquisadores ainda vão divulgar um estudo completo sobre eles.
Até mesmo bactérias mais velhas foram encontradas na Caverna Lechuguilla, no Novo México, a 300 metros sob o solo. Esses micróbios não tinham visto a superfície nos últimos 4 milhões de anos.
A caverna nunca vê a luz do dia, e é tão isolada que leva cerca de 10 mil anos para a água da superfície entrar na caverna.
Apesar disso, a bactéria de alguma forma se tornou resistente aos 18 tipos de antibióticos, incluindo remédios considerados o "último recurso" para combater infecções . Em um estudo publicado em dezembro do ano passado, pesquisadores descobriram que a bactéria, conhecida como Paenibacillus sp. LC231, era resistente a 70% dos antibióticos e conseguia desativar boa parte deles.
Conforme as bactérias ficaram completamente isoladas na caverna por quatro milhões de anos, elas não tiveram contato com as pessoas ou com antibióticos usados para tratar as infecções humanas. O que significa que sua resistência aos antibióticos deve ter surgido de outra forma.
Os cientistas envolvidos acreditam que a bactéria, que não prejudica os seres humanos, é um dos muitos que naturalmente evoluíram e criaram a resistência aos antibióticos. Isso sugere que a resistência aos antibióticos tem existido há milhões e até bilhões de anos.
Obviamente, uma resistência a antibiótico tão antiga não pode ter se desenvolvido como resultado do uso de um antibiótico.
O motivo para isso é que muitos tipos de fungos, ou até de outras bactérias, produzem naturalmente antibióticos para ganhar vantagem competitiva com outros micróbios. Foi assim que Fleming descobriu a penicilina: bactérias em uma placa de Petri morreram depois de uma terem sido contaminadas com uma excreção de mofo.
Em cavernas, onde há pouca comida, organismos precisam ser implacáveis para sobreviver. Bactérias como a Paenibacillus podem ter precisado desenvolver resistência a antibióticos para evitarem ser mortas por organismos rivais.
Isso explicaria por que essas bactérias são resistentes apenas a antibióticos naturais, que vêm de outras bactérias ou fungos, e compõem cerca de 99,9% de todos os antibióticos que usamos. Essas bactérias nunca encontraram antibióticos criados pelo homem, então não têm resistência a eles.
"Nosso trabalho, e o trabalho de outros, sugere que a resistência a antibióticos não é um conceito novo", disse o microbiólogo Hazel Barton, da Universidade de Akron, Ohio, que liderou o estudo. "Nossos organismos foram isolados de espécies da superfície por 4 a 7 milhões de anos, mas a resistência que eles têm é geneticamente idêntica à de espécies encontradas na superfície. Isso significa que esses genes são pelo menos antigos, e não foram originados pelo uso humano dos antibióticos para tratamento".
Vírus gigantes podem ser os principais culpados por uma grande epidemia.  
Direito de imagem Science Photo Library/Alamy
Apesar de a Paenibacillus não infectar humanos, ela poderia, em teoria, passar sua resistência a antibióticos para outros patógenos. No entanto, por ela estar isolada abaixo de 400 metros de rocha, isso parece improvável de acontecer.
No entanto, a resistência a antibióticos naturais é provavelmente tão predominante, que muitas bactérias que emergem de permafrost devem já tê-la desenvolvido. Em um estudo de 2011 os cientistas extraíram DNA de bactérias de 30.000 anos de idade encontradas em permafrost na região de Beringian entre a Rússia e o Canadá. Eles encontraram genes que codificam a resistência a antibióticos beta-lactâmicos, tetraciclina e antibióticos glicopeptídicos.
Quanto nós deveríamos nos preocupar com isso?
Uma questão a ser levada em consideração é que o risco dos patógenos de permafrost ainda é desconhecido, então isso não pode nos preocupar demais. Em vez disso, nós deveríamos focar em ameaças mais concretas, como o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Por exemplo, conforme a Terra vai aquecendo, os países do Norte vão se tornando mais suscetíveis a epidemias de doenças "do Sul", como malária, cólera, dengue, já que esses patógenos sobrevivem em temperaturas mais quentes.
Mas há outra perspectiva também, que seria a de nós não ignorarmos os riscos apenas porque nós não podemos estimá-los.
"Seguindo nosso trabalho e o de outros, existe agora uma possibilidade que não é zero de micróbios patogênicos reviverem e nos infectarem", afirmou Claverie. "Quão provável isso é, ainda não sabemos, mas é uma possibilidade. Poderiam ser bactérias que são curáveis com antibióticos, ou bactérias resistentes, ou um vírus. Se o patógeno não ficou em contato com humanos por muito tempo, então o nosso sistema imunológico não está preparado para ele. Sendo assim, pode ser perigoso."