Pesquisadores brasileiros acabam de descrever uma
nova espécie de jararaca. O nome dela é Bothrops sazimai e ela só existe numa
pequena ilha de 15 hectares no sul do Espírito Santo: a Ilha dos Franceses. É a
quarta espécie de jararaca insular descrita no Brasil nos últimos 10 mil anos,
desde que as ilhas do Sudeste foram isoladas do continente pela elevação do
nível do mar.
![]() |
Bothrops sazimai. Foto:
Ricardo Sawaya
|
Pesquisadores
brasileiros acabam de descrever uma nova espécie insular de jararaca. O nome
dela é Bothrops sazimai, e ela só existe numa pequena ilha de 15 hectares ao
largo da costa sul do Espírito Santo: a Ilha dos Franceses,
em frente à praia de Itaoca, município de Itapemirim.
Essa
é a quarta espécie de jararaca insular já descrita no Brasil. As outras são a Bothrops
alcatraz (ou jararaca-de-alcatrazes, só encontrada na ilha de Alcatrazes, em
São Paulo), a Bothrops insularis (ou jararaca-ilhoa, que só existe na ilha de
Queimada Grande, em São Paulo), e a Bothrops otavioi (endêmica da Ilha Vitória,
também no litoral norte paulista).
Todas
são diferentes entre si e distintas da jararaca comum do continente (a Bothrops
jararaca), considerada a espécie ancestral, da qual elas se separaram depois
que as ilhas foram isoladas pela elevação do nível do mar.
Durante
o Pleistoceno, entre 12 mil e 10 mil anos atrás, o oceano estava 60 metros mais
raso do que é hoje, e todas essas ilhas que vemos das praias no Sudeste estavam
conectadas ao continente. Naquela época, era tudo floresta, tudo Mata
Atlântica, daqui até lá. Quando o nível do mar voltou a subir, as populações de
jararaca que ficaram isoladas nessas ilhas passaram por um processo de
especiação, que acabou tornando-as diferentes. Todas elas ficaram menores do
que a espécie original do continente (pela limitação de espaço e alimento), e
cada uma teve que se adaptar às condições naturais e à disponibilidade de
comida em cada uma das ilhas.
Alcatrazes
e Queimada Grande, por exemplo, são ilhas montanhosas, com grandes costões rochosos
e bolsões de floresta, enquanto que a Ilha dos Franceses é uma ilhota chata,
dominada por arbustos. São hábitats significativamente diferentes. Os
pesquisadores avaliaram 58 serpentes da nova espécie (das quais apenas 5 foram
coletadas e levadas da ilha, para serem depositadas em museus de história
natural). O tamanho médio da Bothrops sazimai é 57 cm para machos e 62 cm, para
fêmeas.
![]() |
Ilha dos Franceses, no
ES, é o único lugar onde a espécie existe. Imagem
Herton Escobar/via Google
Earth
|
Diferenças
Segundo
os pesquisadores: “A nova espécie difere das populações continentais de B.
jararaca principalmente pelo menor tamanho, maior comprimento relativo de
cauda, menor comprimento relativo da cabeça e olhos relativamente maiores.
Diferencia-se também de B. alcatraz, B. insularis e B. otavioi pelo maior
número de escamas ventrais e subcaudais, maior comprimento relativo de cauda e
menor comprimento relativo de cabeça. A nova espécie é encontrada em grande
abundância na ilha, sendo noturna, semi arborícola, e se alimenta de pequenos
lagartos e centopeias.”
O
trabalho que descreve a espécie, publicado na
revista Zootaxa, é assinado por oito pesquisadores (da USP, UFES, ICMBio e
Unifesp), liderados por Fausto Barbo, do Museu de Zoologia da Universidade de
São Paulo, e Ricardo Sawaya, do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de São Paulo.
Eles
propõem que a espécie seja classificada como “criticamente ameaçada de
extinção”, por ocorrer numa área extremamente restrita e vulnerável, e que a
Ilha dos Franceses seja transformada em uma área protegida, para garantir sua
sobrevivência. Afinal, um incêndio na ilha poderia dizimar a espécie — e ela
fica a menos de 4 km do continente.
O
nome Bothrops sazimai é uma homenagem ao professor Ivan Sazima, da Unicamp,
considerado por muitos um dos zoólogos mais influentes e mais queridos do
Brasil.
![]() |
Bothrops sazimai:
Espécie também tem hábitos arborícolas. Foto: Ravel Zorzal
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário