As
abelhas são capazes de levar em consideração as relações entre objetos, assim
como conceitos abstratos - um privilégio que se acreditava reservado a cérebros
como o dos mamíferos -, revela um estudo do Centro Nacional de Pesquisa
Científica francês (CNRS).
O
fato de as abelhas poderem utilizar simultaneamente duas ideias abstratas é um
resultado "completamente inesperado" que põe abaixo o pressuposto de
que "a elaboração de um saber conceitual" necessita de um cérebro do tamanho
do dos mamíferos, como o ser humano, destacam os cientistas neste estudo,
publicado pela revista americana PNAS (Proceedings of the National Academy of
Sciences).
Em
sua vida cotidiana, o ser humano utiliza os conceitos que relacionam objetos
diferentes através de sistemas do tipo: "igual",
"diferente", "maior", "acima de".
Uma abelha tira o néctar de uma flor, em
Hanover, centro da Alemanha
- Foto de Julian Stratenschulte/AFP
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A
equipe do professor Martin Giurfa (CNRS), da uUiversidade Toulouse III Paul
Sabatier, demonstrou que as abelhas também eram "capazes de gerar e depois
manipular conceitos para ter acesso a uma fonte de alimento".
"O
notório", disse o professor, ouvido por telefone, "é que podem,
inclusive, utilizar dois conceitos diferentes para tomar uma decisão, ante a
uma situação nova".
As
abelhas demonstraram que podem conseguir água com açúcar (a sua recompensa) ou
a um líquido azedo (castigo) mediante dois orifícios colocados entre imagens
que variavam de posição. Se serviam para isso das noções "acima de"
ou "ao lado de", que associavam com o prêmio ou a punição.
"Ao
final de 30 tentativas, as abelhas passavam a reconhecer, sem equívocos, a
relação que as guiaria para a água açucarada", mesmo "quando eram
utilizadas imagens que não viram nunca", explicou o professor Giurfa.
Segundo
os cientistas, a experiência pôs em destaque que as abelhas ignoravam os
estímulos realizados com imagens idênticas, "demonstrando que, além dos
conceitos 'acima, abaixo e ao lado' manipulavam simultaneamente o de
'diferença' para tomar sua decisão".
"Esta
capacidade, que se acreditava própria dos seres humanos e de alguns primatas,
demonstra que as análises cognitivas sofisticadas são possíveis, na ausência de
linguagem, apesar de uma arquitetura neural em miniatura", concluíram.
Essa
investigação, assegura o CNRS em comunicado, "questiona muitas teorias em
âmbitos como a cognição animal, a psicologia humana, as neurociências e a
inteligência artificial".
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