Desde o
fim de janeiro, fortes chuvas já afetaram milhares de pessoas e causaram sérios
danos em casas e estradas no Peru e no Equador. A área não assistia a um
desastre de tamanha proporção desde 1998.
Meteorologistas de todo o mundo observam a costa do Peru e do Equador. Direito
de imagem EPA
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Em uma
única região peruana, Piura, há aproximadamente 15 mil atingidos, que têm
sofrido com rios transbordando e o colapso dos sistemas de canalização. As
principais áreas afetadas estão no norte do país, Tumbes, Piura e Lambayeque,
mas os efeitos também podem ser vistos em La Libertad, Cajamarca, Ica e na
capital Lima.
Enquanto
isso, as enchentes já provocaram a morte de 14 pessoas e danificaram milhares
de casas na costa do Equador - principalmente nas províncias de Chimborazo,
Guayas, Los Rios e Manabí.
Essa
situação se deve a um fenômeno que, por suas consequências, é parecido com o El
Niño, mas que está localizado apenas ao longo das costas do Peru e Equador.
Por essa
semelhança, cientistas peruanos o batizaram de "El Niño costeiro", e
especialistas de todo o mundo observam o que ocorre ali. O motivo: trata-se de
um sinal de que um El Niño de escala planetária pode estar se aproximando.
Aquecimento
localizado
Durante o
El Niño, a temperatura da água aumenta em toda a franja equatorial do oceano
Pacífico até os Estados Unidos, e os efeitos são sentidos em todo o mundo:
chuvas de monções fracas na Índia, invernos mais frios na Europa, tufões na
Ásia e secas na Indonésia e na Austrália, entre outras calamidades.
Mas no
"El Niño costeiro" o aquecimento ocorre apenas na zona costeira do
Peru e Equador - as consequências, como chuvas torrenciais, se restringem
apenas a esses territórios, explica o Comitê Multissetorial para o Estudo do
Fenômeno do El Niño no Peru.
O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, visitou Piura, uma das regiões mais afetadas. Direito de imagem EPA |
O fato de
que a temperatura da água está aumentando sozinha na costa de ambos os países
pode ser relacionado com correntes de vento que circulam nesta área.
No final
de 2016, ventos do norte, provenientes da América Central, favoreceram o
deslocamento de águas quentes para o sul. No caminho até a costa equatoriana e
peruana, essa massa hídrica não encontrou nenhuma barreira, explica o
meteorologista Nelson Quispe, diretor do departamento de previsão do Serviço
Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru.
Os ventos
costeiros que seguiam em direção oposta - do sul ao norte - ficaram
enfraquecidos durante os primeiros dias de dezembro de 2016 e permitiram a
entrada das águas quentes oriundas da América Central.
Chuvas intensas também deixaram rastro de destruição no Equador.
Direito
de imagem Secretaria de Gestão de Riscos do Equador
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"Normalmente,
o vento que vai do sul ao norte ajuda a levar a corrente marítima de Humboldt,
que é fria. Mas como o vento enfraqueceu, a corrente também ficou mais
leve", acrescenta Quispe.
O
aquecimento atípico do mar na costa começou em meados de janeiro e já causou
picos na temperatura da água de até 29ºC no Peru e de 28ºC no Equador.
"A
temperatura normal no verão é 24ºC ou 25ºC. Agora, está quatro a cinco graus
acima, e isso é que causa as chuvas (por forte evaporação da água)",
explica Quispe.
Um
requisito para que as autoridades peruanas confirmem a presença do "El
Niño costeiro" é registrar essas mudanças por pelo menos três meses
consecutivos.
Espera-se
que as precipitações continuem neste mês e que diminuam apenas no final de
abril, assinala Quispe.
Segundo o Ministério da Agricultura do Peru, 1,2 mil hectares de cultivo
foram perdidos em Piura.
Direito de imagem EPA
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El Niño
global?
A
definição do "El Niño costeiro" foi criada pelo Comitê Multissetorial
para o Estudo do Fenômeno do El Niño no Peru para analisá-lo e prevenir danos
no país, explica Rodney Martínez, diretor de um centro similar no Equador.
Cientistas
não acreditam que um El Niño esteja acontecendo em nível mundial, mas não
descartam que isso ocorra nos próximos meses.
"(Para
alguns cientistas) o que acontece no Equador e Peru é um aquecimento anormal no
Pacífico oriental que provoca chuvas acima do nível normal. Mas não é
reconhecido como um Niño. É um fenômeno bastante localizado, muito da nossa
região", diz Martínez.
Mas ele
adverte que, se o aquecimento no Pacífico oriental permanecer, pode ser um
precursor para um El Niño global.
"Tudo
o que acontece no Pacífico oriental afeta a pressão atmosférica em todo o
Pacífico e contribui para uma potencial evolução até um El Niño",
argumenta o diretor do centro equatoriano.
Medições de temperatura indicam aquecimento acima do esperado no Peru.
Direito
de imagem NOAA
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"Não
se observava essa intensidade (no aquecimento do Pacífico) há 18 anos. É um
aquecimento atípico, pouco esperado e forte para a parte norte", emenda
Martínez.
Meteorologistas
estimam em 40% as chances de que um novo El Niño se desenvolva numa escala
global.
Mas isso
seria algo atípico, uma vez que já se registrou um fenômeno de grande
intensidade entre 2015 e 2016, batizado de "El Super Niño" - por
causa dele, as temperaturas mundiais bateram vários recordes.
Esperava-se
que as águas equatoriais esfriassem nos últimos meses, dando lugar à "La
Niña", algo que, até o momento, tem acontecido de forma intermitente.
Isso
levou cientistas a rebatizarem "La Niña" como "La Nada",
dado os poucos efeitos detectados.
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