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Sejamos proativos nas questões relacionadas às mudanças climáticas, pois não seremos poupados de seus efeitos devastadores a curto e longo prazo.
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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

OS ANIMAIS QUE CONSEGUEM FICAR MESES (OU ANOS) SEM ÁGUA



O demônio espinhento da Austrália tem sulcos para captar o orvalho

De acordo com a Nasa, a agência especial americana, 2016 poderá entrar para a história como o ano mais quente já registrado. E, com altas temperaturas, vêm as secas: a região oriental do Mediterrâneo, por exemplo, passa pela pior estiagem em 900 anos.
A escassez de água afeta homens e animais. Nós normalmente perdemos cerca de quatro a nove copos d'água por dia, através de urina, fezes, respiração e suor.
Se não bebermos o suficiente para satisfazer nossa sede, o custo pode ser alto. Os sintomas da desidratação vão de cansaço, dores de cabeça, e dores musculares à taquicardia e perda de consciência.
Animais também sofrem. Mas algumas criaturas, principalmente as que vivem em ambientes de seca sazonal, contam com mecanismos engenhosos para lidar com a aridez.
Caixa d'água
Alguns animais usam tanques internos. Tartarugas, por exemplo, armazenam água em suas bexigas. Quando chove ou têm acesso a folhas verdes, os répteis aproveitam para encher o tanque e podem extrair a água em tempos mais secos, usando as paredes permeáveis da bexiga.
Por isso, cientistas alertam para que essas tartarugas sejam manuseadas com cuidado. "Se você pegar uma tartaruga e perturbá-la o suficiente, eventualmente terá uma poça no chão - basicamente derramará o cantil dela", explica Glenn Walsberg, da Universidade Estadual do Arizona, nos EUA.
Tartarugas armazenam água na bexiga
Já uma espécie australiana de sapo, batizada justamente de retentora, guarda água não só na bexiga, mas também nas guelras e mesmo em tecidos internos. Este anfíbio chega a duplicar seu peso, mas compensa com o fato de que pode passar até cinco anos sem beber.
A ironia é que sapos que retêm água podem acabar servindo como um cantil para predadores - cobras, pássaros, crocodilos e cães selvagens, por exemplo. Ou mesmo seres humanos - na Austrália, por exemplo, a tribo aborígene Tiwi mata sua sede no período de seca capturando os sapos e os espremendo sobre a boca.
Cobertura de gosma
Outras criaturas criaram outras maneiras de evitar a desidratação. Nos desertos da América do Norte, por exemplo, os sapos pé-de-pá usam as patas para cavar tocas em que se escondem por pelo menos nove meses do ano.
Lá, envolvem-se em uma membrana de muco para conservar água. "Eles só saem quando começa a chover de novo", explica Walsberg.
Rãs arbóreas nas Américas do Sul e Central reduzem a perda hídrica através da secreção de um material ceroso impermeável em sua pele.
Como parte de um experimento, Walsberg uma vez guardou um sapo em uma caixa de sapatos por meses a fio. "Quando abri a caixa, encontrei algo que parecia um sapo mumificado. Adicionei água, e o sapo se reidratou, largou sua pele e estava totalmente bem."
O peixe pulmonado australiano, que se assemelha a uma enguia, vive em águas rasas de mangues e brejos. Quando a água seca, ele simplesmente vai para terra firma e passa a respirar pelo ar em vez da água.
A espécie tem uma bexiga que se transforma em um pulmão e secreta uma camada gosmenta para minimizar a perda de líquido. Essa membrana permite que o peixe possa passar meses em terra, dormindo em um estado de animação suspensa por até cinco anos, sem precisar de comida ou água. Só acorda quando as águas voltam.
Ratos-de-bolso extraem água de sementes
Só comida
Para alguns animais do deserto, a comida é frequentemente uma das melhores fontes de água, e que pode ser armazenada mais facilmente que líquido.
Ratos norte-americanos, como o rato-de-bolso mexicano, coletam sementes em tempos úmidos e vivem delas pelo resto do ano. "Eles sobrevivem com esse estoque até que mais comida esteja disponível", explica Mary Price, da Universidade da Califórnia.
Esses roedores passam os dias quentes escondidos em suas tocas, comendo as sementes, saindo da toca apenas à noite. As sementes são ricas em carboidratos e delas os ratos produzem "água metabólica", o que torna desnecessário beber água.
Se você deixar um rato-de-bolso e um punhado de sementes em um pote durante um ano, quando você voltar encontrará metade fezes, metade semente e um rato vivendo normalmente", completa Walsburg.
Se ratos se valem de carboidratos para produzir água, mamíferos maiores têm a gordura como fonte. Camelos são um bom exemplo.
Para cada grama de gordura que metaboliza, consegue pouco mais de 1 ml de água. Sendo assim, em vez de armazenar água em suas corcovas, eles usam gordura - até 36kg dela.
Algumas espécies de rãs acabam virando alvo justamente por armazenarem líquido
Se a gordura é uma boa fonte de água, é tentador estranhar não vermos animais obesos se arrastando pelo deserto.
No entanto, animais com gordura mais distribuída sofreriam para se manterem refrescados, porque a gordura é um isolante térmico. Por isso, por exemplo, é que o camelo concentra seu depósito nas corcovas.
Tapando vazamentos
A maioria dos animais do deserto é "avarento" no que diz respeito ao consumo de água.
Os ratos-cangurus, por exemplo, têm rins capazes de extrair água da urina antes de se livrarem dela. Suas fezes são compostas de menos de 50% de água, muito mais seco que o normal.
Suar e ofegar pode ajudar animais a se refrescarem, mas também resultam em perdas de água. Para driblar isso, camelos não ofegam e têm menos glândulas sudoríferas, mas ainda assim conseguem variar sua temperatura em até seis graus em um dia.
"Nós humanos gastamos muita energia para manter nossa temperatura corporal perto de 38°C. Os camelos têm menos limites de regulagem de sua temperatura, o que é um grande método para diminuir a dependência de água", explica Walsberg.
Camelos e ratos-cangurus, assim como avestruzes, contam ainda com um sistema respiratório que os ajuda a respirar menos ar.
O ar nos pulmões de um rato-canguru, por exemplo, é quente e saturado com água, mas a ponta de seu nariz é fria. No meio do caminho, há uma passagem de ar que é como um labirinto e, à medida que o ar sai dos pulmões para atmosfera, o vapor d'água se condensa na membrana do nariz do rato e se torna água, em vez de expirada.
Camelos e dromedários processam água da gordura armazenada nas corcovas
Em suas tocas, o vapor d'água que escapa acaba preso nas paredes da toca e respirado novamente.
Pegue-me se puder
Se alguns animais conservam água, outros buscam apanhar cada gotinha que puderem.
Um exemplo é o demônio espinhento, uma espécie de lagarto australiano que consegue beber com sua pele. Os espinhos que cobrem seu corpo estão repletos de sulcos que atraem umidade, incluindo orvalho. Um sistema de canais leva a água até a boca do animal, que suga as gotas.
A perdiz-de-areia, espécie de pássaro dos EUA, armazena pequenas quantidades de água em suas penas. Algo essencial, já que elas volta e meia fazem seus ninhos a até 50km de fontes de água. Quando uma perdiz macho vê um lago ou uma poça, ela se senta nela, para que as penas do abdômen sirvam como uma espécie de esponja. "Daí, voltam para o ninho e os filhotes extraem a água das penas", explica Price.
Em desertos próximos ao mar, como o da Namíbia, na África, a névoa matinal pode ser um alívio.
Uma espécie de besouro, o toktokkie, deixa ela se condensar contra seu corpo e se transforme em gotículas que matam sua sede.
E se ficar mais seco?
A incrível capacidade das criaturas do deserto de se adaptar a condições áridas não significa que esses animais poderão sobreviver a mudanças climáticas que tornem seus habitats mais secos. A chuva, por exemplo, estimula a produção de plantas, fonte de alimentação para os ratos, por exemplo.
"Mas se os intervalos de produção de alimento rarearem, os roedores não terão vida fácil", explica Price.
A água nem sempre está à disposição em regiões mais áridas
Walsberg diz já ter testemunhado mudanças nas populações de certas espécies, como rãs. Para ele, é difícil prever como as secas vão afetar os animais já adaptados à escassez de água.
Ele trabalha todos os anos no Deserto Sonoran, o mais quente da América do Norte. É casa para 60 espécies de mamíferos, 350 de aves, 20 de anfíbios e 100 de répteis. Em julho, o local por vezes passa por ondas de calor que elevam a temperatura para até 49°C.
"Quando faço trabalho de campo nessa época do ano, o deserto fica distintivamente mais quieto. Fico me perguntando se os animais estão mudando de comportamento ou simplesmente mortos."
Leia a versão original dessa reportagem (em inglês).

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