Sendo
historicamente responsável pela 3ª postagem mais acessada do blog do NUROF-UFC
e figurando entre os 10 termos de busca pelos quais mais visitam nosso blog, a
temática “lagartos peçonhentos/venenosos” é indubitavelmente curiosa e
importante de ser discutida.
NÃO existe nenhuma espécie de
lagarto naturalmente estabelecida em território nacional que produza toxinas em
seu corpo (ou seja, venenosa), ou muito menos que seja capaz de inocular veneno
em presas ou predadores (isto é, peçonhenta). Apesar disto, sou
frequentemente indagado acerca dos perigos potenciais dos lagartos aos seres
humanos. Como resposta, informo que, em geral, os lagartos brasileiros não
provocam riscos relevantes, mas que são dotados de ferramentas naturais e
estratégias defensivas para se proteger de ameaças.
Figura 1. Indivíduo adulto de Tupinambis merianae do plantel NUROF-UFC |
Entre as
táticas defensivas de lagartos, a mais primária é evitar ser detectado por seu
predador, através da combinação de comportamentos crípticos, como camuflagem,
coloração disruptiva e imobilidade. Após ser encontrado por um predador, o
comportamento mais amplamente executado por lagartos é a fuga, na tentativa de
escapar da ameaça. Entretanto, algumas vezes o lagarto está encurralado e,
nestes casos, alguns comportamentos de intimidação podem ser exibidos no
sentido de dissuadir seu potencial predador, como abrir a boca, inflar o corpo
e agitar a cauda (Martins, 1996). Mesmo após todas estas tentativas de defesa,
o predador pode persistir em sua investida e então, os lagartos podem se
utilizar de ferramentas para atacar e agredir seu oponente. Na perspectiva dos
lagartos, existem três principais tipos de dispositivos de ataque (neste caso
para se defender): a cauda, as garras e a boca.
Neste
âmbito, apresento os possíveis, embora pequenos, riscos da
aproximação e manipulação de lagartos por leigos. Em especial, me detenho a
duas espécies de grande porte que ocorrem no Brasil, a Iguana-verde (Iguana
iguana) e o Tejo (Tupinambis merianae), ambas podendo atingir mais
de um metro e meio de comprimento.
Obs: Vale
frisar que as duas espécies citadas algumas vezes são criadas domesticamente
como pets e podem tornar-se bastante dóceis, fornecendo pouco ou nenhum
risco aos seus proprietários.
A longa e
robusta cauda das Iguanas e dos Tejos, mecanicamente utilizada para locomoção e
equilíbrio, constitui um tipo de arma de longo alcance que evita a aproximação
exagerada do potencial predador. Ao ser agitada bruscamente, a cauda pode ser
usada como um “chicote” para golpear o adversário, causando bastante dor no
local atingido.
As fortes
garras afiadas, usadas pelas Iguanas para se fixar e se locomover nas árvores e
pelos Tejos para forragear e escavar tocas, quando os lagartos são manipulados,
podem atingir a pele, causando danos físicos e provocando hemorragias locais.
A boca,
ornamentada com fortes dentes, é pouco utilizada com fins defensivos por
Iguanas, mas é uma das mais importantes armas dos Tejos. No caso dos Tejos, sua
dentição é caracterizada pela heterodontia (presença de vários
tipos de dentes), podendo desempenhar funções de corte,
perfuração e esmagamento (Brizuela & Albino, 2010).
Recentemente,
foi publicado um caso de mordida de Tejo em humanos. A vítima levou uma mordida
no dedo indicador da mão direita ao tentar separar a briga entre seu cão e um
Tejo com cerca de 1,5 m de comprimento. A lesão provocou perda de tecido,
fratura óssea na falange distal, intensa hemorragia, inflamação local e dor
intensa por mais de 10 horas. A intensidade da injúria foi tamanha que
necessitou de intervenção cirúrgica, com a aplicação de enxerto cutâneo para
reabilitação funcional e benefícios estéticos ao paciente (Haddad et al, 2008).
Portanto,
embora a maioria dos lagartos cause pouco ou nenhum risco à saúde dos seres
humanos, algumas espécies de grande porte merecem maior atenção. A lida com
animais selvagens exige conhecimento biológico, prudência e responsabilidade,
assim espero que esta postagem sirva como um alerta aos leitores que por
ventura desejem se aproximar demais ou até manipular grandes lagartos como as
Iguanas e os Tejos.
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