2011 - Ano Internacional da Química |
Encontramo-nos a celebrar o Ano Internacional da Química. Num breve relâmpago histórico diria que a química começa volver-se numa ciência independente já nos finais do século XVII com Becher e Stahl, para cerca de um século depois, com Lavoisier, surgir já como uma “química moderna” conquistadora de territórios e reivindicando a dignidade e a legitimidade de uma verdadeira ciência.
William Henry Perkin foi o «pai» da verdadeira ligação da ciência com a indústria |
No século XIX surge a química acadêmica e profissional. Ainda no século XIX e subsequentemente no século XX, os territórios da química vão ser cada vez mais de perfil industrial, no mundo da produção e do trabalho. A verdadeira ligação da ciência com a indústria deu-se através da química — o protótipo da indústria científica do século XIX —, com a descoberta dos corantes sintéticos por Perkin em 1856.
Por fim, marcadamente após a 2ª Grande Guerra, vai surgir a química desagregada em subdisciplinas, como uma ciência de serviço. O caráter utilitário da ciência, e mormente da química, é bem notório, porque a química lida com as transformações da matéria.
Por fim, marcadamente após a 2ª Grande Guerra, vai surgir a química desagregada em subdisciplinas, como uma ciência de serviço. O caráter utilitário da ciência, e mormente da química, é bem notório, porque a química lida com as transformações da matéria.
Uma Química onipresente
«A química está em toda a parte no mundo que nos rodeia ─ naquilo que comemos, no que nós respiramos, na maneira como vivemos, e naquilo que somos. Os químicos não só estudam como as “coisas” são, mas também o que fazem e como o fazem, a partir de partículas subatômicas, essencialmente elétrons e prótons, até aos grandes conjuntos de moléculas.
A Química é também muito criativa: produz novas substâncias todos os dias, numa constante busca por novos materiais, novos medicamentos e novas formas de fazer as coisas melhor, com menos gastos de reagentes, de energia, de tempo de preparação e impactos cada vez menores no ambiente, bem como na busca de novos modos de compreensão de como a Natureza funciona.
A química é das ciências mais rigorosas, porque se baseia não só no rigor lógico-matemático como no ultra rigor do confronto com a realidade experimental. A precisão e o rigor experimental algemam os químicos, pelo que não é uma ciência de índole especulativa.
A hierarquia de todas as ciências
A Química é a ciência central no contexto e hierarquia de todas as ciências, pois a ela se tem sempre de recorrer para estudar os fenômenos biológicos, físicos, médicos e do meio ambiente bem como os da engenharia dos materiais e da nanotecnologia. Uma nanociência que se está a construir a partir da química, mas que se antecipa no final podendo vir a ter uma enorme importância, com inúmeras aplicações.
Os químicos intervêm no mundo |
Os químicos intervêm no mundo e por isso a Química é a ciência fundamental que tem tido um impacto na humanidade, superior ao de todas as outras ciências combinadas. Ao desvelar a estrutura do DNA vem a transformar a Biologia de uma ciência descritiva numa ciência de base química física.
Atente-se ao papel da química no desenvolvimento de medicamentos e de contraceptivos, de detergentes e outros produtos de higiene, na criação e transformação dos polímeros desde os plásticos aos materiais de alta tecnologia e polímeros funcionais. Na detecção de substâncias e controle da qualidade na produção industrial e no ambiente, nos cuidados de saúde, na detecção do crime, a química forense.
Uma linguagem para todo o tempo
Proporciona entendimento a respeito da complexidade molecular do mundo e das suas transformações, e das suas relações com os seres vivos e com o próprio homem. A linguagem química, de base molecular, foi um longo processo de conquista que se iniciou com Dalton; tem grande beleza estética e faz a ligação entre as ciências físicas e as ciências biológicas. É uma língua internacional, uma linguagem para todo o tempo, uma língua sem dialetos.
É a linguagem que permite explicar de onde viemos, o que somos, e para onde o mundo físico nos vai permitir caminhar em sustentabilidade. Não há fundamento para uma fobia da química com as precauções próprias na utilização de fertilizantes, de pesticidas e no tratamento de resíduos urbanos e industriais.
Evoluímos de uma sociedade baseada na revolução industrial para uma sociedade baseada no conhecimento |
Evoluímos de uma sociedade baseada na revolução industrial para uma sociedade baseada no conhecimento. Globalização na economia, circulação na informação e nos capitais, produção industrial, formação do conhecimento. O investigador não busca o conhecimento pelo conhecimento, mas sim a resolução de problemas específicos e de situações.
Um conhecimento científico mais integrado
O Séc. XXI vai ter outro tipo de conhecimento, que já começou a desenvolver-se nos finais do Séc. XX por um caminho baseado na criatividade inovadora, que recorre a uma amálgama de dados empíricos, teorias, meios computacionais e de simulação. Daí que a ciência pós-académica e a sociedade de informação produzirão um conhecimento científico mais integrado.
A base de dados do Essential Science Indicators mostra que das 21 áreas científicas que colige, em Portugal a “Química é a área com maior impacto internacional. Na atualização de Setembro de 2011 corresponde a 16,1% do total de citações do país no período dos últimos 10 anos; segue-se a “Medicina Clínica” com 15,2% e a “Física” com 10,7%.
Do perfil das várias áreas científicas cultivadas nos diferentes países emergem as «marcas culturais» na ciência. E se tais marcas são de língua, de história e de geografia, também refletem preocupações e anseios sociais — a «função social da ciência». Ora esta função social é bem traduzida, a nível europeu, na proporção relativa de apenas três grandes áreas: Medicina Clínica, Física e Química. A que, a nível, mundial há que acrescentar a área de Ciências de Materiais.
O outra componente, em 2ª ordem de importância, por estranho que nos soe, é a das «culturas religiosas».
O texto que aqui se revela será a intervenção de abertura do Café da Ciência hoje, dia 28, na Assembleia da República de Portugal. O encontro pode ser seguido através do Ciência Hoje.
NOTA: Me orgulho se ser mais um, nesta lista longa de Químicos espalhados pelo planeta.
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