Agora
que a nave Curiosity conseguiu pousar com segurança em Marte, podemos esperar
uma inundação de fotos avermelhadas. Mas por que mesmo o planeta vermelho é
vermelho?
A
resposta mais simples e óbvia é que Marte é vermelho por que o regolito, ou a
poeira que cobre o planeta, é rica em óxido de ferro, ou ferro “oxidado”, o
mesmo elemento que também dá a cor avermelhada ao sangue. Mas esta resposta
levanta outras três: por que Marte é rico em ferro? Por que este ferro está
oxidado? E por que o ferro oxidado tem esta coloração avermelhada?
Tudo
começou 4,5 bilhões de anos atrás, quando o nosso sistema solar ainda estava em
formação. Cada planeta recebeu sua dose de poeira ferrosa. Na Terra, a maior
parte do ferro acabou afundando quando o planeta estava mais líquido, e formou
o núcleo que é hoje responsável pelo nosso forte campo magnético.
Já
em Marte a coisa é diferente. O planeta é menor, e talvez a gravidade menor
seja responsável pelo ferro não afundar tão rapidamente. O núcleo formado é
pequeno, e o resto do planeta é rico em ferro.
Isso
explicaria a riqueza de ferro, mas por que a cor vermelha? Originalmente, o
ferro é preto. Mas se ele for exposto a oxigênio suficiente, ele se torna óxido
de ferro III, uma molécula composta de dois átomos de ferro e três átomos de
oxigênio. O que nos leva a mais uma pergunta: como é que tanto oxigênio
combinou-se com ferro, em Marte?
Marte é vermelho por causa da abundância de óxido de ferro no planeta |
E
para esta pergunta ainda não há uma resposta definitiva. De certo, só sabemos
que algum tipo de intemperismo gradualmente oxidou o ferro em Marte, mas será
que foram as chuvas marcianas que oxidaram o ferro? Ou foi o sol, quebrando os
componentes da atmosfera marciana em oxidantes como o peróxido de hidrogênio e
ozônio, que causou a lenta oxidação durante os bilhões de anos que se passaram?
Ou será que a teoria sugerida em 2009, que as tempestades marcianas foram
quebrando os grãos de sílica, e expondo sua superfície rica em oxigênio ao
contato com o ferro?
Enquanto
ninguém souber a resposta certa, a cor avermelhada de Marte será, de certa
forma, um mistério. Seja lá como foi que aconteceu, a cor avermelhada deve-se,
em última análise, ao fato do óxido absorver os comprimentos de onda azuis e
verdes, e refletir os comprimentos de onda vermelhos.
E
graças a esta cor sanguínea, visível a dezenas de milhões de quilômetros de
distância, o planeta está ligado ao nome do deus romano da guerra – Marte.
Outras civilizações também nomearam o planeta pela sua característica mais
marcante. Os egípcios o chamavam de “Her Desher”, ou “o vermelho”, enquanto os
astrônomos chineses antigos chamavam-no de “a estrela de fogo”.
CURIOSIDADES SOBRE O PLANETA VERMELHO
Marte,
o quarto planeta a partir do sol, recebe seu nome em homenagem ao deus romano
da guerra (e graças à sua cor de sangue-ferrugem).
Marte agora é vermelho mais no passado era como um carvão vegetal - NASA / ESA / Hubble Team
|
Do
ponto de vista exploratório, o apelido é apropriado: Marte lutou contra a
maioria dos nossos avanços científicos. Mais da metade das naves espaciais
enviadas para estudar o planeta vermelho (que foram mais de 40) fracassaram,
algumas se perderam no espaço, e outras desmoronaram na superfície do planeta.
Apesar
disso, nossa curiosidade sobre Marte nunca diminuiu. Várias missões continuam
insistindo no planeta dos potenciais marcianos (uma de uma nave chamada
Curiosidade, inclusive).
Os
cientistas esperam que essas novas missões ajudem a responder velhos mistérios
desse mundo, que incluem:
Morada
da vida?
Não
há como falar sobre Marte sem levantar a questão da vida. Muitos cientistas
consideram o planeta vermelho o lugar mais provável em nosso sistema solar em
que a vida extraterrestre poderia ter se desenvolvido uma vez – ou mesmo ainda
existe. O que todo mundo quer saber é: o planeta já abrigou vida?
Hoje,
e na maior parte de sua história, Marte é um mundo frio, seco e desolado. Mas
várias linhas de evidência apontam que o planeta já foi quente, úmido e muito
mais parecido com a Terra – isso cerca de quatro bilhões de anos atrás, no
início de sua vida.
Para
criar vida, é necessária água. E adivinhem? Sinais indicam que Marte já foi
absolutamente encharcado. Minerais na sua superfície, tais como sulfatos e
argilas, só poderiam ter se formado na presença de água.
Muitas
características geológicas sugerem que grandes torrentes de água fluíram no
planeta. Uma enorme quantidade de água ainda existe em Marte, mas congelada e
afastada (nas calotas polares), como permafrost e gigantes geleiras
subterrâneas recém-descobertas.
Evidências
de vida microbiana marciana já vieram em muitas formas: uma experiência
contestada na década de 1970; um famoso “meteorito marciano”, recuperado na
Antártida, com estruturas estranhas que alguns pesquisadores interpretaram como
minúsculos fósseis preservados na rocha que decolou de Marte; e baforadas de
metano na sua atmosfera fina que poderiam ter uma origem biológica.
De quente e úmido a frio e seco
O
próximo grande mistério sobre Marte é: o que aconteceu? Marte era quente,
molhado e interessante apenas 500 milhões a um bilhão de anos atrás. E daí a
diversão simplesmente acabou?
Futuras
missões de exploração em Marte levarão equipamentos mais sensíveis para ajudar
a responder as perguntas inter-relacionadas sobre a vida e a mudança gritante
de condições no planeta vermelho.
A
NASA vai pousar em Marte no próximo verão do hemisfério norte e começar a
analisar rochas enviando imagens a Terra para estudo. Além disso, a Agência
Espacial Europeia está preparando uma nave para um lançamento ao planeta em
2018. Uma missão de recolha de amostras de solo e rochas de Marte tem sido
considerada, mas ainda não está programada.
Pouco
a pouco, os cientistas esperam responder se Marte já teve uma atmosfera
espessa, e também como a atividade geológica e o vulcanismo influenciaram o
planeta ao longo das eras. Afinal, Marte é a casa do Vale Marineris, um dos
sistemas cânions mais longos conhecidos, e de Monte Olimpo, o maior vulcão do
sistema solar.
Dois hemisférios
muito diferentes
Marte
é muito diferente de norte a sul: as planícies mais jovens com poucas crateras
predominam no norte, enquanto montanhas antigas cheias de crateras caracterizam
o hemisfério sul. O hemisfério norte também é em média de 5 quilômetros menor
do que o sul. Como?
A
melhor aposta para a “dicotomia hemisférica” de Marte é um impacto gigante que
deve ter ocorrido no norte a partir de um corpo do tamanho de Plutão quatro
bilhões de anos atrás. Se a teoria estiver correta, isso significaria que 40%
do norte de Marte é na verdade uma cratera de impacto. Isso daria ao planeta
outro superlativo geológico: a maior cratera de impacto do sistema solar.
Luas engraçadas e irregulares
Marte
tem duas luas pequenas, em forma de batata, chamadas Fobos e Deimos. Em muitos
aspectos, incluindo tamanho, forma, cor e composição aparente, as luas parecem
ser asteroides capturados pela gravidade rebelde de Marte. Mas o fato de que
Fobos e Deimos têm órbitas circulares em cima do equador de Marte desafia esse
conceito.
Seria
muito improvável que dois asteroides capturados tivessem essa trajetória e
história subsequente para se resolver em tal arranjo orbital. Como Fobos e
Deimos realmente chegaram a Marte permanece um mistério.
As
luas poderiam ter se formado a partir de material retirado de Marte por um
impacto, assim como nossa lua, e mantiveram uma forma irregular porque lhes
faltava a massa e gravidade correspondente para se tornarem esféricas.
Também,
nas décadas de 1950 e 1960, nasceu a especulação que Fobos e Deimos pudessem
ser artificiais – mas isso já foi desmascarado, juntamente com todos os outros
rumores marcianos sobre irrigações, canais, rostos humanos esculpidos em rochas
e pequenos homens verdes com armas de laser.
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