O
infanticídio pode ser um instrumento eficiente para a sobrevivência de
determinadas espécies de animais, indicam um crescente número de estudos.
A
ideia é chocante do ponto de vista humano, mas a realidade é que para muitos
filhotes de animais, a maior ameaça à sua sobrevivência vem de sua própria
espécie.
"Não
é como um ato de predação, que é silencioso", disse o especialista em
leões Craig Packer, da University of Minnesota, em Falcon Heights, Estados
Unidos.
"Durante
o infanticídio há rugidos, é violento e muito perturbador", ele diz,
descrevendo como leões adultos matam filhotes.
"Eles
mordem (os filhotes) atrás da cabeça e na nuca, esmagando seus abdomens."
O
infanticídio tende a ser pouco estudado enquanto recurso para garantir a
sobrevivência dos mais fortes em uma determinada espécie. Entretanto, há registros
de que ele acontece entre roedores e primatas, peixes, insetos e anfíbios.
Leões estão entre as espécies que cometem infanticídio
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Segundo
estudos, o infanticídio pode trazer benefícios às espécies animais que o
cometem, como maiores oportunidades para que o infanticida se reproduza e mesmo
alimentação (quando o infanticida come o filhote morto). Matar um filhote é
também uma maneira de evitar que seus pais tenham que investir energia para
cuidar da cria.
O
infanticídio é com frequência cometido por machos adultos.
Normalmente,
a proteção que um filhote recebe do pai cumpre um papel importante em assegurar
a sobrevivência do bebê. Mas quando novos machos entram em cena, tudo pode
mudar.
Os
machos recém-chegados tendem a derrubar os machos pais de suas posições no topo
da hierarquia do grupo. Se eles conseguem ferir, expulsar ou até matar um macho
que ocupava uma posição dominante no grupo, tomando o seu lugar, os filhotes do
antigo líder passam a correr grande risco.
Isso
acontece porque machos recém-chegados com frequência têm apenas um objetivo:
ter seus próprios filhotes com a mãe.
Em
sociedades de leões, por exemplo, matar filhotes faz com que suas mães voltem a
ficar férteis mais rápido, aumentando a chance de que os novos machos se
reproduzam.
E
se não matam filhotes alheios, correm o risco de que os filhotes do antigo
líder cresçam e deem o seu próprio golpe.
Estratégia
feminina
Mas
o infanticídio não é cometido apenas por animais machos. Fêmeas também o
praticam, disse o zoólogo Tim Clutton-Brock, da University of Cambridge, na Inglaterra.
"Fêmeas
matam os filhotes umas das outras com a mesma prontidão", ele disse.
Ratas
matam as crias de outras fêmeas para se alimentar e se apoderam dos ninhos para
criar seus próprios filhotes. Ratas também matam sua própria cria se os
filhotes têm deformidades ou ferimentos. Isso permite que elas concentrem seus
recursos em outros filhotes.
O
infanticídio também pode aumentar o sucesso reprodutivo de um animal, reduzindo
a competição para os filhotes do infanticida. Besouros fêmeas matam as larvas
de suas rivais para assegurar que suas próprias larvas sobrevivam.
Esse
comportamento foi observado também em mais de 40 espécies de primatas, mas em
muitas dessas espécies as fêmeas usam estratégias para reduzir os riscos de que
ele ocorra - segundo um estudo publicado na revista científica Journal of
Theoretical Biology.
A
saída utilizada por essas fêmeas é o acasalamento com parceiros múltiplos para
gerar o que os especialistas chamaram de "confusão de paternidade".
Ou seja, os machos não sabem quem é o o pai do filhote.
Isso
dá aos filhotes maiores chances de sobreviver quando novos machos tentam se
integrar no grupo.
"Em
um grupo com múltiplos machos, em primatas como os babuínos, se dois machos se
acasalam com a mesma fêmea e nenhum sabe quem é o pai do filhote, isso reduz o
risco de infanticídio", disse Clutton-Brock.
Suricatos
Quando
há mudanças na hierarquia de dominância, "o infanticídio ocorre apenas
quando a chance de o assassino ser o pai do próximo filhote é alta", disse
o estudo.
Os
suricatos (mamíferos pequenos e altamente sociáveis que habitam regiões
inóspitas) se reproduzem de forma cooperativa, ou seja, se um macho alfa e uma
fêmea alfa se reproduzem, outros integrantes do grupo em posições de
subordinação ajudam a criar os filhotes do casal alfa.
Fêmeas
dominantes matam filhotes de subordinados e os próprios subordinados, se
tiverem cria própria, podem também matar o filhote de uma fêmea dominante.
Suricatos
machos, no entanto, não sujam suas patas com o sangue de filhotes.
Clutton-Brock
explicou: "Suricatos machos não apresentam (comportamento) infanticida
porque assim que (as fêmeas) têm filhotes, ficam prontas para se acasalar
novamente. Então, matar crianças não interessa aos machos".
Uma situação que
contrasta bastante com a dos leões, onde as fêmeas passam quase 18 meses
amamentando após o nascimento dos filhotes.
Sabe-se que
machos nômades, ou coalizões de machos competindo pelo controle de matilhas,
matam filhotes com o objetivo de fazer com que a mãe volte a ficar fértil.
Desta forma, podem se reproduzir com ela.
Fonte:
BBC
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