A
conferência da ONU sobre o clima em Doha, no Catar, chegou ao seu final neste
sábado com uma mudança histórica em princípio, mas poucos avanços genuínos em
cortes de emissões de gases do efeito estufa.
Além
de conseguir um acordo para estender o Protocolo de Kyoto até 2020, a
conferência estabeleceu pela primeira vez que as nações ricas devem começar a
compensar as nações pobres por perdas em consequência das mudanças climáticas
Isso
foi comemorado como uma grande novidade pelas nações em desenvolvimento.
Mas
elas condenaram a distância entre a ciência das mudanças climáticas e as
tentativas políticas de combatê-las.
O
acordo, apoiado por quase 200 países, mantém o protocolo vivo como o único
plano legal obrigatório para o combate ao aquecimento global.
Porém
ele determina metas obrigatórias apenas para as nações em desenvolvimento, cuja
parcela de responsabilidade pela emissão de gases do efeito estufa é de menos
de 15%.
O
texto final "sugere" que as nações ricas mobilizem pelo menos US$ 10
bilhões ao ano entre 2015 e 2020, quando o novo acordo global para o clima deve
entrar em vigor, para compensações pelos efeitos das mudanças climáticas.
Reunião da ONU sobre mudanças climáticas foi
atrasada por impasse sobre compensações
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Protesto russo
A
conferência estava prevista inicialmente para terminar na sexta-feira, mas foi
prorrogada por falta de consenso.
As
negociações de última hora tiveram sua dose de drama, com uma ameaça de colapso
com a insistência da Rússia, da Ucrânia e de Belarus de que deveriam receber um
crédito extra pelos cortes de emissões ocorridos quando suas indústrias
fecharam.
Após
um longo atraso, o presidente da conferência perdeu a paciência, reiniciou as
reuniões e passou a agenda tão rapidamente que não houve chance de a Rússia
fazer objeções. A ação foi recebida com um longo aplauso.
A
Rússia reclamou de uma suposta ilegalidade de procedimentos, mas o presidente
afirmou que não faria mais do que refletir a visão russa em seu relatório
final.
Os
grandes emissores como os Estados Unidos, a União Europeia e a China aceitaram
o acordo com graus variados de reservas. Mas o representante das pequenas ilhas
gravemente ameaçadas pelas mudanças climáticas foi feroz em suas críticas.
"Vemos
o pacote diante de nós profundamente deficiente na mitigação (cortes de
emissões) e no financiamento. É provável que vá nos manter na trajetória de
aumento de 3, 4 ou 5 graus nas temperaturas globais, apesar de termos
concordado em manter um aumento de temperatura de no máximo 1,5 grau para
garantir a sobrevivência de todas as ilhas", afirmou.
Os
Estados-ilha aceitaram o acordo porque para eles é melhor do que nada.
Conferência não teve avanços concretos em compromissos de cortes de emissões de gases |
Perdas e Danos
Outros
diplomatas apontarão à imensa complexidade do processo liderado pela ONU, que
vem tentando avançar do antigo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, para uma
nova fase na qual tanto nações desenvolvidas quanto em desenvolvimento assumem
obrigações no combate às mudanças climáticas.
O
novo mecanismo proposto de Perdas e Danos, para compensar as nações em
desenvolvimento, é considerado um exemplo de sucesso no processo diplomático.
Até
agora as nações ricas aceitavam ajudar financeiramente países em
desenvolvimento a adotar projetos de energia limpa para combater as mudanças
climáticas, mas não aceitavam responsabilidade pelos danos causados em outros
lugares pelas mudanças climáticas.
Em
Doha esse princípio mais amplo foi aprovado.
A
maior tarefa dessas duas semanas de conferência foi o desenrolar do emaranhado
de acordos do clima que foi crescendo aos pedaços nos últimos 15 anos.
A
sensação geral é de que um bom trabalho de limpeza foi feito para ajudar a ONU
a partir para a próxima fase, com o objetivo de conseguir um acordo com
responsabilidades globais.
As
discussões preliminares sobre isso já aconteceram, e deixaram evidente que um acordo
global que seja justo para todos os lados será monumentalmente difícil.
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