A
excitação foi total nesta quarta-feira quando um cientista da NASA mencionou
uma descoberta "digna de entrar para os livros de história" feita
pelo veículo-robô Curiosity em Marte, mas, em seguida, a agência espacial
americana reduziu as expectativas em torno do feito.
"Esta
descoberta vai entrar nos livros de história, parece realmente excelente",
afirmou à rádio NPR John Grotzinger, diretor da missão Curiosity no Laboratório
de Propulsão a Jato Jet Propulsion Laboratory, JPL) em Pasadena (Califórnia,
oeste dos Estados Unidos).
Segundo
a entrevista, divulgada na terça-feira, análises feitas pelo robô enviado ao
planeta vermelho para tentar encontrar vestígios de vida no passado, teriam
apontado para uma descoberta incrível. Mas os cientistas não poderiam antecipar
nada mais antes de confirmar seus estudos preliminares, o que poderá levar
várias semanas.
Nesta
quarta-feira, no entanto, Guy Webster, responsável pelas relações com a imprensa
do JPL, reduziu a expectativa em torno de uma descoberta revolucionária.
"Uma descoberta "digna de entrar para os livros de história" feita pelo Veículo-robô Curiosity (Ilustração) - Foto de NASA/AFP |
Por que tanto
segredo?
Uma
experiência anterior mostrou como a cautela é importante quando se trata de
estudos cercados de especulações e expectativa: ao analisar uma amostra de ar
no planeta vermelho, a equipe encontrou traços de metano (gás que pode ser
produzido por organismos vivos e, assim, poderia indicar que houve vida em
Marte); contudo, os cientistas decidiram “segurar” a novidade.
"No
que diz respeito ao seu comentário sobre os 'livros de história', a missão em
seu conjunto tem uma natureza (que a torna candidata) a entrar nos livros de
história (...), não há nada específico no futuro que seja revolucionário.
"John
(Grotzinger) estava encantado com a qualidade das análises das amostras
provenientes do veículo robótico quando estava com um jornalista em seu
escritório na semana passada", explicou Webster. "Já tinha ficado
entusiasmado no passado com resultados anteriores e estará de novo no
futuro", acrescentou.
"A
equipe científica analisa os dados de uma amostra do solo marciano, mas não se
pode falar disso neste momento", continuou. "Isto não muda os
procedimentos habituais: deve-se confirmar os primeiros resultados antes de
torná-los públicos", afirmou.
No
final de setembro, o Curiosity descobriu cascalho proveniente do leito de um
antigo riacho, sustentando a hipótese da existência de água no planeta
vermelho. O veículo robô, dotado de vários instrumentos de medição e análise,
encontrou no mês passado "objetos brilhantes" na superfície do solo,
o que deixou os especialistas perplexos.
Cientista,
um “compartilhador”
Em
1996, um grupo de pesquisadores afirmou ter encontrado compostos orgânicos em
um meteoro vindo de Marte que atingiu a Antártida. Apesar da comoção gerada
pela notícia, a equipe não podia divulgar dados mais precisos, pois muitos
periódicos científicos proibiam os autores de falar sobre suas pesquisas antes
de sua publicação – que aconteceria naquele mesmo ano. Como havia a
possibilidade de os resíduos terem sido produzidos por processos inorgânicos, o
estudo não chegou a comprovar que eram indícios de que houve vida em Marte.
Para
o químico Richard Zare, que fez parte da equipe, manter o sigilo foi um
desafio. “A grande alegria da ciência é poder compartilhá-la”. Zare compara
pesquisadores a artistas, para quem o compartilhamento é essencial. “Quantos
compositores iriam realmente compor se lhes dissessem que ninguém poderia ouvir
suas obras? Quantos pintores iriam pintar quadros se soubessem que ninguém
poderia vê-los?”.
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