Esqueleto de 10 mil anos mostra que a pigmentação da pele era de escura
a negra
O estudo do esqueleto humano mais antigo encontrado no
Reino Unido contradiz a crença popular de que a maioria dos europeus sempre
teve a cor da pele branca.
Pele negra e olhos azuis: assim era o primeiro britânico 10 mil anos atrás. - BBC
Uma análise genética do esqueleto de
10 mil anos revelou que a pigmentação de sua pele era de "escura a
negra". O fóssil ficou conhecido como "homem de Cheddar" em
virtude do local onde ele foi encontrado, em Cheddar, no Reino Unido.
Seu rosto foi reconstruído graças a
um scanner de alta tecnologia e mostra um fenótipo totalmente oposto à pele
branca que caracteriza muitos dos britânicos.
"A combinação de uma pele muito
escura com olhos azuis não é o que normalmente imaginamos, mas essa era a
aparência real dessas pessoas", diz Chris Stringer, do Museu de Ciências
Naturais de Londres, onde a imagem do "homem de Cheddar" foi exposta,
na quarta-feira (7).
Segundo Yoan Dieckmann, da equipe da
UCL (University College London), responsável pelo estudo, a pele clara que
associamos aos europeus modernos, principalmente do norte, seria um fenômeno
relativamente recente.
Então em que momento a pele desses
ancestrais começou a mudar de cor e por que isso aconteceu?
MIGRAÇÃO DA ÁFRICA
Segundo especialistas, existem dois
fatores principais que explicam essa transformação.
Chris Stringer, do Museu de Ciências Naturais de Londres, estudou o "homem de Cheddar" por mais de 40 anos. - BBC
O primeiro deles é a mobilidade geográfica das populações modernas, que estavam na África há 150 mil anos e tinham pele escura.
"Aquelas populações, que seriam
nossos ancestrais diretos, começaram a migrar. Elas chegaram na Europa, por
exemplo, há cerca de 45 mil anos", explica Víctor Acuña, professor da
Escola Nacional de Antropologia e História do México.
Alguns estudos genéticos concluíram
que a pigmentação da pele mais clara começou a ficar mais comum em algumas
regiões europeias por volta de 25 mil anos atrás.
A descoberta do "homem de
Cheddar", que viveu há 10 mil anos, indica que esse embranquecimento só
ocorreu muito tempo depois em locais como as ilhas britânicas.
Mapa mostrando a distância entre Londres e Cheddar - BBC
Em 2014, análises de outros fósseis humanos de 7.000 anos encontrados em León, na Espanha, concluíram que os restos também pertenciam a um homem de pele negra e olhos azuis.
PROTEÇÃO CONTRA O SOL
O segundo fator, e o mais importante,
é aquele que explica por que ao atingir essas áreas do planeta a pele dos
humanos tende a clarear.
"Os seres humanos, diferente de
outros primatas, têm muito pouco pelo no corpo. Por isso pensamos que a
pigmentação da pele era uma barreira aos efeitos negativos dos raios
ultravioletas que é tão intensa na África", diz Acuña.
A cor escura da pele protegia o "homem de Cheddar" aos efeitos nocivos do sol - PA
Quando migraram para regiões no norte do planeta, onde os raios solares são muito mais escassos, elas não precisavam mais da pigmentação, uma proteção natural contra possíveis queimaduras e doenças como o câncer de pele.
Como explica Acuña, "em zonas
com pouco sol, ter cor da pele mais clara permitia uma melhor absorção da luz
ultravioleta, que é vital para a obtenção de vitamina D".
Isso explica por que, na própria
Europa, as diferenças na cor da pele começaram a ocorrer. As peles mais claras
tornaram-se mais frequentes no norte, enquanto no sul a população apresentava
tons mais variados.
Em suma, a cor da pele desempenhou um
papel fundamental na época em que essas gerações poderiam se adaptar ao
ambiente de forma natural.
10% DE ANTEPASSADOS
Com essa explicação, é óbvio que essa
característica da evolução humana não se reduz somente aos ancestrais dos
britânicos.
De fato, como destaca Acuña, essa
tendência a uma pigmentação cada vez mais clara não foi registrada apenas entre
aqueles que chegaram ao norte da Europa.
O esqueleto do "homem de Cheddar" foi encontrado há mais de um século. - EPA
"Os estudos indicam que
processos evolutivos similares ocorreram também em populações que chegaram ao
leste da Ásia e da África. Nesses locais também houve notáveis mudanças na
pigmentação da pele das pessoas", diz o professor Acuña.
O especialista confirma que a atual
população da Europa poderia ser portadora de não mais de 10% dos genes dos
antepassados do grupo ao qual pertence o "homem de Cheddar".
"Aquela primeira população teve
contato com outras, que migraram posteriormente. Essas 'desapareceram' como
cultura arqueológica ao ser assimilada por outros grupos", disse Acuña à
BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Estima-se que o "homem de
Cheddar" migrou da Europa continental para as ilhas britânicas ao final da
Era de Gelo.
Seus restos foram encontrados em uma
caverna próxima a Cheddar, na Inglaterra, em 1903, mas apenas com os avanços
tecnológicos do século 21 os cientistas conseguiram conhecer os primeiros
ingleses.
Fonte: BBC
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