Equipe do CNC quantifica produção da molécula em tempo real e ‘in vivo’
Pesquisadores Rui Barbosa e João Laranjinha |
O óxido nítrico (NO) é “uma molécula estranha e revolucionária, tem uma importante acuidade dual”, ou seja, é conhecida, de há longa data, como “um poluente atmosférico e, que por seleção natural, funciona como mediador da memória e da aprendizagem no nosso cérebro, mas por outro lado também participa na morte celular, associado a doenças neuro degenerativas, devido à sua toxicidade”, explicou João Laranjinha, investigador da Faculdade de Farmácia e do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) estabelecida na cidade de Coimbra, Portugal.
É devido às suas características que João Laranjinha e o seu colega Rui Barbosa, já estudam a molécula há mais de uma década. Agora, a equipe da Universidade de Coimbra conseguiu finalmente perceber a “dinâmica da concentração do NO”, quantificando a produção da molécula em tempo real e ‘in vivo’, e o seu raio de difusão no cérebro. A investigação pode abrir caminho para o tratamento de doenças como Alzheimer ou Parkinson.
Este radical livre é “dotado de acuidade dual, porque atua simultaneamente como um neuromodelador e neurotoxina”, ou seja, tem uma ação positiva ao nível da memória e da aprendizagem e uma ação nefasta ao nível da morte celular associada a doenças neuro degenerativas.
“A maior parte das moléculas interagem com um determinado receptor, por sinapse”, recorda o investigador, acrescentando que “o NO vai interagindo com os alvos que encontra pelo caminho, não tem um destinatário específico. Esta é uma molécula muito pequena e difusível, não pode ser armazenada”.
Os recentes resultados fazem a analogia do óxido nítrico com “uma ligação wireless” do cérebro, porque “o gás produzido nos neurônios é o mediador do acoplamento neuro vascular, isto é, além de ter um papel central para a sobrevivência dos neurônios “faz a ponte” entre o sistema nervoso central e o sistema vascular”, sublinhou ainda o líder da equipa de investigação.
Recorde-se que a descoberta dos benefícios do óxido nítrico foi a causa da atribuição do Prêmio Nobel da Medicina, em 1998, aos norte-americanos Louis Ignarro, Robert Furchgott e Ferid Murad, ao concluírem as suas propriedades sinalizadoras.
NO atua como neuromodelador e neurotoxina. |
O investigador assinalou também que “ao conseguir medir e descrever a dinâmica da concentração de óxido nítrico, criam-se boas perspectivas para determinar de que modo a molécula deixa de ser benéfica e passa a ser tóxica e, assim, desenvolver métodos que interfiram nos mecanismos por ela modulados para evitar a morte celular”.
Microelétrodos: A vantagem competitiva
Conhecendo a dinâmica do NO, podemos determinar qual o balanço, ou seja, “se tende mais para o Doutor Jekyll [neuromodelador] ou para o Mister Hyde [neurotoxina]”, referiu.
Perante o problema, os cientistas começaram por construir, de início, microelétrodos de fibra de carbono quimicamente modificados (com espessura dez vezes mais fina do que um cabelo) e desenvolveram métodos únicos de medição da “nuvem” de NO que se forma no cérebro, em tempo real e in vivo, em ratos e camundongos de laboratório. “A criação destes microelétrodos são a nossa vantagem competitiva em termos de grupo”, adiantou Laranjinha. E embora seja "uma intervenção invasiva, não provoca qualquer dor por serem muito finos”.
Perante o problema, os cientistas começaram por construir, de início, microelétrodos de fibra de carbono quimicamente modificados (com espessura dez vezes mais fina do que um cabelo) e desenvolveram métodos únicos de medição da “nuvem” de NO que se forma no cérebro, em tempo real e in vivo, em ratos e camundongos de laboratório. “A criação destes microelétrodos são a nossa vantagem competitiva em termos de grupo”, adiantou Laranjinha. E embora seja "uma intervenção invasiva, não provoca qualquer dor por serem muito finos”.
Se perguntarmos como se quantifica a molécula, João Laranjinha sublinha que é um dogma, porque “baixas concentrações conferem-lhe uma tendência fisiológica e altas concentrações uma patológica, mas ninguém sabe quais são essas concentrações ao certo”.
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