A
maioria dos estudos indica que um grupo de musgo, moradores de pântanos que se
originaram subaquaticamente, foram os primeiros seres vivos a viver em terra.
Há
evidências de vida na água doce de um bilhão de anos atrás ou menos. De água
para a terra, no entanto, há evidências indiretas inferidas a partir de sinais
de desgaste em rochas não marinhas e na presença de paleossolos, sedimentos
indicativos de solo fossilizado que, por definição, foram expostos ao ar.
Fósseis
reais que podem ser sinais de vida na terra do período pré-cambriano (cerca de
542 milhões de anos) são raros, ou, como dizem alguns, míticos.
O
ponto de vista convencional é de que a primeira vida terrestre migrou para fora
da água cerca de 430 milhões de anos atrás, no meio de um período conhecido
como a “Explosão Cambriana” – um apogeu evolutivo, em que condições favoráveis
permitiram que surgissem a maioria das principais formas de vida existentes
hoje.
Durante
este tempo, um grupo de plantas de água doce avançou para praias lamacentas,
pântanos e várzeas, e as verdadeiras plantas terrestres evoluíram a partir
desse grupo. Antes disso, não havia nada vivendo em terra.
Agora,
um novo estudo da Universidade de Oregon (EUA) diz que ainda outra forma de
vida, mais precoce, pode ter sido a precursora dos organismos terrestres.
A
tese de Gregory Retallack certamente não é a mais popular, mas evidências
indicam que é possível que um organismo que viveu e morreu milhões de anos
antes foi o primeiro a pisar em terra firme.
O
geólogo da Universidade de Oregon argumenta que o grupo extinto de organismos
chamados Ediacara, que viveu algumas centenas de milhões de anos antes do
surgimento de plantas anfíbias, foi o primeiro a viver em terra.
O
problema maior com seu argumento é que muito difícil estudar essas criaturas.
As pistas que existem sobre elas vêm de fósseis, que sugerem que eram pequenas
criaturas tubulares, que evoluíram pela primeira vez cerca de 630 milhões de
anos atrás, no final de uma era do gelo extraordinariamente fria.
Esse
grupo desapareceu cerca de 90 milhões de anos depois, logo quando o período
Cambriano e sua explosão estavam começando.
Os
fósseis deixados por tais criaturas são muito abertos à interpretação, como
evidenciado pela atual controvérsia. Quando os colegas de Retallack examinaram
os fósseis e seu sedimento circundante, eles viram o que consideraram contornos
de animais marinhos articulados em uma lama endurecida do fundo de um oceano.
No
entanto, quando Retallack olha para os fósseis de Ediacara, ele vê traços de
líquenes, rodeados pelo tipo de rocha que se forma não no mar, mas em terra
firme.
Essa
não é a primeira vez que alguém sugere que a vida passou para a terra mais cedo
do que o previsto. Esse argumento é minoria, mas circula desde pelo menos 1950,
quando a paleobotanista Jane Gray defendeu tal ponto de vista.
Fósseis de Ediacara |
A tese de Retallack
Retallack
trabalhou por muitos anos estudando paleossolos (presença de sedimentos
indicativos de solo fossilizado exposto ao ar) do período Pré-Cambriano.
O
problema com solos fossilizados é que são convencionalmente reconhecidos pelos
traços dos organismos que vivem dentro deles, especialmente raízes de plantas.
Aí reside um dilema – como você reconhecer um paleossolo em sedimentos que não
têm raízes de plantas?
A
resposta vem através de trabalho geológico cuidadoso, para mostrar que o
paleossolo está associado com rocha formada sob condições não marinhas, junto
com trabalho em geoquímica e dados de isótopos estáveis.
Também
pode haver evidência direta no solo fóssil, sob a forma de nódulos, cristais de
carbonato de areia e fissuras causadas por dessecação ou presença de gelo.
Provas
deste tipo levaram Retallack a inferir a presença de paleossolos entre rochas
do período Ediacarano (635 a 542 milhões de anos atrás) do sul da Austrália.
Essas
rochas apresentam uma ampla gama de grandes estruturas, distintivas e
enigmáticas, geralmente pensadas como fósseis de criaturas vivas. Originalmente
encontradas no sul da Austrália, fósseis de Ediacara já foram descobertos em
localidades mais longínquas como Newfoundland, no Canadá, na Rússia Ártica e no
Reino Unido.
Embora
claramente altamente organizados, a natureza exata desses organismos é
indescritível. Se eles foram animais, tinham pouca ou nenhuma semelhança com
qualquer outra criatura, seja fóssil ou atual.
Isto
levou a sugestões de que foram gigantes protistas, fungos, algas, liquens ou
até mesmo um tipo de vida totalmente diferente de qualquer outra coisa
conhecida e agora totalmente extinto.
O
que quer que fossem, no entanto, os cientistas acreditam que viveram nos leitos
de areia de águas rasas, águas iluminadas pelo sol.
É
aqui que Retallack se separa de quase todos os outros cientistas, porque alguns
de seus paleossolos estão associados com fósseis de Ediacara. Isto significa
que pelo menos alguns desses organismos viviam na terra, sob o céu, talvez na
forma de líquenes, ou colônias microbianas que formam crostas no solo.
Nesse
caso, essas criaturas já não seriam mais míticas ou raras, mas sim as primeiras
a colonizarem a terra, não apenas em poças de água, mas em solos indicativos de
um deserto seco e frio.
*Ediacara
é o nome de uma região da Austrália onde ocorrem os mais antigos fósseis de
metazoários, aqueles com células organizadas em tecidos e órgãos. Por isso,
esta ocorrência fóssil está entre as mais importantes do mundo.
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