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Jejuar
por duas semanas, alimentar-se durante cinco dias exclusivamente de sucos ou
tomar durante 48 horas um composto à base de limão, xarope de bordo e potássio.
Estas
são algumas das dietas desintoxicantes, também conhecidas como
"detox", usadas por celebridades para perder peso e desintoxicar o
organismo - e cada vez mais populares entre as pessoas comuns.
De
um lado, há quem diga que as dietas são fáceis de serem seguidas e permitem
eliminar o que "seu corpo não necessita".
"(Isso
ocorre) graças a alimentos desintoxicantes, como abacaxi, aspargos, espinafre e
aipo, ou ao jejum, para limpar e purificar o sistema digestivo", argumenta
Nekane Ullán, especialista em nutrição clínica da empresa espanhola Dietox, que
promove esse tipo de dieta.
"Pode
variar do jejum completo à ingestão exclusiva de verduras e frutas ou ao
semi-jejum, à base de sucos e saladas. E, para que sejam eficazes, basta
testá-las ao menos por um dia."
De
outro lado, alguns cientistas e especialistas questionam essas afirmações e
garantem que, muitas vezes, são dietas perigosas, sem qualquer base científica,
que usam o conceito de desintoxicação como um termo puramente comercial.
De dieta em dieta
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Jesus
Román, presidente da Sociedade Espanhola de Nutrição e Ciências da Alimentação
e professor da Universidade Complutense de Madri, diz que são dietas
"difíceis de serem seguidas", porque quem as realiza "não
pratica uma única dieta, mas centenas delas".
"São
pessoas que não costumam comer de forma saudável e equilibrada, porque passam
de uma dieta para outra, e isso é um perigo para o metabolismo", explica
Roman.
O
que mais deixa os especialistas preocupados é a falta de evidências científicas
que sustentem essa terapias de "limpeza de toxinas", como diz quem as
defende.
Os
promotores dessas dietas rebatem dizendo que existem vários fatores que afetam
o acúmulo de toxinas "no fígado, no baço e nos rins, como o ambiente, a
alimentação ou a hidratação", diz Ullán.
Mas
o problema, afirmam cientistas, é que essas tais toxinas não existem ou, ao
menos, ainda não foram comprovadas pela ciência, algo que as próprias empresas
do setor reconhecem.
“Conceito inexistente”
"Não
há provas científicas, porque não foram feitos estudos, e nos baseamos nas
experiências próprias de nossos pacientes, que não têm como objetivo perder
peso, mas sim sentirem-se mais energizados e leves", afirma Ullán.
Segundo
a nutricionista, as dietas detox não devem ser adotadas por pessoas com
diabetes e hipertensão, crianças e grávidas e "podem ter um efeito
rebote", mas o objetivo "não é compensar os excessos, mas começar a
se cuidar quando se decide por uma mudança na rotina alimentar, que depois deve
continuar".
Os
cientistas enxergam a questão de forma mais simples: dizem que estas dietas se
baseiam em um conceito inexistente.
"O
sistema digestivo precisa de um descanso depois dos excessos, mas não existem
dietas desintoxicantes. Para isso, há o fígado e os rins, que limpam as toxinas
de nosso organismo", afirma Roman.
Ao
mesmo tempo, o especialista defende que as pessoas se sentem melhor depois de
praticá-las e as recomendam, porque isso dá uma trégua ao sistema digestivo,
mas que "não há qualquer fundamento científico" por trás delas.
"O
que nos faz sentir de fato melhor é seguir uma dieta equilibrada durante todo o
ano, ou seja, uma dieta frugal, em que não se coma em excesso nem muita carne.
Mas isso não tem apelo popular."
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O marketing do “detox”
Edzard
Ernst, professor da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e um conhecido
crítico e pesquisador da medicina alternativa, é mais incisivo.
Não
só defende não haver evidências científicas como também diz que as afirmações
sobre as supostas toxinas são "equivocadas e perigosas" e uma questão
de "puro marketing".
"O
conceito de detox está sendo usado como um termo comercial que vende a ideia de
que as pessoas podem melhorar sua saúde com um mínimo de esforço", diz.
"Minha
visão não é radical, mas realista. As dietas e produtos desintoxicantes
esvaziam os bolsos das pessoas e as enganam, fazendo com que acreditem que
podem normalizar rapidamente uma situação irreal."
Para
ele, a única maneira de ser saudável é evitar certos hábitos, como beber, fumar
ou comer demais. "É o jeito de se desintoxicar", argumenta.
Perigos
Adriana
Alvarado, nutricionista e diretora do Centro de Nutrição Clínica da Costa Rica,
define estas dietas como uma "moda" e alerta sobre seus perigos.
"Dependendo
do tipo de dieta e sua duração, as pessoas podem sofrer efeitos secundários,
como desidratação, deficiência de nutrientes, fadiga, dores de cabeça,
problemas gastrointestinais ou enjoos", diz.
Essa
não é a primeira vez que a comunidade científica critica o negócio das dietas
desintoxicantes.
Em
2009, pesquisadores da associação britânica Voice of Young Science (voz da
ciência jovem, em inglês) denunciaram que a palavra detox se referia a uma
enganosa estratégia de marketing.
"Produziram
um documento em que explicavam como o fígado e os rins são um fantástico
sistema de desintoxicação e explicaram porque não é necessário gastar dinheiro
com produtos caros e tratamentos desse tipo", dizem fontes da associação.
A
médica Harriet Ball participou do estudo, chamado The Detox Dossier (o dossiê
detox, em inglês), e diz que os produtos desintoxicantes se baseiam "na
ideia de que a vida moderna nos enche de toxinas invisíveis que nossos corpos
não podem aguentar, a menos que compremos o mais novo remédio".
"Nossa
investigação nos convenceu de que existe muito pouca ou nenhuma evidência de
que estes produtos funcionem, exceto para aproveitar-se do dinheiro das pessoas
e desvalorizar as formas surpreendentes que nosso corpo pode desintoxicar a si
mesmo."
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