Coober
Pedy é uma pequena cidade cheia de minas na Austrália. Ela é conhecida como a
capital mundial da opala, uma pedra preciosa muito usada por reis na antiguidade.
Os antigos acreditavam que uma pessoa poderia ficar invisível se enrolasse uma
opala em folha de louro fresco e a portasse junto de si para onde fosse.
Coober Pedy fica ao Sul
da Austrália, uma cidade "escondida" no Novo Continente
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Hoje, a
região carrega mais do que apenas a lenda dessa pedra misteriosa. Cerca de 3
mil pessoas moram em Coober Pedy. É uma cidade com uma particularidade: é
praticamente subterrânea, e quem vive ali precisa se adaptar a essas
características.
O
repórter da BBC Michael Dulaney foi conhecer essa remota e peculiar comunidade.
"Sigo
a caminho da cidade mineira australiana Coober Pedy.
O que
sobressai nessa paisagem plana e indiferente são algumas chaminés que brotam da
terra no meio do caminho.
São poços
de ventilação para a maioria das casas que, na verdade, estão embaixo da terra.
São as chamadas "dugouts", covas escavadas para os moradores
escaparem do calor sufocante do deserto.
Tudo em
Coober Pedy é subterrâneo: não só as casas, como também as lojas, os hotéis, os
bares, galerias de arte e até as igrejas.
O
interior delas é fresco e agradável - imagino que isso seja um incentivo para
as pessoas a irem à missa.
"Com
certeza", me diz o padre. "Essa é a ideia. No deserto, tudo é muito
extremo: ou muito frio, ou muito quente. Por isso, se proteger debaixo da terra
ajuda a amenizar um pouco as temperaturas. Assim a vida fica suportável e a
igreja se torna um bom refúgio."
As chaminés no deserto
mostram que as pessoas preferem viver embaixo da terra para não terem de lidar
com as temperaturas extremas na região
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A
tentação de se mudar para Coober Pedy, obviamente, não é o clima. O que atrai
as pessoas é o sonho de enriquecer encontrando a opala, cuja gema pode valer
milhares de dólares.
O local
foi descoberto em 1915 por um jovem de 14 anos chamado William Hutchison. Ele
havia viajado para o meio do nada no Sul da Austrália com seu pai e seus dois
sócios em busca de ouro - que não tinham encontrado.
No dia 1º
de fevereiro, William deveria ter ficado no acampamento para cuidar das coisas,
mas desobedeceu as ordens de seu pai, saiu para procurar água e se perdeu.
Igrejas subterrâneas
atraem fiéis em parte por causa do clima ameno dentro delas
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Quando
escureceu e o menino ainda não havia aparecido, os adultos começaram a se
preocupar. Mas, pouco depois, ele chegou com um sorriso de orelha a orelha e
uma bolsa cheia de opalas.
Claro que
tudo isso foi apenas um acaso. Mas William também descobriu lá o que havia ido
buscar: água doce, coisa igualmente rara de se encontrar naquela região.
Um mar que
já não existe
As opalas
preciosas da Austrália são resultados de condições muito especiais que datam de
mais de 100 milhões de anos atrás, quando o grande mar da Eromanga, que até
então cobria o centro da Austrália, começou a secar.
Fluidos
muito ácidos se dissolveram em areia de sílica rica em quartzo e em seguida se
transformaram em opalas preciosas.
A cidade é um lugar no
meio do nada: o local mais próximo é Adelaide, que fica a 9 horas de viagem dali
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Essas
circunstâncias são muito específicas e pouco comuns. A outra origem das opalas
- mais comum - é a vulcânica.
Mas
encontra-las não é fácil. Por isso, seu valor segue provocando a mesma
"febre" que contagia milhares de pessoas desde 1915.
E foi essa
febre que manteve Sandy Williams na indústria por 20 anos, até ela se dar por
vencida e aceitar um emprego fixo como guia turística local.
"Nunca
dá para saber o valor que tem a opala quando você a desenterra. Ela sempre
parece maior, melhor, mais brilhante embaixo da terra, mas na superfície você
não a vê da mesma forma que da primeira vez", diz.
"A
imaginação e as expectativas acabam influenciando o que se enxerga na mina de
opala."
A bela joia de opala
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Mas que
tipo de pessoa é mais comum aqui, eu pergunto. "Provavelmente é o mais
romântico e aventureiro. Essa é a última fronteira. Um lugar onde você pode
trabalhar para você mesmo, pode trabalhar o quanto que quiser - e encontrar um
milhão de dólares. Já morei lá antes e pretendo voltar um dia."
"Mas
no fim a pobreza me mandou de volta ao papel de funcionária em vez de
patroa."
Esperança
A
atividade de mineração nos campos de opala é evidente - é possível ver
pequenos montes de areia e buracos que se estendem até o horizonte.
Essas
minas seguem se multiplicando diariamente com as escavações de mineiros como
Teles, um chef aposentado que está dedicando seu tempo à busca do tesouro.
Ele não
revela seu nome completo - os mineradores aqui são discretos -, mas se oferece
para me levar a explorar sua mina.
Isso é o que seduz milhares de pessoas a
viverem em Coober Pedy: a opala
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"Comecei
nesta mina há cerca de 5 ou 6 semanas, mas tive problemas com a pá. Ela falha
de vez em quando", conta ele, frustrado.
"Quando
me aposentei, passei a ficar em casa. Até que pensei: 'Chega! Vou para a
mineração algumas horas por semana'. Sou diabético, e isso é um exercício muito
bom."
"Sou
chef e administrei o hotel Opal por alguns anos para pagar as contas. Tenho
nove filhos e paguei colégio e faculdade para eles. Agora todos trabalham e
assim eu posso relaxar."
Para relaxar
Teles
começou a se dedicar a mineração há 26 anos.
É como um poço
de luz enterrado no deserto
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"Cheguei
tarde a esse negócio da opala. Os melhores lugares para explorar já estavam
tomados e só sobraram esses mais afastados, na periferia. Realmente, não há
nenhuma chance de encontrar algo que te dê muito dinheiro, a não ser que você
tenha muita sorte."
A mina em
que ele está trabalhando não é nova. Muitos mineradores já escavaram ali, o que
também aumenta os riscos no local.
"O
que eu faço é trazer o túnel para cima e fazer uma cúpula, para que toda a
pressão fique para os lados. Quando um coelho faz sua toca, é sempre em forma
de arco. A natureza tem sua sabedoria e, se você a imita, não deve ter
problemas."
Mas Teles
já passou por apuros, quase soterrado em sua própria mina. Da última vez, foi
sua pá mecânica que o salvou. O fato de estar escavando a terra sozinho é algo
que torna sua tarefa ainda mais arriscada.
A Via Láctea: outro tesouro de Coober Pedy é a vista do firmamento.
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"Eu
tenho 72 anos de idade. Se algo acontecer…tudo bem. Um dia todo mundo vai
morrer, e eu prefiro morrer enterrado aqui a morrer no deserto", afirma.
É uma
deixa para uma reflexão mais profunda, quase filosófica, sobre viver e sonhar.
"Esse
corpo que tenho está em agonia. Sempre depois de trabalhar, os ossos e os músculos
doem. Mas fazemos isso porque nos fascina", admite.
"Quem
sabe eu possa me tornar uma opala daqui 50 milhões de anos..."
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