Secreção tem várias funções de defesa do canal auditivo, segundo cientistas |
As
baleias nunca limpam seus ouvidos. Ano após ano, a cera se acumula em seus
canais auditivos, deixando para trás um rastro de ácido graxo, álcool e
colesterol que pode praticamente contar a história de suas vidas.
Esse
acúmulo acontece em muitos mamíferos, inclusive nós, humanos. Mas a cera que
que sai de nossos ouvidos não é tão interessante. Ela não oferece uma
autobiografia nem fica muito tempo parada, já que temos o hábito de limpá-la
com frequência. No entanto, a ciência por trás dessa secreção é fascinante.
Para
começar, vamos chamá-la por seu nome mais “técnico”: cerume. A substância é
produzida apenas pela parte externa do canal auditivo, graças a uma
concentração de algo entre 1 mil e 2 mil glândulas sebáceas e glândulas
sudoríparas modificadas.
Acrescente
pelos, pele morta e outros detritos corporais, e você terá a receita da cera de
ouvido.
Consistência é fundamental
Acúmulo de cera pode levar à perda auditiva, ao isolamento social e até à paranoia |
Durante
muitos anos, cientistas acreditaram que a principal função da secreção era
lubrificar a região. Mas atualmente se sabe que ela é útil para evitar que
insetos invadam as reentrâncias internas da cabeça. Alguns especialistas
suspeitam ainda que a cera também atue como antibiótico.
Em
um estudo realizado na Alemanha em 2011, que analisou a cera de voluntários,
foram encontrados dez peptídeos que são capazes de impedir a proliferação de
fungos e bactérias. Seus autores defenderam que as infecções no canal auditivo
externo ocorrem quando falha o sistema de defesa proporcionado pela cera.
Mas
outra pesquisa, realizada em 2000 pela Universidade La Laguna, na Espanha,
chegou a conclusões opostas. Os cientistas descobriram que a secreção, na
realidade, promovia a proliferação de bactérias, principalmente por causa da
riqueza de nutrientes que oferece. Não foi o único estudo que colocou em xeque
a ideia da propensão da cera a eliminar micróbios.
Uma
diferença entre as duas pesquisas pode explicar os resultados tão distintos.
Enquanto o estudo de 2011 usou voluntários que apresentavam uma tendência à
cera seca, o de 2000 se concentrou na forma mais úmida da substância.
A
propensão a um tipo ou outro de cera é algo determinado geneticamente, mais
especificamente por uma única letra em um único gene.
O
tipo úmido é geneticamente dominante, tanto que a cera de ouvido tem sido usada
para rastrear os padrões antigos de migração humana. Os descendentes de
caucasianos e africanos têm mais chance de apresentar um cerume úmido, enquanto
asiáticos do Extremo Oriente apresentam uma variação mais seca. Os dois tipos
são mais equilibrados entre ilhéus do Pacífico, habitantes da Ásia Central e
indígenas do continente americano.
Perda auditiva e até paranoia
Mas,
para a maioria de nós, a questão mais premente no que se refere à cera de
ouvido é como removê-la da melhor maneira. No século 1 d.C., os romanos já
faziam referência a métodos como inserir óleo quente ou vinagre, dependendo do
tipo de cerume. De fato, hoje em dia, muitos médicos ainda usam óleo de
amêndoas ou azeite de oliva para amolecer a cera compactada, antes de
retirá-la.
A
verdade é que algumas pessoas realmente sofrem de problemas com cera de ouvido
graves o suficiente para que seja necessária uma intervenção médica. Uma
análise de 2004 mostrou que 2,3 milhões de pessoas na Grã-Bretanha visitam seus
médicos a cada ano para solucionar o problema. Cerca de 4 milhões de ouvidos
são tratados todo ano no país.
Idosos,
crianças e pessoas com dificuldades de aprendizado são os mais afetados por
problemas relacionados com o acúmulo de cera. O sintoma mais óbvio é uma perda
auditiva, mas muitos também sofrem de isolamento social e até uma ligeira
paranoia.
Os
cientistas também notaram que muitos pacientes apresentam o tímpano perfurado,
provável resultado da tentativa caseira de remover a cera.
Riscos do cotonete
O
hábito de limpar os ouvidos com cotonete após o banho tem sido desencorajado
por médicos por causa de certos riscos. Às vezes o algodão pode se soltar e se
alojar no canal auditivo, por exemplo.
A
recomendação é deixar o trabalho a cargo de um profissional, que em geral
utiliza um produto amaciador e, em seguida, faz uma irrigação.
Outro
procedimento condenado é a terapia alternativa da vela de ouvido, na qual uma
vela oca feita de cera de abelha ou parafina é colocada perto da orelha e
acesa. A teoria é de que o calor dentro do tubo vazio acabe “atraindo” o cerume
para fora do ouvido.
Não há, no entanto,
nenhuma evidência que comprove que essa prática funciona. Ao mesmo tempo, já
ficou comprovado que a cera quente da vela pode cair no tímpano, provocando
muita dor.
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