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quarta-feira, 11 de maio de 2016

AS MISTERIOSAS PROPRIEDADES DA CERA DE OUVIDO


Secreção tem várias funções de defesa do canal auditivo, segundo cientistas

As baleias nunca limpam seus ouvidos. Ano após ano, a cera se acumula em seus canais auditivos, deixando para trás um rastro de ácido graxo, álcool e colesterol que pode praticamente contar a história de suas vidas.
Esse acúmulo acontece em muitos mamíferos, inclusive nós, humanos. Mas a cera que que sai de nossos ouvidos não é tão interessante. Ela não oferece uma autobiografia nem fica muito tempo parada, já que temos o hábito de limpá-la com frequência. No entanto, a ciência por trás dessa secreção é fascinante.
Para começar, vamos chamá-la por seu nome mais “técnico”: cerume. A substância é produzida apenas pela parte externa do canal auditivo, graças a uma concentração de algo entre 1 mil e 2 mil glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas modificadas.
Acrescente pelos, pele morta e outros detritos corporais, e você terá a receita da cera de ouvido.
Consistência é fundamental
Acúmulo de cera pode levar à perda auditiva, ao isolamento social e até à paranoia
Durante muitos anos, cientistas acreditaram que a principal função da secreção era lubrificar a região. Mas atualmente se sabe que ela é útil para evitar que insetos invadam as reentrâncias internas da cabeça. Alguns especialistas suspeitam ainda que a cera também atue como antibiótico.
Em um estudo realizado na Alemanha em 2011, que analisou a cera de voluntários, foram encontrados dez peptídeos que são capazes de impedir a proliferação de fungos e bactérias. Seus autores defenderam que as infecções no canal auditivo externo ocorrem quando falha o sistema de defesa proporcionado pela cera.
Mas outra pesquisa, realizada em 2000 pela Universidade La Laguna, na Espanha, chegou a conclusões opostas. Os cientistas descobriram que a secreção, na realidade, promovia a proliferação de bactérias, principalmente por causa da riqueza de nutrientes que oferece. Não foi o único estudo que colocou em xeque a ideia da propensão da cera a eliminar micróbios.
Uma diferença entre as duas pesquisas pode explicar os resultados tão distintos. Enquanto o estudo de 2011 usou voluntários que apresentavam uma tendência à cera seca, o de 2000 se concentrou na forma mais úmida da substância.
A propensão a um tipo ou outro de cera é algo determinado geneticamente, mais especificamente por uma única letra em um único gene.
O tipo úmido é geneticamente dominante, tanto que a cera de ouvido tem sido usada para rastrear os padrões antigos de migração humana. Os descendentes de caucasianos e africanos têm mais chance de apresentar um cerume úmido, enquanto asiáticos do Extremo Oriente apresentam uma variação mais seca. Os dois tipos são mais equilibrados entre ilhéus do Pacífico, habitantes da Ásia Central e indígenas do continente americano.
Perda auditiva e até paranoia
Mas, para a maioria de nós, a questão mais premente no que se refere à cera de ouvido é como removê-la da melhor maneira. No século 1 d.C., os romanos já faziam referência a métodos como inserir óleo quente ou vinagre, dependendo do tipo de cerume. De fato, hoje em dia, muitos médicos ainda usam óleo de amêndoas ou azeite de oliva para amolecer a cera compactada, antes de retirá-la.
A verdade é que algumas pessoas realmente sofrem de problemas com cera de ouvido graves o suficiente para que seja necessária uma intervenção médica. Uma análise de 2004 mostrou que 2,3 milhões de pessoas na Grã-Bretanha visitam seus médicos a cada ano para solucionar o problema. Cerca de 4 milhões de ouvidos são tratados todo ano no país.
Idosos, crianças e pessoas com dificuldades de aprendizado são os mais afetados por problemas relacionados com o acúmulo de cera. O sintoma mais óbvio é uma perda auditiva, mas muitos também sofrem de isolamento social e até uma ligeira paranoia.
Os cientistas também notaram que muitos pacientes apresentam o tímpano perfurado, provável resultado da tentativa caseira de remover a cera.
Riscos do cotonete
O hábito de limpar os ouvidos com cotonete após o banho tem sido desencorajado por médicos por causa de certos riscos. Às vezes o algodão pode se soltar e se alojar no canal auditivo, por exemplo.
A recomendação é deixar o trabalho a cargo de um profissional, que em geral utiliza um produto amaciador e, em seguida, faz uma irrigação.
Outro procedimento condenado é a terapia alternativa da vela de ouvido, na qual uma vela oca feita de cera de abelha ou parafina é colocada perto da orelha e acesa. A teoria é de que o calor dentro do tubo vazio acabe “atraindo” o cerume para fora do ouvido.
Não há, no entanto, nenhuma evidência que comprove que essa prática funciona. Ao mesmo tempo, já ficou comprovado que a cera quente da vela pode cair no tímpano, provocando muita dor.

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