Representantes do mundo todo vão se reunir no Rio de Janeiro em junho para tentar bater o martelo sobre as metas para o desenvolvimento sustentável em uma conferência da ONU organizada para evitar o fracasso na questão intratável da mudança climática.
A Conferência Rio + 20, em comemoração aos 20 anos da Cúpula da Terra |
Há preocupação de que a conferência, conhecida como Rio+20 ou Cúpula da Terra, termine com muita conversa e pouca ação.
Em uma tentativa de evitar muita confrontação, a conferência vai se concentrar não na mudança do clima, mas no desenvolvimento sustentável - garantindo que as economias podem crescer sem pôr em risco os recursos e o ambiente para as gerações futuras.
As conferências da ONU realizadas na última década começaram com grande esperança de acordos que fizessem as nações reduzirem as emissões que produzem o aquecimento do clima e ajudassem na adaptação de um mundo mais quente, mas terminaram com resultados frustrantemente modestos. Foi o caso no ano passado com a cúpula de mudança climática em Durban, na África do Sul. Os participantes do evento concordaram em fazer um novo acordo até 2015 que entraria em vigor até 2020.
A marca "sustentável" da cúpula deste ano, em vez do clima, é o projeto, disse o embaixador André Correa do Lago, que liderou a delegação brasileira nas negociações sobre o clima da ONU em Durban e será um dos negociadores-chefes do Brasil no Rio.
O desenvolvimento sustentável é mais bem aceito globalmente do que mudança climática, embora o desenvolvimento sustentável seja um modo de combater o aquecimento global e outras questões ambientais, disse ele.
"A mudança climática é uma (questão) que encontra uma resistência muito grande dos setores que serão substancialmente alterados, como a indústria do petróleo", disse Lago. "O desenvolvimento sustentável é algo tão simples quanto olhar como nós gostaríamos de estar em 10 ou 20 anos".
O momento parece propício. Os recursos naturais estão no limite. A população humana global já atingiu a marca dos sete bilhões. As economias tradicionais estão em crise. E o planeta está aquecendo. Os líderes podem aceitar a premissa de que faz sentido assegurar que nações ricas e emergentes podem crescer sem prejudicar ainda mais o meio ambiente.
O foco dos encontros globais vem sendo a redução das emissões de gases do efeito-estufa, principalmente o dióxido de carbono, mas os maiores emissores do mundo, incluindo China e Estados Unidos, resistiram, argumentando que isso enfraqueceria o desenvolvimento econômico.
A primeira vez que a mudança climática assumiu o centro do palco mundial foi na Cúpula da Terra da ONU no Rio de Janeiro, 20 anos atrás. Aquela primeira cúpula ambiental em 1992 terminou no Protocolo de Kyoto e em um tratado sobre biodiversidade.
Essa cúpula traz a chance de renovar a vontade política de tornar as economias mundiais mais verdes.
Desde o encontro de 1992, sucessivas tentativas de garantir um novo pacto para reduzir as emissões de gases do efeito-estufa fracassaram em produzir resultados concretos, o interesse do público na mudança climática diminuiu e muitos líderes mundiais estão concentrados nas próximas eleições e nas preocupações econômicas.
"OPORTUNIDADE PERDIDA"
Há a preocupação de que essa nova cúpula também fracasse.
"O máximo que conseguirá é estabelecer alguns objetivos voluntários com um prazo vago, mas não ficará claro qual será o processo para alcançar esses objetivos", disse Andrew Light, do Center for American Progress, um instituto de Washington. Sem objetivos reais e um modo de alcançá-los, diz Light, o Rio "será uma oportunidade perdida".
Neste mês, a ONU divulgou um esboço de documento como ponto de partida para a conferência de junho, destacando sete questões que incluem empregos, energia, alimentos, água e desastres.
"Sem objetivos claramente definidos, a cúpula não fornecerá a clareza e a certeza necessárias para fazer com que o setor privado participe de forma ativa e potencialmente faça os investimentos necessários para alcançar os objetivos", disse Stephen Starbuck, especialista em mudança climática e sustentabilidade da Ernst & Young.
Um foco climático mais estreito também pode dissuadir alguns países, como os Estados Unidos, onde a oposição a uma legislação de redução de carbono era tão forte por parte dos republicanos e da indústria do petróleo que derrubou planos para um arranjo nacional de emissões.
Nos últimos 20 anos, o debate mudou como o mundo mudou, segundo Tim Wirth, ex-senador norte-americano que compareceu ao encontro no Rio em 1992 e estará na conferência deste ano como presidente da U.N. Foundation, sem fins lucrativos.
"O debate mudou por causa de China, Brasil e África do Sul, o crescimento muito rápido e surpreendentemente poderoso dos países recém-industrializados", disse.
Em 1992 e no Protocolo de Kyoto esses países em desenvolvimento e outros ficaram de fora das reduções nas emissões de dióxido de carbono, enquanto países ricos como os EUA teriam que fazer as reduções. No fim, o Senado norte-americano nunca ratificou o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005.
"O Rio foi realmente exploratório", disse Wirth. "Ninguém sabia sobre o que seria tudo isso... Acho que o Rio+20 tornou-se uma oportunidade de ser muito específico, principalmente sobre energia e desenvolvimento."
Embora as economias de desenvolvimento rápido estejam ansiosas por essa mudança, Wirth disse que pode haver resistência de grandes potências energéticas como os EUA e de alguns produtores de petróleo no Oriente Médio.
"Esses são os países que dizem, 'hey, essa é nossa caixa de areia, você não pode entrar nela'", afirmou.
A Rio+20 terá que dar ao setor privado a clareza e os incentivos de que precisam a médio prazo, disse Starbuck.
Qualquer objetivo estabelecido no Rio provavelmente será para os próximos 20 anos, o que pode ser muito distante para a maioria dos líderes, cujo tempo de mandato é de alguns anos, não de décadas.
Em vez disso, metas provisórias estabelecidas ao longo do tempo até 2030 fariam com que o setor privado estivesse mais disposto a se engajar, acrescentou Starbuck.
No contexto do processo da Rio+20, foi publicado no dia 10 de janeiro o “rascunho zero” (zero draft) da Conferência, como parte das negociações entre Estados-Membros, agências internacionais, organizações não governamentais e demais grupos políticos.
O documento já está disponível em português, acesse clicando aqui.
O Rascunho Zero, denominado “O Futuro que Queremos”, combina as sugestões, ideias e comentários de 643 propostas enviadas por estes países e instituições e será o principal texto a ser discutido pelos líderes mundiais na conferência para garantir um compromisso político renovado para o desenvolvimento sustentável.
Em uma tentativa de evitar muita confrontação, a conferência vai se concentrar não na mudança do clima, mas no desenvolvimento sustentável - garantindo que as economias podem crescer sem pôr em risco os recursos e o ambiente para as gerações futuras.
As conferências da ONU realizadas na última década começaram com grande esperança de acordos que fizessem as nações reduzirem as emissões que produzem o aquecimento do clima e ajudassem na adaptação de um mundo mais quente, mas terminaram com resultados frustrantemente modestos. Foi o caso no ano passado com a cúpula de mudança climática em Durban, na África do Sul. Os participantes do evento concordaram em fazer um novo acordo até 2015 que entraria em vigor até 2020.
A marca "sustentável" da cúpula deste ano, em vez do clima, é o projeto, disse o embaixador André Correa do Lago, que liderou a delegação brasileira nas negociações sobre o clima da ONU em Durban e será um dos negociadores-chefes do Brasil no Rio.
O desenvolvimento sustentável é mais bem aceito globalmente do que mudança climática, embora o desenvolvimento sustentável seja um modo de combater o aquecimento global e outras questões ambientais, disse ele.
"A mudança climática é uma (questão) que encontra uma resistência muito grande dos setores que serão substancialmente alterados, como a indústria do petróleo", disse Lago. "O desenvolvimento sustentável é algo tão simples quanto olhar como nós gostaríamos de estar em 10 ou 20 anos".
O momento parece propício. Os recursos naturais estão no limite. A população humana global já atingiu a marca dos sete bilhões. As economias tradicionais estão em crise. E o planeta está aquecendo. Os líderes podem aceitar a premissa de que faz sentido assegurar que nações ricas e emergentes podem crescer sem prejudicar ainda mais o meio ambiente.
O foco dos encontros globais vem sendo a redução das emissões de gases do efeito-estufa, principalmente o dióxido de carbono, mas os maiores emissores do mundo, incluindo China e Estados Unidos, resistiram, argumentando que isso enfraqueceria o desenvolvimento econômico.
A primeira vez que a mudança climática assumiu o centro do palco mundial foi na Cúpula da Terra da ONU no Rio de Janeiro, 20 anos atrás. Aquela primeira cúpula ambiental em 1992 terminou no Protocolo de Kyoto e em um tratado sobre biodiversidade.
Essa cúpula traz a chance de renovar a vontade política de tornar as economias mundiais mais verdes.
Desde o encontro de 1992, sucessivas tentativas de garantir um novo pacto para reduzir as emissões de gases do efeito-estufa fracassaram em produzir resultados concretos, o interesse do público na mudança climática diminuiu e muitos líderes mundiais estão concentrados nas próximas eleições e nas preocupações econômicas.
"OPORTUNIDADE PERDIDA"
Há a preocupação de que essa nova cúpula também fracasse.
"O máximo que conseguirá é estabelecer alguns objetivos voluntários com um prazo vago, mas não ficará claro qual será o processo para alcançar esses objetivos", disse Andrew Light, do Center for American Progress, um instituto de Washington. Sem objetivos reais e um modo de alcançá-los, diz Light, o Rio "será uma oportunidade perdida".
Neste mês, a ONU divulgou um esboço de documento como ponto de partida para a conferência de junho, destacando sete questões que incluem empregos, energia, alimentos, água e desastres.
"Sem objetivos claramente definidos, a cúpula não fornecerá a clareza e a certeza necessárias para fazer com que o setor privado participe de forma ativa e potencialmente faça os investimentos necessários para alcançar os objetivos", disse Stephen Starbuck, especialista em mudança climática e sustentabilidade da Ernst & Young.
Um foco climático mais estreito também pode dissuadir alguns países, como os Estados Unidos, onde a oposição a uma legislação de redução de carbono era tão forte por parte dos republicanos e da indústria do petróleo que derrubou planos para um arranjo nacional de emissões.
Nos últimos 20 anos, o debate mudou como o mundo mudou, segundo Tim Wirth, ex-senador norte-americano que compareceu ao encontro no Rio em 1992 e estará na conferência deste ano como presidente da U.N. Foundation, sem fins lucrativos.
"O debate mudou por causa de China, Brasil e África do Sul, o crescimento muito rápido e surpreendentemente poderoso dos países recém-industrializados", disse.
Em 1992 e no Protocolo de Kyoto esses países em desenvolvimento e outros ficaram de fora das reduções nas emissões de dióxido de carbono, enquanto países ricos como os EUA teriam que fazer as reduções. No fim, o Senado norte-americano nunca ratificou o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005.
"O Rio foi realmente exploratório", disse Wirth. "Ninguém sabia sobre o que seria tudo isso... Acho que o Rio+20 tornou-se uma oportunidade de ser muito específico, principalmente sobre energia e desenvolvimento."
Embora as economias de desenvolvimento rápido estejam ansiosas por essa mudança, Wirth disse que pode haver resistência de grandes potências energéticas como os EUA e de alguns produtores de petróleo no Oriente Médio.
"Esses são os países que dizem, 'hey, essa é nossa caixa de areia, você não pode entrar nela'", afirmou.
A Rio+20 terá que dar ao setor privado a clareza e os incentivos de que precisam a médio prazo, disse Starbuck.
Qualquer objetivo estabelecido no Rio provavelmente será para os próximos 20 anos, o que pode ser muito distante para a maioria dos líderes, cujo tempo de mandato é de alguns anos, não de décadas.
Em vez disso, metas provisórias estabelecidas ao longo do tempo até 2030 fariam com que o setor privado estivesse mais disposto a se engajar, acrescentou Starbuck.
No contexto do processo da Rio+20, foi publicado no dia 10 de janeiro o “rascunho zero” (zero draft) da Conferência, como parte das negociações entre Estados-Membros, agências internacionais, organizações não governamentais e demais grupos políticos.
O documento já está disponível em português, acesse clicando aqui.
O Rascunho Zero, denominado “O Futuro que Queremos”, combina as sugestões, ideias e comentários de 643 propostas enviadas por estes países e instituições e será o principal texto a ser discutido pelos líderes mundiais na conferência para garantir um compromisso político renovado para o desenvolvimento sustentável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário