As
cidades de Cincinnati, St. Louis, Chicago e Kansas City, no Meio-Oeste
norte-americano, podem registrar temperaturas recordes nesta quinta-feira por
causa de um enorme sistema de alta pressão que provoca forte calor em quase
todo o território dos Estados Unidos.
O
tempo seco também contribui para o calor excepcional, segundo Alex Sosnowski,
meteorologista-sênior da AccuWeather.com. Ele disse que em St. Louis e Kansas
City os termômetros podem se aproximar dos 42 graus Celsius, e que na
sexta-feira a frente quente vai se deslocar para o nordeste do país.
"Muitos
desses lugares não têm tido muita chuva e o solo seco contribui com o
calor", disse Sosnowski. Há temporais isolados previstos para o Meio-Oeste
na sexta-feira, mas não devem ser suficientes para alterar as condições,
segundo o meteorologista.
A
onda de calor contribui para a propagação de incêndios que já destruíram
centenas de casas no Colorado. A temperatura elevada e a seca também afetam as
lavouras, e o preço do milho já teve alta de 17 por cento neste mês nos Estados
Unidos.
Na
quarta-feira, pelo quinto dia consecutivo, a localidade agrícola de Hill City,
no Kansas, registrou a temperatura mais elevada do país: 46 graus Celsius,
segundo o Serviço Meteorológico Nacional. Para quinta-feira, a previsão era de
quase 43 graus Celsius.
"Parece
que você tem uma fornalha antiga soprando no seu rosto", disse Rayson
Brachtenbach, técnico de ar-condicionado em Hill City. Segundo ele, muitos
aparelhos da cidade quebraram por não dar conta do calor intenso e prolongado.
O
meteorologista Chris Foltz, do Serviço Meteorológico Nacional em Goodland,
Kansas, disse que é raro que uma cidade do Meio-Oeste registre a maior
temperatura do país durante cinco dias seguidos.
"Isso
é o que se espera do deserto de Nevada ou Califórnia", afirmou. "Hill
City é onde a alta pressão está ancorada. É como se o calor se
perpetuasse."
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Pessoas observam incêndio florestal no
Waldo Canyon, no Estado do Colorado,
ao entardecer do domingo - Foto: Reuters
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Em
Chicago, as atividades de férias foram suspensas em dez escolas públicas nesta
quinta-feira por falta de ar-condicionado. Em Indiana, 74 dos 92 condados
proibiram queimadas, e 45 restringiram o uso de rojões.
Em
Birmingham, Alabama, a polícia decidiu acompanhar de forma regular idosos e
doentes até domingo, para garantir atendimento em caso de problemas de saúde
causados pelo calor.
Seca revive lembranças das perdas de 1988 nas
lavouras
Apenas
um ano atrás, o agricultor norte-americano Jeff Scates presenciou a pior
inundação, desde 1937, que as terras de sua família em Illinois já sofreram.
Atualmente, Scates observa suas plantações de milho murcharem na temporada mais
seca dos últimos 24 anos.
"Nós
fomos de um extremo a outro, de uma inundação em três quartos da fazenda para
uma seca", disse Jeff, de 42 anos, que com seus familiares cultiva 15 mil
acres de milho, soja e outras culturas ao longo da fronteira entre os Estados
de Kentucky e Indiana, onde os rios Ohio e Wabash se encontram.
Scates
disse que sua lavoura de milho ainda está em melhores condições do que a de
seus vizinhos, que cultivam em solos mais arenosos, que não retêm tanta
umidade. A umidade é necessária para desenvolver um forte sistema de raízes,
que sustentarão as plantas durante os meses mais quentes de julho e agosto.
Ele
diz que essa temporada de crescimento o faz lembrar o verão de 1988, quando o
cinturão central do milho teve perdas significativas. As condições dos campos
eram de seca e calor, no início da primavera nos EUA, parecido com o que
aconteceu 24 anos atrás, quando as lavouras locais, especialmente do milho,
foram prejudicadas pela falta das chuvas de verão.
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A safra está comprometida com a grande seca |
"Claramente
é uma dessas secas desagradáveis. Se não ultrapassar a de 1988, ela certamente
vai chegar perto, ou vai ser classificada como uma das chamadas 'grandes secas'
dos últimos 30 anos", disse Bob Nielsen, agrônomo da Universidade de
Purde, que atuou como consultor de safras para os agricultores de Indiana em
1988.
Os
preços do milho subiram 17 por cento neste mês enquanto, dia após dia, o clima
quente e seco persiste no coração do meio-oeste, onde Iowa e Illinois sozinhos
produzem um terço de toda a produção norte-americana de milho e soja.
Os
mercados estão superaquecidos, enquanto aumentam as preocupações de que os
Estados Unidos, maior exportador mundial dessas duas culturas, seriam atingidos
por perdas nas lavouras. Isso não só causaria impacto nos orçamentos do governo
norte-americano e das seguradoras pelos pagamentos dos seguros das plantações,
como também estimularia uma nova rodada de inflação mundial dos preços dos
alimentos, dizem especialistas.
No
momento, as preocupações estão concentradas no milho, que é plantado antes da
soja, e está começando a entrar em seu mais importante estágio de crescimento,
a polinização -período em que a planta do milho começa a produzir seus grãos.
No Meio-Oeste, a polinização vai estar em andamento pelas próximas quatro
semanas. Existe uma relação direta entre a polinização e os rendimentos finais,
sendo a umidade e a quantidade de calor que a planta recebe fatores
determinantes para o sucesso da polinização.
O
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na segunda-feira,
avaliou que apenas 56 por cento das lavouras de milho estão ótimas/excelentes,
a classificação mais baixa da categoria desde o final de junho de 1988. Naquele
ano, os produtores americanos produziram apenas 4,9 bilhões de bushels de
milho, 33 por cento abaixo das expectativas do governo para o início da safra,
de 7,3 bilhões de bushels.
Atualmente,
o USDA está com previsões de uma safra recorde de milho, de 14,8 bilhões de
bushels para 2012. Essa estimativa foi feira em 12 de junho, antes das últimos
danos causados pela seca.
Dentre
os Estados do Meio-Oeste mais fortemente atingidos pela seca, no momento, estão
Illinois e Indiana, que ocupam o segundo e o quinto lugar, respectivamente, na
produção de milho. Atualmente, em cada um dos Estado, menos de 40 por cento da
safra de milho novo está sendo classificado como estando em condições de ótimas
a excelentes.
Contrabalanceando
esse cenário de preocupação generalizada com a produção norte-americana, estão
as plantações mais bem classificadas de outras áreas importantes do Meio-Oeste,
incluindo os importantes Estados produtores Iowa e Minesota, que recentemente
receberam chuvas, e Nebraska, onde cerca de 40 por cento da lavoura de milho é
irrigada.
Nielsen
disse que 2012 está se tornando "a tempestade perfeita" para o Estado
de Indiana, que vai ameaçar a safra de milho deste ano. A preocupação atual do
agrônomo é que a persistente seca combinada com previsões de calor extremo e
pouca umidade para os próximos sete a dez dias, prejudique a fase de
polinização do milho de Indiana.
O
Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos está prevendo temperaturas
acima do normal e precipitações abaixo do normal para os próximos seis a dez
dias de Ohio a Nebraska, até o sul do Missouri. A temperatura máxima registrada
na quarta-feira foi de 100 Fahrenheit (37,7 graus Celsius) em Des Moine, Iowa,
102 fahrenheit em Omaha (38,8 graus Celsius); e 93 Fahrenheit em Champaign,
Illinois (33,3 graus Celsius).
VERÃO
DE 1988 VERSUS 2012
Analistas
dizem que, apesar dos medos serem similares nos dois anos, 2012 está longe de
ser uma cópia exata de 1988. As condições do tempo, por exemplo, estavam muito
mais secas em 1988 em comparação com 2012, e com isso os danos causados às
plantações aconteceram mais cedo no ciclo do milho.
Este
ano, as condições de extrema seca atingem até o momento uma porção muito menor
do cinturão, especialmente no extremo sul de Indiana e Illinois, e no sudoeste
do Missouri. Atualmente, estas áreas sofrem com o mesmo déficit de chuvas
registrado em 1988. As chuvas de julho serão cruciais para definir o destino da
safra de milho: em 1988, as chuvas da primavera até o início do verão foi de 8
a 10 polegadas abaixo do normal, de acordo com o Centro Climático do
Meio-Oeste.
O
calor também é um fator importante, uma vez que a planta do milho para de
crescer quando as temperaturas ultrapassam os 90 Fahrenheit (32,2 graus
celsius). Até agora, 2012 tem sido mais quente do que 1988 em uma grande faixa
do Meio-Oeste. A temperatura média de Indiana de abril a junho deste ano, por
exemplo, foi quase dois graus mais alta que em 1988.
"Isso
não quer dizer que as condições não podem se tornar tão sérias quanto elas
foram em 1988", disse Elwynn Taylor, climatologista da Iowa State
University. "É só que a maior parte do dano à lavoura de milho de 1988 foi
causada no período de maio a junho. Este ano, junho vai terminar com a maior
parte da colheita avaliada como estando em boas condições".