Texto apareceu originalmente na revista Polyteck. Uma publicação gratuita de tecnologia e
ciência desenvolvida para estudantes universitários.
A edição de
outubro da revista Science trouxe uma seção especial sobre comunicação na
ciência. Uma das reportagens revelou a falta de escrutínio na seleção de papers
publicados em periódicos de acesso aberto. Nesse artigo, o seguinte experimento
foi relatado: papers similares, que continham erros básicos e evidentes, foram
submetidos para vários periódicos de acesso aberto. O detalhe é que, além dos
erros, os autores e as instituições eram fictícios. Qualquer revisor com
conhecimentos de química do ensino médio e capacidade para entender uma
plotagem de dados seria capaz de perceber as falhas conceituais nos artigos
submetidos.
O resultado
deste experimento foi surpreendente: dos 304 jornais de acesso aberto que
receberam os artigos, 157 aceitaram os papers para publicação e 98 os
rejeitaram. Outros 49 não deram resposta até a publicação da revista, 29 destes
pareciam ter sido abandonados pelos criadores e os outros 20 enviaram um e-mail
para os autores avisando que o artigo continuava sob revisão.
Como os erros
nos trabalhos eram óbvios para qualquer leitor com conhecimento médio de
ciência, a reportagem da Science mostrou que os artigos provavelmente não foram
lidos antes de serem aceitos para publicação, além de não terem passado por
revisão por pares.
O artigo
original discute as implicações dessa falta de escrutínio na seleção dos papers
e rende uma boa leitura, assim como os outros artigos dessa edição especial da
Science. O tema “Comunicação na ciência” também abre espaço para nós, da
Polyteck, expormos os resultados de uma pesquisa de mercado que incentivou a
publicação da revista.
Realizamos
uma pesquisa qualitativa com o objetivo de entender como o estudante
universitário atualiza seus conhecimentos sobre tecnologia e ciência, quais
assuntos o interessa e quais são as principais fontes de informação que ele
utiliza. Para isso, foram entrevistados aproximadamente 100 alunos de cursos
relacionados à tecnologia e à ciência em três instituições de ensino superior
de Curitiba. As entrevistas foram conduzidas pessoalmente e seguiram um roteiro
informal; os resultados coletados foram analisados de forma qualitativa.
Ciência e tecnologia tratada de forma superficial e
errada
Grande
parte dos estudantes entrevistados demonstrou interesse por tecnologia e
ciência, porém poucos disseram ler artigos científicos. Alguns responderam que
leem blogs e sites especializados e a maioria disse que só acompanha o que é
publicado pelos grandes jornais e portais de comunicação.
Os meios
de comunicação generalistas, na maioria das vezes, são superficiais ao abordar
estes temas. Isso a princípio não é um defeito, pois estes jornais são
direcionados ao público leigo que, supõe-se, não tem suporte educacional para
compreender tais assuntos de forma aprofundada. Além da superficialidade, estes
meios de comunicação muitas vezes cometem gafes e erros ao publicar notícias de
tecnologia e ciência. Um exemplo disso ocorreu no começo deste mês: ao comentar
sobre a entrega do prêmio Nobel de Física, o jornal O Estado de S. Paulo
escreveu em sua página no Facebook (facebook.com/estadao): “Nobel de Física:
Prêmio vai para os descobridores da ‘Partícula de Deus’. Peter Higgs e François
Englert identificaram partículas que explicam a formação da vida como a
conhecemos.”. Em primeiro lugar: um físico comete suicídio no mundo cada vez
que o Bóson de Higgs é tratado como “Partícula de Deus”. Em segundo lugar, os
pesquisadores não identificaram, mas sim desenvolveram um modelo teórico que
previa a existência de tal partícula. Em terceiro, esta partícula subatômica
não explica a vida como a conhecemos, e sim a origem da massa das outras
partículas elementares.
Este é apenas um
entre muitos casos de divulgação científica inconsistente e superficial feita
pelos grandes jornais e portais de comunicação. Os universitários entrevistados
na pesquisa disseram utilizar preferencialmente estas fontes de informação, o
que, na nossa opinião, prejudica seriamente a formação do estudante
universitário. O aluno acaba adquirindo conhecimentos errôneos e superficiais,
e, na maioria das vezes, não se dá ao trabalho de verificar as fontes (quando
elas são citadas).
Falta de comunicação entre as disciplinas
Boa parte dos
universitários entrevistados não demonstrou interesse em temas não relacionados
ao curso que frequentam. A percepção que tivemos é que, de certa forma, cada
curso encontra-se isolado em relação aos outros e a comunicação entre diversas
áreas do conhecimento é falha dentro do ambiente acadêmico. Esse ponto de vista
foi compartilhado conosco por vários professores e alunos, que comentaram
sentir essa distância entre as áreas do conhecimento. Este “isolamento” parece
se estender desde os alunos de graduação até os docentes das instituições.
Ao mesmo tempo,
percebemos que já existe um esforço muito grande para transformar as
universidades em espaços mais interdisciplinares. Isso foi observado através da
existência de vários projetos de pesquisa que envolvem várias áreas do
conhecimento, das agências de inovação e dos esforços de alguns departamentos e
professores. Porém, ainda fica a impressão de que as engrenagens não se
encaixam perfeitamente e que esses projetos, de certa forma, rangem e até
quebram ao tentar girar juntos.
Na nossa
opinião, a troca de informações entre diferentes áreas é o que possibilita a
construção do conhecimento, e isto não tem ocorrido nas universidades de forma
eficiente. É possível até sugerir que essa falha na comunicação dentro das
universidades pode ser parcialmente responsável pela baixa produção de artigos
científicos nacionais de alto impacto, assim como pela tímida participação
brasileira no desenvolvimento de tecnologias de ponta.
A nossa
percepção é de que a criatividade está intimamente relacionada com a
diversidade de experiências e conhecimento. Quem possui conhecimentos mais
amplos e diversos, parece ter maior probabilidade de encontrar soluções
criativas para problemas. Acreditamos que é na interdisciplinaridade que nascem
as grandes revoluções tecnológicas, os produtos inovadores e as descobertas
científicas mais significativas. Por isso, convidamos você a fazer a sua parte.
Leia mais conteúdo de qualidade, compartilhe mais conhecimento, informe-se
sobre outras áreas e torne-se o pesquisador, empresário, professor ou
profissional que vai reinventar o Brasil.
Este é um artigo
de opinião e não passou por revisão por pares. Nós estamos ansiosos para ouvir
a sua opinião! Se você discorda, quer complementar ou fazer um comentário sobre
algo que foi dito neste artigo, acesse o QRcode abaixo, a nossa página no
Facebook ou envie um e-mail.
A revista Polyteck
A Editora
Polyteck publica mensalmente a Polyteck uma revista é interdisciplinar e tem
como objetivo auxiliar os estudantes universitários a:
- Aprender além do que é visto em sala de aula;
- Conectar diferentes áreas do conhecimento;
- Se aproximar do mercado de trabalho de tecnologia e ciência.
A
Polyteck publica notícias e artigos que possuem relevância, aplicabilidade e
abrangência multidisciplinar, todas embasadas nos melhores periódicos nacionais
e internacionais. Tudo isto para que o leitor depare-se com ideias inovadoras,
descubra novas maneiras de resolver velhos problemas e mantenha contato com os
avanços tecnológicos e científicos que têm potencial para mudar o mundo.
Nossa
missão é instigar a troca de informações e facilitar a integração entre
diversas áreas do conhecimento dentro das universidades e indústrias
brasileiras. Acreditamos que o contato com novas informações, pessoas e
experiências é a melhor forma de incentivar a criatividade, a inovação, o
desenvolvimento da cultura científica e o espírito empreendedor nos estudantes.
A revista
é distribuída gratuitamente em várias universidades, empresas e centros de
pesquisa, já que sabemos que a interação entre pessoas diferentes pode gerar
ideias capazes de mudar o mundo.
Ao mesmo
tempo oferecemos um meio de comunicação para que empresas se aproximem do
ambiente acadêmico, recrutem talentos e ofereçam produtos e serviços através de
publicidade.
Fontes:
Marcia McNutt, Science, 342, 6154, 13 (2013)
Marcia McNutt, Science, 342, 6154, 13 (2013)
John Bohannon, Science, 342, 6154, 60-65 (2013)
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