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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

DESENHOS PRÉ-HISTÓRICOS 'IGNORADOS' PODEM REVELAR O 'MAIS ANTIGO' CÓDIGO DE ESCRITA


À primeira vista, os rabiscos parecem traços sem importância, como estes das cavernas espanholas conhecidas como Las Chimeneas, que são Patrimônio da Humanidade

São 32 traços que se repetem em diferentes cavernas de toda a Europa. Registros simples: apenas linhas em zigue-zague, pontos, triângulos inacabados, cruzes retorcidas ou algo que lembra figuras geométricas.
Nenhum deles é criação de alguém apressado ou de um mau desenhista: os cientistas acreditam que esse conjunto forma o código de escrita mais antigo de que se tem registro.
Entender os traços está tirando o sono de Genevieve von Petzinger, paleoantropóloga da Universidade de Victoria, no Canadá, responsável por um estudo inédito sobre arte rupestre do período Paleolítico.
O período, também conhecido como Idade da Pedra Lascada, vai de 2 milhões a.C. (época aproximada em que o homem fabricou o primeiro utensílio) até 10.000 a.C..
'Desenhos ignorados'
"Me interessam os grandes padrões, as possíveis interconexões entre desenhos e regiões", disse a cientista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Genevieve von Petzinger passa dias inteiros em grutas de difícil acesso, estudando o que seria um misterioso código da Idade Pedra
O alcance geográfico do projeto é certamente ambicioso: envolve mais de 350 sítios arqueológicos, "o que não é muito se levarmos em conta que são 30 mil anos de história".
Além disso, envolve olhar o que antes muitos outros cientistas passaram por cima.
A paleoantropóloga canadense não está interessada nas figuras mais atraentes - os bisões, as cenas de caça, as representações de formas claramente humanas - e sim nos registros que foram classificados como "geométricos" por falta de um termo mais apropriado.
"São os desenhos negligenciados, ignorados", ri.
Em El Castillo, na Espanha, as linhas vermelhas que se repetem em outras cavernas europeias
Viagem subterrânea
Esses "desenhos ignorados", que estão ali desde a Idade da Pedra, são parte de um dos legados artísticos mais antigos do mundo, da fase final do último período glacial na Europa (por isso também chamada de arte da Era do Gelo).
Silenciosos e inexplorados, esses traços podem falar de "uma mudança fundamental nas habilidades dos nossos ancestrais", diz a cientista. Isso porque a capacidade de articular um código é a mesma exigida para desenvolver uma escrita, como fez o homem moderno.
Em muitos casos, a existência desses símbolos não é nenhuma novidade.
"Mas os inventários (feitos pelos paleontólogos quando vão estudar uma nova caverna) nem sequer dizem que tipo de sinais eles são, os consideram secundários e não fazem comparações."
Foi assim que, há três anos, a cientista embarcou numa viagem subterrânea, acompanhada do marido fotógrafo.
Acompanhada do marido fotógrafo, Genevieve von Petzinger explora a caverna de Cudon, na região espanhola da Cantábria
Eles passam a maior parte do dia em grutas ou cavernas, até "emergirem" à noite, como ela mesma diz.
Trata-se de um total de 52 cavernas, em muitos casos de acesso dificílimo por causa de condições geográficas ou porque estão nas mãos da iniciativa privada.
Descoberta de uma nova arte
É o caso das cavernas de El Portillo, Santián ou Las Chimeneas, na Espanha, e Niaux e Marsoulas, na França, além de outras na Itália e em Portugal.
A maior parte delas não tem a popularidade das grutas mais "midiáticas" como Chauvet, no sul da França, ou Altamira, no norte do Brasil.
"Em muitas grutas, inclusive, encontramos uma nova arte, que não tinha sido descoberta", diz Von Petzinger.
"Ninguém se preocupou em registrar estes traços. Quando começamos a fazê-lo, vimos que eles se repetem. Há um padrão."
O casal catalogou meticulosamente os sinais até chegar a uma espécie de repertório, que se repete nas pedras de diferentes grutas: um total de 32 símbolos.
A pesquisadora fez uma lista com 32 símbolos que se repetem em diferentes sítios arqueológicos - ainda falta decifrar seu significado
"É realmente interessante verificar que eles são tão específicos, que cada um é muito diferente do outro. Inclusive os mais incomuns se repetem (em outras grutas) de maneira idêntica. As possibilidades de que isso seja uma coincidência são bem pequenas", afirma a pesquisadora.
Em outras palavras, o que isso significa é que estaríamos diante de um código pré-estabelecido e compartilhado por diferentes grupos do período Paleolítico.
Também sugere, diz ela, que havia conexões entre lugares remotos naquela era pré-histórica.
"Sabemos que na Europa havia uma ativa rede de intercâmbio de populações e isso nos dá um sinal de como era sofisticada a sua estrutura social", diz a cientista, que em maio deste ano publicou um livro com suas descobertas (The First Signs: Unlocking the mysteries of the world's oldest symbols, algo como "Os primeiros sinais: desvendando os mistérios dos símbolos mais antigos do mumdo",ainda não lançado em português).
Na parede da gruta El Castillo, na Espanha, o contorno de uma mão feito com tinta vermelha
A pesquisadora acredita que os traços poderiam representar elementos da natureza
Um código, mas qual o significado?
Como qualquer cientista curioso, Von Petzinger adoraria poder ler para além dos traços e descobrir seus significados.
Por exemplo, poder estabelecer com certeza que uma figura em forma de chave é uma lança e que registros em forma de pena são folhas de árvore.
As linhas em zigue-zague são "democráticas": fáceis de desenhar e melhores como ferramentas de comunicação, segundo a pesquisadora
Mas a pesquisadora admite que essa é uma missão impossível.
"Por mais que desejemos, nunca vamos poder estar na cabeça de pessoas que viveram há 30 mil anos", diz, rindo.
"Mas se não sabemos o que significam, sabemos que esses traços deveriam ter um sentido. E isso nos é indicado pela sua repetição."
O que importa, insiste Von Petzinger, é o padrão.
"Não se trata de um código como o egípcio, nem como a escrita cuneiforme (que é a mais antiga língua humana escrita). Não é algo tão organizado. Nesse sentido, nunca vamos poder decifrá-lo, nem temos material de referência para isso."
O primeiro sistema de escrita conhecido, o cuneiforme, tem cinco mil anos e surgiu onde atualmente é o Iraque. Mas, a exemplo dos complexos hieróglifos egípcios, não faz sentido que tenha aparecido do nada.
Primeiro código humano?
Os traços ordenados por Von Petzinger podem ser um sistema ainda mais antigo de escrita: um "primeiro código humano" inscrito nas rochas das grutas.
O que é inovador nesta descoberta, confirmam os especialistas, é que ela revela as habilidades básicas necessárias para a criação de um sistema de escrita: capacidade de abstração, registro de marcas gráficas e sofisticado uso de símbolos.
"De maneira geral, podemos dizer que os sistemas gráficos desenvolvidos na Europa, na Idade do Gelo, são predecessores dos sistemas de escrita que vêm depois. Não porque determinado símbolo daquela época esteja relacionado com outro símbolo em uma etapa posterior, mas no sentido de que todos são códigos."
Desenhos que podem ser facilmente reconhecidos, como este cervo, têm atração imediata sobre os pesquisadores afirma Von Petzinger
Emojis pré-históricos
A pesquisadora os compara aos emojis, os ícones da era dos smartphones, que representam um conceito em uma única imagem.
Eles são muito populares nas redes sociais e em comunicações de troca de mensagens instantâneas, como o WhatsApp.
Os emojis foram descritos assim em uma coluna da revista Wired, especializada em tecnologia: "eles poderiam ter sido parte de um dos sistemas gráficos mais antigos do mundo, ou seja, bem mais que símbolos simpáticos no seu celular".
Primeiro é preciso erradicar a ideia de que os traços das grutas europeias são figuras geométricas, diz a cientista.
"Usamos esta comparação na falta de uma melhor. Mas isso condiciona a maneira como os vemos. Por exemplo, deveríamos pensar que encontramos desenhos de animais e humanos, e nos perguntar: onde está a natureza? Por que nunca pintaram uma árvore ou um rio, que são elementos importantes na vida de uma sociedade coletora-caçadora?"
Genevieve von Petzinger faz medições em uma gruta com desenhos "aparentemente geométricos"
Assim, a hipótese é que as figuras se refiram a coisas que não aparecem de forma óbvia nos desenhos: uma montanha, as estrelas, uma arma...
Não são formas abstratas, como sugere uma análise superficial, mas representações de ideias padronizadas.
Na sua simplicidade, os símbolos também têm outra qualidade: são democráticos, afirma Von Petzinger.
Um "retângulo com divisões" aparece nas paredes da caverna espanhola El Castillo Image copyright D. von
Pesquisadora diz que é preciso parar de olhar esses desenhos como simples figuras geométricas
"Desenhar um mamute ou um cavalo exige habilidades que poucos têm. Mas um quadrado ou um zigue-zague, qualquer um pode fazer."
E por serem mais acessíveis, os traços são melhores como ferramenta de comunicação: virtude desejada por qualquer linguagem que se preze.
Mas a paleoantropóloga não se conforma com estas hipóteses e quer mais.
Qual será seu próximo passo na busca de sentido para os desenhos misteriosos?
Entrar, com a ajuda de robôs submarinos, em grutas submersas e inexploradas da costa da Cantábria, no norte da Espanha, para buscar mais signos, mais traços, que joguem luz sobre como o homem moderno aprendeu a escrever.

A TABELA PERIÓDICA QUE MOSTRA PARA QUE SERVE CADA ELEMENTO


A tabela interativa criada por Keith Enevoldsen mostra para que serve cada elemento químico

Quem nunca teve que estudar, nos tempos de escola, a notória tabela periódica com dezenas de elementos químicos ordenados por seus números atômicos?
Mas afinal, qual é a relação entre aquelas colunas de símbolos e números e o mundo que nos cerca? E indo além dos elementos mais conhecidos, como carbono e cálcio, para que servem outros, como o rutênio ou o rubídio?
As respostas para todas essas perguntas estão numa versão interativa da tabela periódica, que mostra pelo menos uma utilidade para cada elemento. A ideia é do desenhista americano Keith Enevoldsen, de Seattle.
Na tabela interativa, pode-se aprender que o elemento túlio é essencial nas cirurgias a laser, que o estrôncio é usado nos fogos de artifício e o amerício, nos detectores de fumaça.
"Fiz a tabela que eu gostaria de ter quando era criança", disse Enevoldsen à BBC.
Do hidrogênio até...
A tabela periódica tradicional ordena os elementos químicos por número atômico (número de prótons), configuração dos elétrons e propriedades químicas.
A tabela periódica tradicional não tem uma aparência atraente para crianças
Elementos que têm um comportamento químico semelhante ficam na mesma coluna.
A primeira versão da tabela periódica foi criada pelo químico e físico russo Dmitri Mendeleiev em 1869, e foi revolucionária ao prever as propriedades de elementos que ainda não tinham sido descobertos.
O primeiro elemento é o hidrogênio e o último é o de número 118, o ununóctio, que recentemente passou a ser chamado de oganessono, em homenagem ao físico nuclear russo Yuri Oganessian.
A União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês) validou os elementos sintetizados mais recentemente em dezembro do ano passado.
'Para mim e meus filhos'
Mas como o americano Enevoldsen teve a ideia de fazer uma tabela com ilustrações modernas?
Além das ilustrações, a tabela interativa abre janelas detalhando cada elemento
"Nasci em 1956. Quando era criança, gostava das tabelas periódicas com figuras, mas elas nunca tinham boas imagens de todos os elementos", conta o desenhista.
Ele também foi inspirado por um escritor e bioquímico americano nascido na Rússia: Isaac Asimov, considerado um dos mestres da ficção científica.
"Também li um livro de Isaac Asimov, chamado Building Blocks of the Universe (algo como "Blocos de construção do Universo", em tradução livre), que tinha relatos maravilhosos sobre a história e os usos dos elementos. Gostava de saber, por exemplo, que os químicos que mexiam com telúrio acabavam com mau hálito e boca seca."
Você sabia que o escândio é usado no alumínio das bicicletas?
 
Já o tântalo é usado nos celulares e é extraído principalmente do mineral tantalita; o Brasil é um dos grandes produtores
Foi assim que Enevoldsen resolveu criar o que sempre sonhara desde os tempos da escola: uma tabela periódica com imagens divertidas e importantes dos elementos químicos listados até o número 98.
"Queria que toda a tabela fosse colorida, com um desenho limpo, que não fosse cheia dos números dos pesos atômicos que, para as crianças, não servem para muita coisa."
 O nióbio é usado em trens ultramodernos, como este no Japão
Os fogos de artifício contêm o elemento químico estrôncio
A tabela é interativa, como pede um mundo conectado por computadores. Assim, ao colocar o cursor sobre cada elemento, o quadradinho correspondente aparece ampliado em um quadrado maior na parte superior da tabela.
"Fiz a tabela para mim e meus filhos, e a coloquei na internet para que outras pessoas desfrutassem dela. Muitos estudantes, professores e pais dizem que ficaram encantados."
O trabalho do desenhista pode ser acessado neste site. Ainda não há uma versão em português.
Elementos 'amigos'
"Quero que as crianças saibam que aprender os elementos químicos pode ser divertido", diz Enevoldsen.
As ilustrações coloridas servem para chamar a atenção das crianças, que podem procurar mais informações em cada quadradinho que vai surgindo na tela.
"Espero que, graças a essa tabela, as crianças queiram conhecer os elementos como se estivessem conhecendo um novo amigo", afirma o desenhista americano.
"E quero que as ilustrações e palavras facilitem lembrar das informações."
"Na próxima vez que virem a palavra estrôncio, por exemplo, vão poder dizer: Ahhh, estrôncio é o que usam nos fogos de artifício..."