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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ESTUDANTES DIZEM TER INTERESSE POR TECNOLOGIA E CIÊNCIA, PORÉM POUCOS LEEM ARTIGOS CIENTÍFICOS, E FALTA INTERDISCIPLINARIDADE NAS UNIVERSIDADES.



Texto apareceu originalmente na revista Polyteck. Uma publicação gratuita de tecnologia e ciência desenvolvida para estudantes universitários.
A edição de outubro da revista Science trouxe uma seção especial sobre comunicação na ciência. Uma das reportagens revelou a falta de escrutínio na seleção de papers publicados em periódicos de acesso aberto. Nesse artigo, o seguinte experimento foi relatado: papers similares, que continham erros básicos e evidentes, foram submetidos para vários periódicos de acesso aberto. O detalhe é que, além dos erros, os autores e as instituições eram fictícios. Qualquer revisor com conhecimentos de química do ensino médio e capacidade para entender uma plotagem de dados seria capaz de perceber as falhas conceituais nos artigos submetidos.
O resultado deste experimento foi surpreendente: dos 304 jornais de acesso aberto que receberam os artigos, 157 aceitaram os papers para publicação e 98 os rejeitaram. Outros 49 não deram resposta até a publicação da revista, 29 destes pareciam ter sido abandonados pelos criadores e os outros 20 enviaram um e-mail para os autores avisando que o artigo continuava sob revisão.
Como os erros nos trabalhos eram óbvios para qualquer leitor com conhecimento médio de ciência, a reportagem da Science mostrou que os artigos provavelmente não foram lidos antes de serem aceitos para publicação, além de não terem passado por revisão por pares.
O artigo original discute as implicações dessa falta de escrutínio na seleção dos papers e rende uma boa leitura, assim como os outros artigos dessa edição especial da Science. O tema “Comunicação na ciência” também abre espaço para nós, da Polyteck, expormos os resultados de uma pesquisa de mercado que incentivou a publicação da revista.
Realizamos uma pesquisa qualitativa com o objetivo de entender como o estudante universitário atualiza seus conhecimentos sobre tecnologia e ciência, quais assuntos o interessa e quais são as principais fontes de informação que ele utiliza. Para isso, foram entrevistados aproximadamente 100 alunos de cursos relacionados à tecnologia e à ciência em três instituições de ensino superior de Curitiba. As entrevistas foram conduzidas pessoalmente e seguiram um roteiro informal; os resultados coletados foram analisados de forma qualitativa.
Ciência e tecnologia tratada de forma superficial e errada
Grande parte dos estudantes entrevistados demonstrou interesse por tecnologia e ciência, porém poucos disseram ler artigos científicos. Alguns responderam que leem blogs e sites especializados e a maioria disse que só acompanha o que é publicado pelos grandes jornais e portais de comunicação.
Os meios de comunicação generalistas, na maioria das vezes, são superficiais ao abordar estes temas. Isso a princípio não é um defeito, pois estes jornais são direcionados ao público leigo que, supõe-se, não tem suporte educacional para compreender tais assuntos de forma aprofundada. Além da superficialidade, estes meios de comunicação muitas vezes cometem gafes e erros ao publicar notícias de tecnologia e ciência. Um exemplo disso ocorreu no começo deste mês: ao comentar sobre a entrega do prêmio Nobel de Física, o jornal O Estado de S. Paulo escreveu em sua página no Facebook (facebook.com/estadao): “Nobel de Física: Prêmio vai para os descobridores da ‘Partícula de Deus’. Peter Higgs e François Englert identificaram partículas que explicam a formação da vida como a conhecemos.”. Em primeiro lugar: um físico comete suicídio no mundo cada vez que o Bóson de Higgs é tratado como “Partícula de Deus”. Em segundo lugar, os pesquisadores não identificaram, mas sim desenvolveram um modelo teórico que previa a existência de tal partícula. Em terceiro, esta partícula subatômica não explica a vida como a conhecemos, e sim a origem da massa das outras partículas elementares.
Este é apenas um entre muitos casos de divulgação científica inconsistente e superficial feita pelos grandes jornais e portais de comunicação. Os universitários entrevistados na pesquisa disseram utilizar preferencialmente estas fontes de informação, o que, na nossa opinião, prejudica seriamente a formação do estudante universitário. O aluno acaba adquirindo conhecimentos errôneos e superficiais, e, na maioria das vezes, não se dá ao trabalho de verificar as fontes (quando elas são citadas).

Falta de comunicação entre as disciplinas

Boa parte dos universitários entrevistados não demonstrou interesse em temas não relacionados ao curso que frequentam. A percepção que tivemos é que, de certa forma, cada curso encontra-se isolado em relação aos outros e a comunicação entre diversas áreas do conhecimento é falha dentro do ambiente acadêmico. Esse ponto de vista foi compartilhado conosco por vários professores e alunos, que comentaram sentir essa distância entre as áreas do conhecimento. Este “isolamento” parece se estender desde os alunos de graduação até os docentes das instituições.
Ao mesmo tempo, percebemos que já existe um esforço muito grande para transformar as universidades em espaços mais interdisciplinares. Isso foi observado através da existência de vários projetos de pesquisa que envolvem várias áreas do conhecimento, das agências de inovação e dos esforços de alguns departamentos e professores. Porém, ainda fica a impressão de que as engrenagens não se encaixam perfeitamente e que esses projetos, de certa forma, rangem e até quebram ao tentar girar juntos.
Na nossa opinião, a troca de informações entre diferentes áreas é o que possibilita a construção do conhecimento, e isto não tem ocorrido nas universidades de forma eficiente. É possível até sugerir que essa falha na comunicação dentro das universidades pode ser parcialmente responsável pela baixa produção de artigos científicos nacionais de alto impacto, assim como pela tímida participação brasileira no desenvolvimento de tecnologias de ponta.
A nossa percepção é de que a criatividade está intimamente relacionada com a diversidade de experiências e conhecimento. Quem possui conhecimentos mais amplos e diversos, parece ter maior probabilidade de encontrar soluções criativas para problemas. Acreditamos que é na interdisciplinaridade que nascem as grandes revoluções tecnológicas, os produtos inovadores e as descobertas científicas mais significativas. Por isso, convidamos você a fazer a sua parte. Leia mais conteúdo de qualidade, compartilhe mais conhecimento, informe-se sobre outras áreas e torne-se o pesquisador, empresário, professor ou profissional que vai reinventar o Brasil.
Este é um artigo de opinião e não passou por revisão por pares. Nós estamos ansiosos para ouvir a sua opinião! Se você discorda, quer complementar ou fazer um comentário sobre algo que foi dito neste artigo, acesse o QRcode abaixo, a nossa página no Facebook ou envie um e-mail.

A revista Polyteck








































A Editora Polyteck publica mensalmente a Polyteck uma revista é interdisciplinar e tem como objetivo auxiliar os estudantes universitários a:
  • Aprender além do que é visto em sala de aula;
  • Conectar diferentes áreas do conhecimento;
  • Se aproximar do mercado de trabalho de tecnologia e ciência.
A Polyteck publica notícias e artigos que possuem relevância, aplicabilidade e abrangência multidisciplinar, todas embasadas nos melhores periódicos nacionais e internacionais. Tudo isto para que o leitor depare-se com ideias inovadoras, descubra novas maneiras de resolver velhos problemas e mantenha contato com os avanços tecnológicos e científicos que têm potencial para mudar o mundo.
Nossa missão é instigar a troca de informações e facilitar a integração entre diversas áreas do conhecimento dentro das universidades e indústrias brasileiras. Acreditamos que o contato com novas informações, pessoas e experiências é a melhor forma de incentivar a criatividade, a inovação, o desenvolvimento da cultura científica e o espírito empreendedor nos estudantes.
A revista é distribuída gratuitamente em várias universidades, empresas e centros de pesquisa, já que sabemos que a interação entre pessoas diferentes pode gerar ideias capazes de mudar o mundo.
Ao mesmo tempo oferecemos um meio de comunicação para que empresas se aproximem do ambiente acadêmico, recrutem talentos e ofereçam produtos e serviços através de publicidade.
Fontes:
Marcia McNutt, Science, 342, 6154, 13 (2013)
John Bohannon, Science, 342, 6154, 60-65 (2013)



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