O nome científico da 'Dendrogramma' foi
inspirado por sua rede de canais
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Cientistas
australianos identificaram por meio de análise genética a origem do
"cogumelo" encontrado a grandes profundidades no mar.
A
criatura gelatinosa foi vista pela primeira vez há 30 anos na Tasmânia, no
Pacífico. Ela têm uma haste cilíndrica coberta por um disco plano e
semi-transparente que abriga uma ramificação de canais visíveis a olho nu.
Como
estes canais se parecem com diagramas em formato de árvore, conhecidos como
dendogramas, o termo inspirou seu nome científico: Dendrogramma.
Os
espécimes originais foram descritos por cientistas pela primeira vez em 2014
por uma equipe de pesquisa dinamarquesa. Esses pesquisadores afirmaram que
essas as criaturas fazem parte de um grupo taxonômico único, segundo estudo
publicado no periódico científico PLOS One.
Mas os
cientistas não validaram isso com evidências genéticas, em parte por causa da
forma como os espécimes haviam sido preservados, mantendo no ar a dúvida sobre
sua real natureza.
"Eles
chegaram a coletar amostras, mas o material se deteriorou", diz Tim
O'Hara, curador sênior do Museu Victoria, em Melbourne, na Austrália.
Quebra-cabeças
genético
Primeiras amostras foram coletadas há 30 anos, mas se deterioraram |
O'Hara
diz que, assim como na Ciência Forense e na Medicina, o DNA tornou-se
"peça essencial do 'kit de ferramentas' de um zoólogo".
"Hoje,
publicar a descoberta de um novo sub-reino sem mostrar como ele se relaciona
com outros animais por meio do DNA é uma forma antiquada de trabalhar."
Mas, no
fim de 2015, uma nova expedição coletou novas amostras, que estavam a 2,8 mil
metros de profundidade no litoral sul da Austrália.
"Foi
um momento 'eureca!'", diz Hugh MacIntosh, pesquisador sênior do Museu
Victoria que identificou as criaturas em novembro passado.
"Ao
segurar um contra a luz e ver suas veias bifurcadas características irradiando
pelo corpo transparente, percebi que havíamos acabado de reencontrar o Dendogramma."
Ao todo,
85 espécimes foram coletados e armazenados em uma solução que permitiria a
extração de seu DNA.
"De
repente, podíamos ter o DNA e completar o quebra-cabeça, e foi isso que
fizemos", afirma O'Hara, que liderou a etapa genética da pesquisa.
Água-viva modular
Os
resultados da análise foram publicados nesta semana no periódico Current
Biology e revelaram que as criaturas submarinas não são algo único no reino
animal, como sugeriu a equipe dinamarquesa em 2014.
Na
verdade, pertencem a uma classe de águas-vivas conhecida como sifonóforos e
encontradas ao longo da costa australiana e nos oceanos Pacífico e Índico.
Entre os sifonóforos mais conhecidos está a caravela-portuguesa.
Aparentemente um organismo único, o 'Dendrogramma' é uma parte o que foi separada de um organismo composto de uma colônia de pólipos. |
"Ficamos
muito surpresos", diz O'Hara. "Conhecemos muito pouco sobre os
sifonóforos, porque não são achados com frequência."
Apesar de
aparentarem ser um organismo único, os sifonóforos são, na verdade, uma colônia
de vários pólipos de características distintas - alguns são
"especializados" em flutuabilidade, propulsão, alimentação,
reprodução e defesa, explica O'Hara.
Eles
também possuem um órgão em formato de cogumelo, a bráctea, que pode se separar
do resto do corpo quando perturbado.
Assim,
descobriu-se que os misteriosos "cogumelos" não eram uma espécie
independente, como se pensava, mas, sim, uma parte de um organismo que tinha
sido expelida e que morreria pouco depois disso.
"Ficamos
um pouco desapontados", diz o especialista. "Teria sido legal
encontrar uma nova classe de animais, mas, de qualquer forma, solucionamos o
mistério."
Mistérios do
oceano
Uma vez
desvendada sua origem, outras questões surgem imediatamente.
Com um
diâmetro de 2 cm, estas partes em forma de cogumelo são consideravelmente
maiores do que as mesmas estruturas encontradas em todos os sinóforos já
conhecidos - a maioria têm cerca de 2 mm, diz O'Hara.
O 'Dendrogramma' faz parte de uma de uma
criatura maior ainda não identificada
|
"Sabemos
que essa estrutura faz parte de uma outra coisa, mas como seria essa outra
coisa ainda é um mistério", diz o cientista.
Isso mostra
o quão pouco conhecemos a profundeza dos oceanos. O'Hara diz que, como a
Austrália não tem submarinos capazes de explorar este ecossistema, é preciso
"recorrer a dragas e outras ferramentas antiquadas, que são levadas até o
fundo mar, depois puxadas por alguns metros e, então, recolhidas".
"Era
exatamente assim em 1870. Ainda estamos tateando no escuro nas pesquisas sobre
o oceano profundo."
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