O físico
britânico Stephen Hawking, que morreu nesta quarta-feira na Inglaterra,
colecionou muitas vitórias ao longo de 76 anos de vida.
Foi
considerado um dos cientistas mais influentes do mundo desde Albert Einstein,
não só por suas decisivas contribuições para o progresso das teorias que
explicam o Universo, mas também por sua constante preocupação em aproximar a
Ciência das pessoas.
O talento de Hawking - que, para muitos, o faz digno de um Nobel que não veio durante sua vida - era combinar distintos campos da física. Direito de imagem Getty Images |
Ele
também enfrentou com coragem uma doença motora degenerativa, que o deixou em
uma cadeira de rodas e sem capacidade para falar de maneira natural. Por anos
usou um sintetizador de voz para se comunicar. O cientista morreu por
complicações da doença diagnosticada quando tinha 22 anos. Hawking sofria com
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).
Hawking desafiou
o prognóstico dos médicos, que lhe previram uma vida curta, e continuou
elaborando teorias e divulgando a Ciência por mais de 50 anos.
A BBC
Mundo, serviço em espanhol da BBC, selecionou cinco das grandes contribuições
que o físico britânico deu ao mundo.
1 - Buracos
negros
Stephen
Hawking dedicou toda a carreira a pesquisar as leis do Universo. Muitos dos
teoremas elaborados por ele, contudo, estão relacionados aos buracos negros.
Trata-se
de regiões do espaço que possuem forças gravitacionais tão intensas que nada
consegue escapar delas. Nem mesmo a luz - daí o nome "buracos
negros".
A ideia
data do século 18 e é, portanto, anterior a Hawking. Mas foi a Teoria Geral da
Relatividade, elaborada por Albert Einstein em 1915, que ajudou a entender que
a deformação no espaço-tempo causada pela massa de corpos celestes está ligada
à força da gravidade. Quanto maior a massa do corpo, maior a deformação e, por
sua vez, maior a força da gravidade.
Stephen Hawking dedicou anos da vida
pesquisando os buracos negros Direito
de imagem Reuters
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Nos anos
1970, Stephen Hawking usou os estudos de Einstein para descrever a evolução dos
buracos negros do ponto de vista da física quântica. E descobriu que não retêm
tudo dentro deles.
"Se
você cair em um buraco negro, não desista. Existe uma forma de sair de
lá", disse numa palestra em 2015 na Suécia.
"Eu
acho que minha maior conquista será (mostrar) que os buracos negros não são
completamente negros", disse o físico à BBC no ano passado. "Efeitos
quânticos", continuou ele, "faz com que eles brilhem como corpos
quentes com uma temperatura menor, quanto maior o buraco negro".
Esse
resultado foi completamente inesperado e mostrou que existe uma relação
profunda entre gravidade e termodinâmica.
Com o matemático britânico Roger Penrose, Hawking
se deu conta que os buracos negros eram como o Big Bang ao contrário. Direito
de imagem AFP
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Para
Hawking, essa é a chave para ajudar a resolver os paradoxos da mecânica
quântica e a relatividade geral, duas áreas da física que ainda estão em busca
de consenso.
2 - Radiação
Hawking
Ao
desenvolver o conceito chamado Radiação Hawking, o físico explicou como
informações das partículas ficariam na fronteira, ou no horizonte dos buracos
negros.
Para ele,
a física quântica ajuda a entender que os buracos negros são capazes de emitir
energia, perder matéria e até desaparecer. E os efeitos quânticos seriam os
responsáveis pelos buracos negros perderem parte de sua característica.
Roland
Pease, repórter de Ciências da BBC, explica: "Um buraco negro levaria
muito tempo para evaporar dessa maneira, mas em seus últimos anos, Hawking
disse que ele expiraria em uma explosão de energia equivalente a um milhão de
megatons de bombas de hidrogênio".
O trabalho de Hawking ajudou a comprovar a existência do Big Bang |
Em 2008,
quando o maior acelerador de partículas do mundo, o Grande Colisor
Elétron-Pósitron (LHC, na sigla em inglês), foi inaugurado na Suíça, criou-se
uma grande expectativa de que miniburacos negros seriam criados, provando, na
prática, a teoria de Hawking.
Se isso
tivesse acontecido, Roland Pease afirma que o britânico teria "com
certeza" recebido o Prêmio Nobel. Mas não foi o caso. O LHC não permitiu
comprovar a teoria do físico britânico.
3 - O Big
Bang
O
trabalho que Stephen Hawking conduziu sobre os buracos negros ajudou a provar a
ideia de que uma grande explosão, chamada Big Bang, foi o princípio de tudo.
Ainda que
tenha sido desenvolvida na década de 1940, a teoria do Big Bang não foi aceita
imediatamente por todos os estudiosos do cosmos.
Em
colaboração com o matemático britânico Roger Penrose, Hawking se deu conta de
que os buracos negros eram como o Big Bang ao contrário. Segundo o físico, os
cálculos usados para descrever os buracos negros também serviam para descrever
"a grande explosão".
'Estamos profundamente tristes pela morte do nosso pai hoje', disseram,
em um comunicado, os filhos Lucy, Robert e Tim quando confirmaram a notícia
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Roland
Pease explica que, "enquanto outros pesquisadores lutavam para descrever
um breve momento na vida de uma molécula usando leis quânticas, Hawking
(juntamente com o físico James Hartle) mostrou que era possível encapsular a
história de todo o Universo em uma única equação matemática".
A equação
ficou conhecida como o Estado de Hartle-Hawking, que os dois pesquisadores
britânicos costumavam chamar de "função de onda do universo".
Sobre
essa forma de explicar o Universo, Roland Pease afirma: "Porque a equação
é autossuficiente, ela começa em uma singularidade no início dos tempos e se
fecha com outra no fim dos tempos e, se necessário, o histórico pode saltar
entre estes dois extremos".
Juntando
todos esses conceitos, uma das afirmações mais ousadas de Hawking foi
considerar que a Teoria Geral da Relatividade de Einstein implicava que o
espaço e o tempo começaram no Big Bang e acabaram em buracos negros.
"Einstein
estava errado quando disse que 'Deus não joga dados'. A existência dos buracos
negros sugere não apenas que Deus brinca de dados, mas também nos confunde ao
jogá-los onde não podem ser vistos", disse o físico no livro A Natureza
do Espaço e do Tempo, publicado em 1996.
Stephen Hawking acreditava que o Universo evoluía
segundo leis. Direito
de imagem PA
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Para
Hawking, nenhuma lei da física se aplica até a ocorrência do Big Bang. O
Universo evoluiu de maneira independente ao que havia antes. Até a quantidade
de matéria no Universo pode ser diferente do que havia antes da explosão,
porque a Lei de Conservação da Matéria não se aplicaria ao Big Bang.
4 - A Teoria
de Tudo
Stephen
Hawking atraiu muita atenção ao sugerir, por meio da Teoria de Tudo, que o
Universo evolui segundo leis bem definidas.
No livro
de mesmo nome, Hawking mergulha nas histórias das teorias do universo. Começa
com Aristóteles, que afirmou que a Terra era redonda, e vai até à descoberta da
lei de Hubble, mais de dois mil anos mais tarde, que mostrava que o universo se
encontra em expansão.
Na obra,
ele traz elementos da física moderna, fala dos buracos negros, do tempo-espaço
e das perguntas ainda sem respostas. E defende combinar teorias parciais em uma
única.
"Esse
conjunto de leis pode nos dar respostas a perguntas como qual foi a origem do
Universo", declarou Hawking.
Em 2008, ele fez uma palestra em Washington e falou sobre por que a
humanidade precisa explorar o espaço | Foto: Jim Watson
|
"'Até
onde vamos - e haverá um final? E se for assim, como terminará?' Se
encontrarmos uma resposta para isso, será o maior triunfo da razão humana,
porque conheceríamos a mente de Deus", prometeu em Uma Breve História
do Tempo, publicado em 1988.
5 - Breve
história do tempo
Apesar da
complexidade de todos esses conceitos, Hawking fez um grande esforço para
difundir a cosmologia em termos fáceis de serem compreendidos pelo público em
geral.
"Eu
quero que meus livros sejam vendidos em lojas de aeroporto", declarou em
uma entrevista ao jornal americano The New York Times, em dezembro de 2004.
O livro Uma
Breve História do Tempo vendeu mais de 10 milhões de cópias no mundo.
Ainda
assim, Hawking tinha consciência de que as vendas não eram sinônimo de leitura
completa da obra. Anos depois, ele publicou uma versão mais leve e fácil de
digerir.
O grande
talento de Hawking, que, para muitos, o faz digno de um Prêmio Nobel que não veio
durante sua vida, era combinar distintos campos da física, mas igualmente
importantes: gravitação, cosmologia, teoria quântica, termodinâmica e teoria da
informação.
Descanse em paz, Stephen
Hawking (08/01/1942 a 14/03/2018)
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