Tamanho do planeta anão foi calculado com precisão
Astrônomos mediram pela primeira vez de modo preciso o diâmetro de Éris, o longínquo planeta anão, no momento em que este passou em frente de uma estrela de luminosidade baixa. Os resultados são publicados hoje na revista «Nature».
Éris durante a ocultação de Novembro 2010. |
O fenômeno foi observado no final de 2010 por telescópios no Chile, incluindo o telescópio belga TRAPPIST que se encontra instalado no Observatório de La Silla do Observatório Sul Europeu (ESO) e mostrou que Éris é um gêmeo quase perfeito de Plutão em termos de tamanho. Parece ainda ter uma superfície muito refletora, sugerindo que se encontra uniformemente coberto por uma fina camada de gelo, provavelmente uma atmosfera gelada.
Em Novembro de 2010 o distante planeta passou em frente de uma estrela de fundo de luminosidade baixa, num acontecimento a que chamamos ocultação – momento raro e difícil de observar, uma vez que Éris se encontra muito longe e é pequeno. Estima-se que o próximo acontecimento do gênero tenha lugar apenas em 2013. As ocultações oferecem a maneira mais precisa, e muitas vezes a única maneira, de medir o tamanho e estimar a forma de corpos muito distantes do Sistema Solar.
A estrela candidata a ocultação foi identificada ao serem estudadas imagens obtidas com o telescópio MPG/ESO. As observações (em 26 locais diferentes do globo) foram planeadas cuidadosamente por uma equipe internacional de astrônomos de várias universidades (principalmente de França, Bélgica, Espanha e Brasil).
“Observar ocultações de pequenos corpos do sistema solar situados além de Netuno requer grande precisão e planejamento. Esta é a melhor maneira de medir o tamanho de Éris, sem necessidade de ir até lá”, explica Bruno Sicardy, o autor principal do trabalho.
Éris medido com precisão. (Imagem: ESO) |
Apesar dos 26 pontos que seguiam o tema, só foi possível observar o evento diretamente em dois lugares apenas, ambos situados no Chile: um no Observatório de La Silla do ESO com o telescópio TRAPPIST e o outro em São Pedro de Atacama, onde se utilizaram outros dois. As visualizações registaram uma diminuição do brilho da estrela distante, quando Éris bloqueou a sua radiação.
As observações combinadas dos dois locais chilenos indicam que Éris tem uma forma praticamente esférica. Estas medições são bastante precisas no que dizem respeito à forma e ao tamanho do objeto, mas apenas se não tiverem sido distorcidas pela presença de montanhas altas, o que dificilmente existirá num corpo gelado tão grande.
Éris e a nova classe de objetos
Éris foi identificado como sendo um objeto grande situado no Sistema Solar exterior em 2005. A sua descoberta foi um dos motivos que levou à criação de uma nova classe de objetos chamados planetas anões e à reclassificação de Plutão de planeta para planeta anão em 2006. Encontra-se atualmente três vezes mais longe do Sol do que Plutão.
Embora observações anteriores sugerissem que Éris era maior do que Plutão, este novo estudo prova que os dois objetos têm essencialmente o mesmo tamanho. O novo diâmetro calculado é de 2326 quilômetros com uma precisão de 12 quilómetros, o que torna o seu tamanho melhor conhecido que o de Plutão, que tem um diâmetro estimado entre 2300 e 2400 quilômetros. No entanto, descobriu-se que Éris é 27% mais pesado do que Plutão.
“Esta densidade significa que o planeta anão é provavelmente um grande corpo rochoso coberto por um manto relativamente fino de gelo,” comenta Emmanuel Jehin, que participou neste trabalho.
Refletor e gelado
Descobriu-se que a superfície de Éris é muito refletora, com 96 por cento da luz que lhe chega (albedo visível de 0.96). Este valor corresponde a uma superfície ainda mais brilhante do que neve fresca na Terra, tornando o planeta num dos objetos do Sistema Solar mais refletores, em simultâneo com a lua gelada de Saturno, Enceladus. A superfície brilhante de Éris é muito provavelmente composta por uma mistura de gelo rico em azoto e metano gelado – como nos indica o espectro do planeta – que cobre todo o planeta com uma camada de gelo fina muito refletora com menos de um milímetro de espessura.
“Esta camada de gelo pode ter resultado da condensação em gelo da atmosfera de azoto ou metano do planeta anão, que atinge a superfície à medida que o planeta se afasta do Sol ao longo da sua órbita alongada e entra cada vez mais num ambiente frio,” acrescenta Jehin. O gelo pode posteriormente voltar a transformar-se em gás à medida que Éris se aproxima do ponto mais próximo do Sol, a uma distância de cerca de 5.7 mil milhões de quilómetros.
Com os novos resultados a equipe pôde também estimar a temperatura à superfície do planeta anão, obtendo um resultado de no máximo -238º Celsius para a superfície iluminada pelo Sol e menos ainda para o lado noturno de Éris.
“É extraordinário o quanto podemos aprender sobre um objeto distante pequeno como Éris quando o observamos a passar em frente de uma estrela tênue, utilizando telescópios relativamente pequenos. Cinco anos depois da criação da nova classe dos planetas anões estamos finalmente conhecendo bem um dos seus membros,” conclui Bruno Sicardy.
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