Fenômeno em 2015 pode ser o mais forte já
registrado, afetando todos os continentes.
A
atividade do El Niño vem se fortalecendo nos últimos meses (Foto: NASA via AP)
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O Estado
da Califórnia, no oeste dos Estados Unidos, vinha atravessando uma das maiores
secas de sua história nos últimos quatro anos e a chegada do verão no
Hemisfério Norte preocupava as autoridades, já que esta é normalmente uma
estação com menos chuvas.
Mas, para
surpresa de muitos, o mês de julho foi o mais chuvoso já registrado em muitas
partes do sul do Estado, com níveis de umidade altos.
São
muitos os especialistas que têm certeza que fenômenos como este estão sendo
causados pelo El Niño, que se caracteriza por um aquecimento das águas do
Oceano Pacífico na região equatorial e cuja atividade vem se fortalecendo nos
últimos meses.
Existe um
consenso cada vez maior entre os cientistas de que o El Niño hoje poderia
alcançar ou até superar a dimensão registrada entre 1997 e 1998, que causou
inundações e secas do planeta todo.
O Serviço
Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos afirmou até que este pode ser o El
Niño mais forte já registrado.
"Os
dados que temos indicam que é o El Niño mais forte desde 1997, mas, obviamente,
os modelos climáticos só podem prever o que acontecerá nos próximos meses, por
isso temos que ser cautelosos", disse à BBC Mundo William Patzert,
especialista em clima do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL, na sigla
em inglês) e um dos mais importantes estudiosos do El Niño dos EUA.
"Para
que alcance uma intensidade parecida com o período de 1997-1998, é preciso que
ocorram duas coisas. Primeiro, nos próximos meses é preciso haver um
abrandamento significativo dos ventos alísios de leste para oeste no
Pacífico."
"Se
isto acontecer, veremos uma transferência dramática de calor das águas do oeste
do Pacífico para as do Pacífico central e oriental. É nestas condições que se
podem alterar os padrões de temperatura e precipitações em todo o
planeta", disse Patzert, que garante que o fenômeno deste ano tem
potencial para ser o "El Niño Godzilla", devido à sua intensidade.
A BBC Mundo pediu para o especialista da Nasa falar
sobre alguns dos efeitos que o El Niño pode ter em algumas partes do mundo nos
próximos meses, caso sua força seja confirmada.
1 -
América do Norte
William Patzert pede cautela, já que os modelos climáticos só podem prever o que acontecerá nos próximos meses (Foto: BBC) |
"O
El Niño faz uma corrente em jato subtropical, que habitualmente se encontra no
sul do México e América Central, se deslocar para o norte. Isto provoca
invernos mais chuvosos do que o de hábito no sul dos Estados Unidos",
afirmou.
"Contrastando
com isso, a corrente em jato polar, que tem sito muito forte na América do
Norte nos dois últimos invernos, enfraquece, por isso são registrados invernos
mais suaves no norte dos Estados Unidos e sul do Canadá."
Segundo
Patzert, mesmo que o aumento das chuvas possa ser uma boa notícia para o
sudoeste dos EUA, devido à seca na região, também poderia causar grandes
inundações e deslizamentos.
2 - América do Sul
"Na
região que vai desde o norte do Chile até o Equador, nas quais se encontram as
áreas mais áridas do planeta, o El Niño causa invernos muito chuvosos."
"Além
disso, nesta região, que conta com os maiores navios de pesca comercial do mundo,
se a temperatura da água continua mais alta do que o normal há um colapso na
pesca, o que pode ter impacto nas economias destes países", explicou o
especialista da Nasa.
"No
nordeste do Brasil, o El Niño provoca seca enquanto que no sul do Brasil e norte
da Argentina, são registradas inundações."
3 – Ásia
De
acordo com Patzert, "quando, no Pacífico equatorial, a água quente se move
até a América do Sul, em lugares como Filipinas, Indonésia ou Tailândia são
registradas secas extremas".
Em
alguns destes países, nos quais a agricultura é responsável por uma grande
porcentagem do PIB, pode ocorrer um grande aumento no preço dos alimentos, o
que acaba afetando o preço das matérias-primas em escala global.
"Ao
mesmo tempo, em países como Japão e China, ocorrem invernos mais
temperados", acrescentou.
4 – Europa
"Na
Europa, nos anos em que o El Niño é forte, ocorreram invernos muito frios no
leste do continente e também no oeste da Rússia", disse Patzert.
Segundo
o especialista, "um bom exemplo são dois dos Ninõs mais importantes
registrados nos últimos dois séculos: o de 1812 e o de 1941".
"Estes
foram precisamente os invernos em que as tropas de Napoleão e Hitler foram
derrotadas. Por isso gosto de dizer que nenhum Exército os derrotou, foi o El
Niño."
5 - Outras regiões da
Terra
Patzert
explica que, nos anos em que ocorre o El Niño "há uma temporada de
furacões mais fraca no Atlântico" já que os ventos que ocorrem não são
favoráveis para a criação de sistemas tropicais.
"Ao
mesmo tempo, no Pacífico oriental, devido à elevada temperatura da água, é
registrada uma temporada de furacões muito ativa, em regiões como a Baixa
Califórnia."
"Enquanto
que, o sul do continente africano e Madagascar tendem a ser afetados pela seca,
e áreas da África subsaariana, que são muito secas, têm mais chuvas."
Por
fim, o especialista da NASA afirma que o El Niño faz com que o norte da
Austrália, como no sudeste asiático, se veja afetado pela seca.
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