O mundo é
viciado em combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), e é fácil
entender o porquê: baratos, abundantes e fácil de extrair, eles alimentam o
desenvolvimento da indústria mundial.
Cada vez
mais, porém, os governos vêm buscando alternativas aos hidrocarbonetos
tradicionais – seja porque são altamente poluentes ou porque sua extração tem
se tornado mais difícil, à medida que algumas reservas vão se esgotando.
Um substituto
potencial – em enormes quantidades – foi encontrado e repousa profundamente sob
permafrost (solo gelado do Ártico) ou os leitos dos oceanos: o hidrato de
metano.
Apesar de
potencialmente menos poluente que petróleo e carvão, porém, sua extração apresenta
enormes riscos ambientais.
RESERVAS GIGANTES
Conhecido
como “gelo que arde”, o hidrato de metano consiste em cristais de gelo com gás
preso em seu interior. Eles são formados a partir de uma combinação de
temperaturas baixas e pressão elevada e são encontrados no limite das
plataformas continentais, onde o leito marinho entra em súbito declive até
chegar ao fundo do oceano.
Acredita-se
que as reservas dessa substância sejam gigantescas, observa Chris Rochelle, do
Serviço Geológico Britânico. A estimativa é de que haja mais energia armazenada
em hidrato de metano do que na soma de todo petróleo, gás e carvão do mundo.
Ao
reduzir a pressão ou elevar a temperatura, a substância simplesmente se quebra
em água e metano – muito metano.
Um metro
cúbico do composto libera cerca de 160 metros cúbicos de gás, o que o torna uma
fonte de energia altamente intensiva. Por causa disso, da sua oferta abundante
e da relativa facilidade para liberar o metano, um número grande de governos
está cada vez mais animado com essa nova fonte de energia.
DESAFIOS TÉCNICOS
O
problema, porém, é extrair o hidrato de metano. Além do desafio de alcançá-lo
no fundo do mar, operando sob altíssima pressão e baixa temperatura, há o risco
grave de desestabilizar o leito marinho, provocando deslizamentos.
Uma
ameaça ainda mais grave é o potencial escape de metano. Extrair o gás de uma
área localizada não é tão complicado, mas prevenir que o hidratado se quebre e
libere o metano no entorno é mais difícil.
E isso
tem consequências sérias para o aquecimento global – estudos recentes sugerem
que o metano é 30 vezes mais danoso que o CO2.
Por causa
desses desafio técnicos, ainda não há escala comercial de produção de hidrato
de metano em qualquer lugar do mundo. Mas alguns países estão chegando perto.
Os
Estados Unidos, o Canadá e o Japão já investiram milhões de dólares em pesquisa
e já realizam alguns testes, desde 1998. Os mais bem sucedidos ocorreram no
Alasca em 2012 e na costa central do Japão em 2013, quando, pela primeira vez,
houve uma exitosa extração de gás natural a partir de hidrato de metano no mar.
Os
Estados Unidos lançaram um programa de pesquisa e desenvolvimento nacional já
em 1982 e, em 1995, tinham terminado a sua avaliação dos recursos disponíveis
do gás de hidratos no país. Desde então, têm realizado projetos-piloto na costa
da Carolina do Sul, no norte do Alasca e no Golfo do México. Cinco ainda estão
em execução.
Exploração comercial
O
interesse do Japão é óbvio, assinala Stephen O’Rourke, da empresa de
consultoria energética Wood Mackenzie: “Japão é o maior importador de gás do
mundo”.
No
entanto, ele ressalta que o orçamento anual do Japão para pesquisa na área é
relativamente baixo – US$ 120 milhões (cerca de R$ 270 milhões). Os planos do
país de produzir em escala comercial no fim desta década, portanto, parecem
muito otimista. Mas mais à frente, o potencial é enorme.
“O gás
metano pode mudar o jogo para o Japão”, diz Laszlo Varro, da Agência
Internacional de Energia (IEA).
Em outros
países, porém, os incentivos para explorar o gás comercialmente são menores por
enquanto. Os Estados Unidos estão priorizando suas reservas de gás de xisto,
recurso que também é abundante no Canadá. Já a Rússia ainda tem enormes
reservas de gás natural.
A China e
a Índia, com sua feroz demanda por energia, são uma história diferente. No
entanto, eles estão muito atrás em seus esforços para explorar o recurso.
“Houve
alguns progressos recentes, mas não prevemos produção comercial antes de 2030″,
afirma O’Rourke.
De fato,
a IEA não incluiu gás hidratado nas suas projeções globais de energia para os
próximos 20 anos.
RISCOS
Mas se
essa fonte for explorada, o que parece provável no futuro, as implicações
ambientais podem ser extensas.
Apesar de
ser menos poluente que o carvão ou o petróleo, continua sendo um hidrocarboneto
e, portanto, emite CO2. E há ainda o risco mais sério da liberação direta de
metano na atmosfera.
Alguns
argumentam, porém, que pode não haver alternativa, na medida em que o aumento
da temperatura global pode provocar a liberação do gás “naturalmente”, devido
ao aquecimento dos oceanos e ao derretimento das calotas polares.
“Se todo
o metano for liberado, nós vamos ver um cenário de filme Mad Max”, diz Varro.
“Mesmo usando estimativas conservadoras sobre as reservas de metano, isso faria
todo o CO2 de recursos fósseis parecer uma piada”, destacou.
“Por
quanto tempo o gradual aquecimento global pode prosseguir sem liberar o metano?
Ninguém sabe. Mas quanto mais ele avança, mais perto chegamos de jogar roleta
russa”, acrescentou.
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