O que é o
Amanita Muscaria ?
Amanita muscaria |
O “Mata moscas” (Amanita
muscaria) é uma das espécies de cogumelos que crescem na natureza em quase todo
o hemisfério norte. Cresce em simbiose com árvores como o vidoeiro, o pinheiro
ou o abeto, tanto na Europa como na América. Estes cogumelos são conhecidos
pela sua aparência distinta: são vermelhos ou amarelos com pintas brancas. O mata
moscas está listado como venenoso na maioria das fontes micológicas, e o seu
uso psicodélico não é comum devido a relatórios de experiências iniciais, onde
os efeitos do cogumelo variavam de pessoa para pessoa e por vezes na mesma
pessoa. Os cogumelos variam em potência, sendo por vezes eficazes e outras
vezes não. Todavia têm sido usados tradicionalmente por várias culturas. O mata
das moscas contém os químicos psicoativos ácido ibotênico e muscimol. Este
cogumelo chama-se mata moscas devido ao seu uso tradicional, quando misturado
com leite, para afastar as moscas.
O Cogumelo que inspirou Zé Ramalho
Zé Ramalho - Eu descrevo na
música uma parte dessa experiência: "Amanita matutina / E que transparente
cortina ao meu redor" [canta]. Amanita é nome científico dos cogumelos.
Quando senti isso, eu estava numa fazenda linda, pasto maravilhoso. Sensação de
liberdade – "Transparente cortina ao meu redor" [recita]. Era como se
fosse a aurora boreal. Seu olho fica muito preciso. Todas essas coisas estão
muito presentes na música: o encantamento, a espiritualidade que as pessoas
sentem de imediato. "Avôhai" é minha única música que posso dizer que
teve uma espécie de mediunidade envolvida. Porque eu não pensei nela, ela me
foi soprada: "Avôhai... Avôhai..." [sussurra]. E a forma como a letra
veio, veloz. Depois, voltando pra casa, nessas ondas de psicodelia, num retrato
da parede tinha a imagem de uma pedra de turmalina. Saiu a letra todinha:
"O Velho cruza a soleira" – "Avôhai, avô e pai". Escrevendo
os acordes sem parar, eu sabia pra onde ir, cara. Foi de uma rapidez
impressionante e nunca mais aconteceu algo parecido em minha vida. O que é
"Avôhai"? Por toda a minha vida, eu tenho que responder essa pergunta
quase semanalmente. Tenho o maior prazer em falar sobre isso. Nunca me
cansarei.
História
:
10.000-0
AC: O livro
Rig Veda (uma série de histórias sagradas e de encantamentos da Índia),
menciona um intoxicante mágico chamado Soma. Em 1968, R. Gordon Wasson publica
um livro controverso intitulado “Soma: O Cogumelo Divino da Imortalidade”, onde
especula que Soma se refere ao mata moscas.
4000 AC: Análises linguísticas sugerem
que o mata moscas era conhecido como substância intoxicante.
2000-1000
AC:
Petroglífos ao longo do rio Pegtymel, que desagua no oceano Ártico no nordeste
da Sibéria, "representam figuras antropomórficas com cogumelos anexados às
suas cabeças". A área do rio Pegtymel é hoje em dia habitada pela cultura
Chukchi, conhecida por ter usado o mata moscas como substância inebriante.
100 DC: Uma estatueta em miniatura (7.5
cm) de um mata moscas, datada de 100 DC e encontrada em Nayarit, no México,
sugere que o mata moscas pode ter sido usado no litoral mexicano. Muitas outras
esculturas da América Central e do Sul representam o uso ritual de outras
plantas e cogumelos psicoativos.
0-1800
DC: Alguns
historiadores escandinavos acreditam que os guerreiros vikings Bezerks ingeriam
o mata moscas antes das batalhas.
1658 DC: Um prisioneiro de guerra polaco
escreve sobre uma cultura do oeste siberiano (os Ob-Ugrian Ostyak, da região
Irtysh) que "Eles comem certos fungos com a forma de mata moscas, e por
isso ficam mais embriagados que com vodca, e para eles essa é a melhor
festa" – em "Diary of Muscovite Captivity", de Kamiensky Dluzyk,
publicado em 1874, página 382.
1730: Um coronel sueco, Filip Johann
von Strahlenberg, que passou 12 anos na Sibéria como prisioneiro de guerra,
escreve um livro intitulado "An Historico-Geographical Description of the
North and Eastern Parts of Europe and Asia", que inclui uma descrição
detalhada da prática de ingestão da urina daqueles que comeram os cogumelos, de
modo a reciclar os ingredientes psicoativos.
1960-1965: O uso do mata moscas aparece nas
subculturas urbanas dos Estados Unidos, mas permanece raro pois muitos
utilizadores reportam que os efeitos são desagradáveis.
Botânica
:
"O mata
moscas cresce por toda a Europa e norte da Ásia e no oeste do Alasca. É um dos
cogumelos do género Amanita mais facilmente (frequentemente) introduzidos com
árvores importadas, por exemplo com plantações de pinheiros e eucaliptos.
Parece ser capaz de crescer com muitos gêneros de plantas. A espécie associa-se
sobretudo ao vidoeiro e a várias coníferas, mas também se encontra em florestas
mistas com outras árvores, em puras florestas de tílias (na Noruega), com o
salgueiro rastejante (Salix repens) na ilha de Terschelling (na Holanda), e
adaptou-se a viver com eucaliptos na Austrália e na Argentina " (R. E.
Tulloss).
A sua
capa tem 5-30 cm de diâmetro e a sua cor varia do vermelho vivo ao vermelho
escuro, com um véu branco universal. Este véu universal cobre totalmente os
cogumelos mais novos, forma protuberâncias ou pontos brancos nos cogumelos
adultos, e pode eventualmente desaparecer com a idade. Estes pontos normalmente
formam círculos concêntricos, embora também possam aparecer ao acaso. A cor
pode desbotar drasticamente com a idade, especialmente se estiver diretamente exposto
à luz solar ou após muita chuva.
Química :
Os
constituintes enteógenicos do mata moscas são o ácido ibotênico e possivelmente
a muscazona (Ott). O muscimol parece ser o principal intoxicante. Após a
ingestão, uma pequena quantidade de ácido ibotênico descarboxila em muscimol, o
que produz a intoxicação. Tomado oralmente, o ácido ibotênico é
enteogenicamente ativo com 50-100 mg (Ott e Stafford). Tomado oralmente, o
muscimol apresenta atividade com 10-15 mg.
Efeitos :
Segundo
Johnathan Ott, "Os efeitos do mata moscas são distintamente
diferentes dos da psilocibina, do LSD, ou da mescalina. Caracterizam-se por
movimentos ondulantes no campo da visão, uma qualidade “viva” nos objetos
inanimados, alucinações auditivas, e uma sensação de grande estabilidade e
clareza mentais. Euforia, ataxia, e alterações sensoriais são habituais,
sobretudo alterações na audição e no sabor. Efeitos visuais também se
reportaram, assim como náuseas. O mata moscas pode também produzir sintomas
colinérgicos tais como “salivação profusa e transpiração ligeira”.
Uma das
características principais do mata moscas é ter efeitos inesperados. Uma vez
ingerido o cogumelo, o efeito tanto pode levar-te ao céu como ao inferno. Por
isso, deves estar absolutamente seguro da tua decisão ao tomares este cogumelo,
e de preferência teres alguma experiência com substâncias enteogênicas.
Todavia, o processo de secagem é muito importante para teres a certeza de que o
cogumelo produz qualquer efeito: este processo transforma o ácido ibotênico em
muscimol, multiplicando a potência por 5 ou 6, e reduzindo os efeitos
secundários prejudiciais".
Especialmente
na Califórnia do norte, muitas pessoas afirmam que os cogumelos são fracos ou
têm efeitos muito mais físicos do que mentais que os cogumelos “melhores” do
norte da Europa e da Sibéria.
Uso
Medicinal :
O mata moscas
sagrado têm sido usado tradicionalmente por xamãs para tratamentos espirituais
e físicos. Os utilizadores ocidentais relatam uma analgesia significativa como
um dos principais efeitos da ingestão do cogumelo. Segundo a sabedoria médica
tradicional de Kamchatkan, na Rússia, três pedaços pequenos de “mukhomor” (nome
russo do mata moscas), ao serem comidos, dão um bom remédio para as dores de
garganta.
Variedades
:
Existem extratos
de mata moscas. Uma dose de extrato 10x é dez vezes mais forte que uma dose
normal de cogumelos secos. Devido à sua textura delicada, é mais fácil tomares
uma dose específica em vez de tentares descobrir quantas cabeças de cogumelos
secos deves tomar.
Uso :
Estes
cogumelos são normalmente comidos (e diz-se que o sabor é bastante bom).
Secá-los bem é muito importante, mas se já foram secados há alguns meses perdem
alguma potência. Fumar mata moscas tem dado resultados satisfatórios: produz um
efeito mais rápido, de duração mais curta. Mas, em geral, os efeitos quando
fumados são menos fortes. "Se secar o teu cogumelo podes simplesmente
comê-lo, ou então usar o método de preparação com água quente, deixando a água
quase ferver, sem borbulhar, a cerca de 190 graus, e juntar-lhe os cogumelos.
Deixa-os cozer na água durante cerca de meia hora, e depois consome a água e os
cogumelos. Para aqueles que não suportam o sabor dos cogumelos secos ou do chá,
o método das cápsulas de gelatina pode funcionar melhor. Simplesmente mói os
cogumelos secos, e enche as cápsulas de gelatina vazias. Como a maioria dos alcaloides
residem logo abaixo da pele das cabeças, pode valer a pena tentares descascar a
cabeça dos cogumelos frescos e secá-la, ou então removeres as guelras (parte
por baixo da cabeça) dos cogumelos secos, para reduzires a quantidade a
consumir" (Michael S. Smith).
Dose: 5
gramas ou menos de cogumelos secos é um bom ponto de partida, que pode ser
gradualmente aumentado de acordo com os teus desejos. Considera-se que uma dose
normal são 5 - 10 gramas (1 - 3 cabeças médias) e uma dose forte 10 - 30 gramas
(2 - 6 cabeças médias). Normalmente os primeiros efeitos podem sentir-se
durante a primeira meia hora e variam de pessoa para pessoa, mas o aumento da
dose é aconselhável apenas quando se atinge a totalidade dos efeitos, cerca de
2 horas após a ingestão. A duração da trip é entre 4 a 10 horas.
Avisos :
Devido aos
seus efeitos imprevisíveis e à sua potência altamente variável, não se
recomenda que tomes o mata moscas se não tens qualquer experiência com
cogumelos psicoativos. Existem muitas espécies de cogumelos do gênero Amanita
que não são psicoativos. Alguns são venenosos (e mortais) e outros comestíveis.
Têm todos um aspecto semelhante ao mata moscas, por isso quando decidires
consumir estes cogumelos deves ter a certeza absoluta que tens o cogumelo
certo.
Assim
como com outras substâncias enteogênias, toda a gente reage de maneira
diferente à ingestão do mata moscas. Estes cogumelos podem ser ainda mais
variáveis em efeito devido a que cada corpo metaboliza o ácido ibotênico em
muscimol de maneira diferente. Muitas pessoas não apreciam os efeitos do mata moscas.
Contra-Indicação
:
Os
efeitos secundários incluem náuseas, ligeira perda de equilíbrio e de
coordenação, e sonolência.
Cultivo :
"O
cultivo do mata moscas em laboratório foi sempre impossível devido à relação
simbiótica de micorrizas do cogumelo com a planta que o suporta. Mas se tiveres
as plantas necessárias na sua área, e residires na zona temperada ou elevação
necessária, podes tentar usar algumas cabeças secas que estejam prontas para
soltarem os esporos (completamente direitas ou viradas para cima, com cortes
longitudinais ao longo das estrias), mói-as muito bem, e mistura os farelos à
parte de cima da terra. Espera que pegue. Se não quiseres desperdiçar as
cabeças secas, corta os caules de espécimes prontos para soltarem os esporos,
que terão naturalmente recolhido alguns dos esporos que já caíram, e mistura na
terra. Segundo o Erowid, o crescimento do micélio dá-se sobretudo durante os
meses da primavera e do verão, e depende grandemente da chuva e da umidade do solo
que precede o florescimento no outono. Se a época for demasiado seca, rega o
teu jardim de cogumelos duas vezes por semana" (Michael S. Smith).
Amanita muscaria |
Armazenamento
:
Os
cogumelos secos podem ser guardados durante muito tempo; apenas após alguns
meses a sua potência diminuirá.
Referências :
Experiences no Erowid
Mycopharmacological
Outline and Personal Experiences por F.
Festi & A. Bianchi
Excerpt on
Amanita muscaria from "The Hallucinogens" por A. Hoffer & H. Osmond
Amanita Notes por
Michael S. Smith
The
Genus Amanita Pers. (Agaricales) (incluindo a imagem superior desta página)
Muscaria.com (imagem
do livro Soma)
Nenhum comentário:
Postar um comentário