Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro estão marcados para agosto deste ano |
Em carta
aberta enviada à OMS (Organização Mundial da Saúde), um grupo formado por mais
de 100 cientistas internacionais afirma que os Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro deveriam ser transferidos ou adiados em decorrência do surto de vírus
Zika.
Os
especialistas dizem que descobertas recentes sobre o zika tornam
"antiética" a manutenção dos Jogos no Rio. Na carta, os cientistas
também pedem que a OMS reveja com urgência suas recomendações sobre o Zika, um
vírus relacionado a uma série de problemas no nascimento, incluindo
microcefalia.
A carta
ainda diz que o adiamento ou a transferência dos Jogos também "diminui
outros riscos trazidos por uma turbulência história na economia, governança e
na sociedade do Brasil - que não são problemas isolados, mas que fazem parte de
um contexto que tornam o problema do Zika impossível de resolver com a
aproximação dos Jogos".
Em maio,
o Comitê Olímpico Internacional disse que não vê razões para atrasar ou
transferir os Jogos por causa da doença. No Brasil, a explosão da enfermidade
transmitida pelo mosquito Aedes aegypti aconteceu há um ano - hoje mais
de 60 países e territórios são afetados pela doença.
A carta
afirma que o Zika está relacionado à microcefalia (crescimento do crânio abaixo
da média) em recém-nascidos e que pode trazer síndromes neurológicas raras e às
vezes fatais a adultos.
O
documento é assinado por 125 cientistas, médicos e especialistas em ética
médica de instituições como as universidades de Oxford, no Reino Unido, Harvard
e Yale, ambas nos Estados Unidos.
Na carta, cientistas citam 'fracasso' na erradicação do Aedes aegypti, transmissor da doença |
Fracasso
Na carta,
eles citam o "fracasso" no programa de erradicação do mosquito no
Brasil e o sistema de saúde "fragilizado" do país como razões para o
adiamento ou transferência da Olimpíada, marcada para o próximo mês de agosto.
"Um
risco desnecessário é colocado quando 500 mil turistas estrangeiros de todos os
países acompanham os Jogos, potencialmente adquirem o vírus e voltam para a
casa, podendo torna-lo endêmico", diz o texto. O principal risco seria que
atletas contraíssem a doença e voltassem para suas casas em países pobres que
ainda não foram afetados pelo surto da doença.
A OMS,
que recentemente classificou o vírus como uma emergência global de saúde
pública, comentou a carta.
Segundo
nota enviada pelo órgão, baseado nas informações atuais, "cancelar ou
mudar o local da Olimpíada de 2016 não irá alterar siginificantemente a
propagação internacional do vírus Zika".
A OMS
lembra o que o Brasil é um dos mais de 60 países que continuam a reportar a
transmissão contínua do vírus por mosquito, e que pessoas viajam entre essas
nações por vários motivos.
A nota
reforça a recomendação de que mulheres grávidas evitem viajar para esses
lugares - o que inclui o Rio.
"Não
há motivos de saúde pública para adiar ou cancelar os jogos. A OMS continuará a
monitorar a situação e irá atualizar suas recomendações se necessário."
Na última
quinta-feira, o cientista Tom Frieden, chefe da Centro de Controle e Prevenção
de Doenças dos Estados Unidos, disse que "não há motivos de saúde pública
para o cancelamento ou atraso dos Jogos".
Ele
também pressionou autoridades norte-americanas a agirem mais rapidamente para
evitar que gestantes contraiam o Zika, em meio a um impasse no congresso sobre
a liberação de quase 2 bilhões de dólares para financiamento de políticas de
saúde.
Prefeitura do Rio diz que percorrerá todos os locais de competição |
“Brasil
preparado”
Procurado
pela BBC Brasil, o governo federal afirmou que o Zika está presente em 60
países, e que a população brasileira representa "apenas 15% das pessoas
expostas" ao vírus.
Na nota
enviada pelo Ministério do Esporte, a gestão do presidente interino Michel
Temer ressalta que agosto, mês da Olimpíada, é considerado um período "não
endêmico para transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti, como
Zika, dengue e chikungunya".
O texto
lembra que agosto foi o mês do ano passado com menor incidência de casos de
dengue no país.
O governo
diz ainda que a OMS não fez nenhuma recomendação para restrição em viagens,
"exceto às grávidas", e que a diretora-geral do organismo mundial,
Margaret Chan, já confirmou que virá aos Jogos. "O que deve ser
interpretado como um simbolismo da segurança deste período de baixa transmissão
do vírus Zika."
A nota
destaca ainda que o orçamento para ações de combate ao mosquito e às doenças
causadas por ele foram ampliadas, e que só no Rio foram contratados 3 mil
agentes para a mobilização contra o Aedes, entre outras medidas.
A
Prefeitura do Rio, por sua vez, informou que suas equipes vão diariamente a
campo, mesmo nos meses de menor incidência do mosquito.
"Ainda
que no mês de agosto, quando acontecem os Jogos Olímpicos, haja menos
incidência do mosquito, a prefeitura vai intensificar as inspeções",
afirma a nota.
"Cerca
de um mês antes da abertura do evento, uma equipe vai percorrer todos os locais
de competição para eliminar possíveis focos do vetor e, durante os jogos, uma
equipe fixa estará focada nas instalações olímpicas", acrescentou a gestão
carioca.
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