Polvo-comum foi observado
planejando a captura de caranguejos
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A
notícia, divulgada em abril, de que um polvo conseguiu escapar do Aquário
Nacional da Nova Zelândia pode ter surpreendido muita gente. Mas só veio a
confirmar o que muitos cientistas já suspeitavam: que essa espécie é uma das
mais inteligentes do planeta.
Inky, o
polvo fujão, aproveitou que a tampa de seu tanque foi deixada entreaberta e,
durante a noite, conseguiu sair, atravessou uma sala até encontrar um ralo
aberto e se espremeu por um cano de 50 metros de extensão até chegar ao mar
aberto.
Confira
oito comportamentos já observados nesses animais que ilustram como eles são
mais espertos do que pensamos.
1.
Capacidade de planejar
O polvo-imitador muda de formato e movimentos para se passar por até 15 animais diferentes |
A
psicóloga Jennifer Mather, da Universidade de Lethbridge, no Canadá, estuda
polvos desde 1972. Mas foi durante uma pesquisa de campo nas Bermudas, há mais
de 30 anos, que ela se deparou com a primeira demonstração de inteligência por
parte do animal.
Ela
observou que um polvo-comum (Octopus vulgaris) caçava caranguejos e os
levava para sua toca para comê-los. Antes da refeição, no entanto, o animal
catou algumas pedras para criar um espécie de barreira e impedir que as presas
fugissem.
Segundo
Mather, esse e outros exemplos mostram que o polvo tem a capacidade de fazer
previsões e de sequenciar ações.
"Ali
estava um animal com uma imagem mental clara do que ele queria. E que conseguiu
fazer um planejamento, o que é muito diferente de uma simples resposta a um
estímulo, mais comum em outros bichos", afirma.
2. Bem
equipado
Polvo venoso é observado carregando conchas |
Em 2009,
Julian Finn e seus colegas do Museu Victoria, em Melbourne, na Austrália,
conseguiram demonstrar que polvos sabem usar objetos como ferramentas.
Um grupo
de polvos-venosos (Amphioctopus marginatus) desenterrava cascas de coco
que foram jogadas no mar e, em seguida, as limpava com jatos de água. Alguns
empilhavam cuidadosamente as cascas e as carregavam por até 20 metros para
usá-las para montar um abrigo.
Finn
chamou a atenção para o fato dessa movimentação deixar o animal mais vulnerável
a predadores, por ser mais lenta e dispendiosa. "Isso mostra que o polvo
está disposto a aceitar riscos em troca de proteção para o futuro",
afirma.
3.
Brincalhão
Polvo-imitador evita predadores ao fazer parecer que é um animal venenoso |
Cientistas
sempre defenderam que o ato de brincar é algo peculiar de animais com elevadas
habilidades cognitivas, já que não serve a nenhuma função imediata a não ser a
diversão.
Mather
quis investigar se polvos sabem brincar e estabeleceu um experimento no Aquário
de Seattle (EUA). Ela colocou oito polvos-gigantes (Enteroctopus dofleini)
em tanques vazios e, ao longo de diversos testes, deu a eles frascos de
plástico.
No
início, todos os animais levaram os frascos à boca, descartando-os ao
perceberem que não era algo comestível. Depois de um tempo, dois deles
começaram a jogar jatos de água nos frascos, que iam rolando até o outro lado
do tanque e voltavam aos polvos com a corrente de água.
Para
Mather e os outros pesquisadores, trata-se de uma forma de brincadeira
exploratória, semelhante ao que crianças fazem ao brincarem com objetos
desconhecidos.
"Quando
um polvo está em uma situação nova, a primeira coisa que ele faz é
explorar", afirma a cientista.
4.
Tentáculos temperamentais
Mather e
o biólogo Roland Anderson, do Aquário de Seattle, já tinham tentado estudar a
diferença nas personalidades de cada polvo.
Profissionais
que trabalham com esses animais têm o costume de dar nomes a eles porque
percebem que cada um se comporta de uma maneira consistente e diferente dos
demais.
Em um
experimento com 44 polvos-rubi (Octopus rubescens), um pesquisador
visitava o tanque a cada dois dias, colocando seu rosto perto da tampa, tocando
os animais com uma escova e oferecendo caranguejos a eles.
Foram
observadas 19 respostas diferentes e consistentes. Alguns polvos eram mais
passivos, enquanto outros eram mais curiosos.
Em um
estudo subsequente, Mather e Anderson encontraram indícios de que o polvo
transmite traços de sua personalidade à cria. "Essas variações de
personalidade permitem que o animal aprenda e se adapte rapidamente",
afirma a pesquisadora.
5. Mestre do
disfarce
A corrida
evolutiva levou animais a desenvolverem muitas maneiras ardilosas para enganarem
uns aos outros: das serpentes que se fingem de mortas para evitar serem pegas a
peixes machos que se passam por fêmeas para aumentar as chances de se
reproduzirem.
Mas
dentre todos os malandros da natureza, o polvo-imitador (Thaumoctopus
mimicus) deveria levar o título de "mestre dos disfarces".
Outros
polvos podem mudar a cor e a textura da pele para evitar os predadores. Mas o
imitador é o único que já foi observado tentando se passar por outros animais.
Ele pode mudar sua forma, seus movimentos e seu comportamento para ser
confundido com 15 espécies diferentes, de peixes a serpentes marinhas
venenosas.
6. Craque
dos problemas
Polvos
são capazes de usar a tentativa e erro para encontrar a melhor maneira de
conseguirem o que querem.
Em um
estudo publicado em 2007, Mather e Anderson observaram polvos gigantes tentando
chegar à parte comestível de diferentes tipos de mexilhões usando recursos como
quebrar ou separar as conchas, ou ainda usar sua rádula para perfurar as cascas
mais resistentes.
Os
cientistas então costuraram os mexilhões e perceberam que os polvos trocaram de
técnica. "Isso nos mostrou que esses animais são muito bons em resolver
problemas, pois têm diversas estratégias para atingir o mesmo objetivo, e
utilizam primeiro a que for mais fácil", diz Mather.
7. Bem
orientado
Durante
uma pesquisa de campo, Mather observou que, depois de saírem para caçar, os
polvos voltavam a suas tocas por outro caminho. Eles também visitavam áreas
diferentes em cada caçada.
Em um
estudo publicado em 1991, ela concluiu que os polvos têm uma capacidade de
memória complexa. Eles conseguem se lembrar dos locais onde há alimentos e
retêm informações sobre os lugares que visitaram recentemente. Trata-se de algo
que apenas nos animais cordados (dotados de espinha dorsal).
8. Como nós
Em muitos
aspectos, o cérebro do polvo é como o nosso. Eles têm lóbulos torcidos,
semelhantes aos cérebros dos vertebrados, o que é um sinal de complexidade.
Além
disso, os padrões elétricos gerados nos cérebros desses cefalópodes são
semelhantes aos dos mamíferos.
O polvo
também tem uma visão monocular, algo que tende a ocorrer em espécies cujos
hemisférios cerebrais têm especializações diferentes.
O
cefalópode até armazena memórias de maneira semelhante ao ser humano, usando um
processo chamado de potenciação de longo prazo, que fortalece as ligações entre
os neurônios.
Mas as
diferenças entre o polvo e o homem são ainda mais fascinantes do que as
semelhanças. Mais da metade dos 500 milhões de neurônios do animal se
concentram em seus tentáculos. Isso significa que cada um deles pode agir sozinho
ou em coordenação com os demais.
E,
enquanto o cérebro humano é visto como um controlador central, a inteligência
do polvo pode estar distribuída em uma rede de neurônios, um pouco como a
internet.
Se isso
for provado, Inky e seus parentes podem nos obrigar a enxergar a essência da
inteligência de uma maneira totalmente nova.
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