Claus
Mortensen é um fazendeiro queniano com uma paixão - os rinocerontes em risco -
e uma missão - salvar sua manada da morte nas mãos de caçadores ilegais que
vendem seus chifres na Ásia, onde são considerados um remédio milagroso.
Mas
proteger os rinocerontes nestas reservas perdidas diante do número crescente de
caçadores tem um custo alto demais e com frequência os fazendeiros optam por
levá-los a outros ranchos mais vigiados.
"Ver
um rinoceronte morrer é terrível", diz Mortensen, diretor da reserva de
Mugie, situada 300 km ao norte de Nairóbi.
"Mugie
está tão isolada que, para garantir a segurança, precisaríamos de aviões e
helicópteros", afirma.
Em
2004, vinte rinocerontes negros foram reinseridos neste santuário de 18.000
hectares. Quatro anos depois, o primeiro animal foi morto por caçadores.
Nesta foto tirada em novembro de 2011,
rinocerontes indianos se refrescam na floresta
Maghauli Chitwan, a 200 km de
Katmandu - Foto de Prakash Mathema/AFP
|
"E
o drama voltou a se repetir uma e outra vez", explica Mortensen, afirmando
que seu trabalho e o de outros fazendeiros consistem agora em evitar que os
caçadores entrem em suas propriedades.
E
esta realidade faz as contas subirem. Este fazendeiro precisou triplicar o
número de funcionários e neste momento manter um rinoceronte com vida custa
1.200 dólares ao mês, quase dez vezes mais do que os 150 dólares que custava
antes.
"Toda
noite, todo dia, você fica grudado no telefone e no rádio. Você deixa tudo do
lado da cama quando dorme e quando alguém liga, o coração dispara",
descreveu Mortensen, que perdeu cinco rinocerontes em quatro anos.
Por
fim, a Kenya Wildlife Service (KWS), organização pública que protege os animais
no país, decidiu transferir 11 rinocerontes dos 24 que o rancho Mugie tinha
naquela ocasião a um parque perto do Lago Victoria e o restante ficou em outra
fazenda mais bem protegida.
O
Quênia, terceira reserva mundial de rinocerontes, com uma população que beira
os mil exemplares, trava uma batalha permanente contra estes caçadores
clandestinos.
O
comércio ilegal é liderado pela Ásia. "Tudo começou em 2007, quando um
ministro vietnamita declarou que tinha se curado de câncer graças ao pó de
chifre de rinoceronte", lembrou Patrick Omondi, do KWS.
Além
disso, os chifres de rinoceronte seriam bons para tratar febre e convulsões,
têm queratina, uma substância sem valor medicinal, mas muito apreciada em
tratamentos estéticos, ou inclusive teriam propriedades afrodisíacas.
"O
aumento da caça ilegal se deve, sobretudo, à influência crescente da economia
asiática. É um mercado legal para chifres obtidos de forma ilegal",
resumiu Patrick Bergin, diretor da associação African Wildlife Foundation
(AWF), com sede em Washington.
"É
um fenômeno complexo. Os caçadores estão relacionados com bandos internacionais
e têm armas cada vez mais sofisticadas. Estão dispostos a todo",
acrescentou Omondi.
O
preço do quilo de chifre de rinoceronte pode chegar a 60.000 dólares (45.000
euros) no mercado.
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