O Death Valley (Vale
da Morte), na Califórnia (EUA), tem fama pelo calor escaldante
Imagem Agency Alamy
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Você
já se perguntou sobre qual seria o lugar mais ensolarado do planeta?
Uma
maneira de descobrir isso é encontrar os pontos que recebem mais horas
contínuas de exposição ao Sol.
Se
usar esse método, você poderá se surpreender ao descobrir que não é o sol de
Miami ou do Rio de Janeiro que deve buscar, mas um ponto bem mais ao norte.
As
localidades de Eureka e de Alert, na ilha Ellesmere, no extremo norte do
Canadá, possuem altos índices de incidência solar. Ninguém chama esses lugares
de lar, mas militares e cientistas trabalham por lá durante o ano.
Maio
é o mês mais ensolarado, com luz em 65,4% do dia em Eureka - ou seja, mais do
que 15 horas. Mas com temperaturas médias em torno de -10ºC , não é exatamente
um clima de balneário.
Isso
porque essas estações de pesquisa são dois dos assentamentos mais setentrionais
(ao norte) do mundo, bem na altura do Círculo Ártico.
Essa
latitude é conhecida como a da "terra do sol da meia-noite", porque o
Sol nunca se põe no verão. Pode brilhar por dias sem interrupção.
Gelo
e deserto
O
Ártico é um lugar de gelo, mas é também um deserto em grande parte. Isso
significa que chuvas - e nuvens que produzem precipitações - são raras em
alguns locais.
A gelada ilha de
Ellesmere, no Canadá, é surpreendentemente ensolarada
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Com
a possibilidade de 24 horas de luz solar e poucas nuvens no céu, as estações da
ilha Ellesmere possuem o maior número de horas de sol no mundo - ao menos
durante o mês de maio.
Mas
a história é bem diferente em dezembro.
O
oposto do sol da meia-noite é a noite polar, quando o Sol não aparece acima do
horizonte. Nos polos são seis meses de cada situação.
O
fenômeno fica menos extremo com o deslocamento para o sul, mas na extremidade
norte do Canadá ainda é possível experimentar quatro meses seguidos sem
qualquer luz solar.
Reinado solar
Se
preferir um lugar ensolarado o ano inteiro, você talvez tenha de viajar mais de
5,3 mil km ao sul.
Segundo
registros de estações meteorológicas nos Estados Unidos, a cidade de Yuma, no
Arizona, é o lugar mais ensolarado do mundo durante o ano todo. Durante o dia,
que varia de 11 horas no inverno a 13 horas no verão, a possibilidade de sol é
de 90%.
Yuma, no Arizona (EUA), é
um dos locais mais quentes e secos do planeta
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"O
sudoeste dos EUA está sob influência de altas pressões na maior parte do ano, o
que produz massas de ar quente sobre a região", explica o climatologista
Michael Crimmins, da Universidade do Arizona. "Isso gera muitos dias
quentes e sem nuvens."
Ele
atribui a fama de Yuma à posição subtropical da cidade. Graças a um padrão de
circulação de ventos conhecido como célula de Hadley, essa área do planeta é
quente e seca.
"Ventos
quentes e úmidos se erguem na região da Linha do Equador formando tempestades
tropicais, e depois descem em torno dos 30º de latitude norte e sul, gerando
altas pressões na superfície", diz Crimmins. "Essa faixa de latitude
é onde estão os maiores desertos do mundo."
Desafios na medição
Apesar
disso, o "reinado solar" de Yuma é alvo de contestações, porque os
registros não mostram o cenário completo.
"Nos
Estados Unidos, a maioria desses registros é baseada em locais com um bom
histórico de medições, como aeroportos, então os extremos são identificados a
partir dessas locações próximas a cidades", diz Crimmins. Esses pontos de
observação do clima mais estabelecidos são conhecidos como estações de primeira
ordem.
"De
fato pode haver mais pontos de clima extremo, como o Vale da Morte da
Califórnia, mas esses locais não entram nesses rankings porque não são estações
de primeira ordem", explica o climatologista.
Skeleton Lake (Lago
do Esqueleto, em português), na ilha Ellesmere, extremo norte do Canadá
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Não
seria surpresa se lugares desabitados se revelassem como os mais ensolarados.
Faz sentido evitar viver sob luz do Sol constante, pois a incidência excessiva
é prejudicial à saúde.
Também
é difícil ter registros precisos sobre os desertos: são lugares de difícil
acesso, e equipamentos poderiam acabar danificados pela areia ou pelo frio
intenso das noites.
Há
ainda muitos outros países com alta incidência solar, para os quais há poucos
dados climáticos disponíveis. Estações meteorológicas são caras, e vários desses
países são nações em desenvolvimento.
Por
fim, é preciso considerar oceanos e lagos. Afinal, 71% da superfície do planeta
é coberta por água.
Olhando de cima
Então,
em 2007, cientistas da Nasa (agência espacial americana) resolveram analisar a
questão de um outro ângulo. Usaram satélites para identificar os pontos mais
ensolarados da Terra.
Sensores
nos satélites podem determinar se a radiação solar está sendo refletida das
nuvens ou da superfície, incluindo corpos d'água. Como poderia se esperar, os
principais pontos para captar os raios do Sol estavam bem longe de grandes
áreas povoadas.
No
mar, o ponto de maior incidência do Sol foi localizado no oceano Pacífico, ao
sul do Havaí e a leste de Kiribati.
Em
terra, uma área do deserto do Saara no Níger, perto das ruínas de um forte
colonial em Agadem, foi o lugar com menor cobertura de nuvens.
O ponto de maior
incidência do Sol em água foi localizado no oceano Pacífico, ao sul do Havaí
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Os
pesquisadores então calcularam a média de energia solar que essas áreas
receberam por dia de 1983 a 2005. No deserto, o índice foi de 6,78 kw/h por
metro quadrado; no mar, de 6,92 kw/h. Isso é quase o total de eletricidade
usado por dia em uma casa nos EUA para aquecer água.
"Os
números se baseiam em medições de nuvens e outras informações sobre a atmosfera
coletadas por satélites, que fornecem uma estimativa da energia solar que
atinge a superfície", diz Paul Stackhouse, do centro de pesquisa da Nasa
em Hampton, no Estado da Virgínia.
"As
locações identificadas são as que recebem mais energia solar na superfície em
toda a Terra", afirmou Stackhouse. "Há algumas regiões no Saara que
são bem próximas. Isso ocorre pela posição relativamente alta do Sol na região
da Linha do Equador e pela ausência de nuvens por força dos processos de
circulação atmosférica."
Essas
informações não servem apenas para matar a curiosidade, e podem desde ajudar
pessoas a instalar painéis solares a orientar um serviço de informação sobre
radiação solar na Itália. A Nasa promete divulgar novos números em 2016, que
deverão incluir uma série histórica de 30 anos - e talvez revelar pontos de sol
ainda mais extremo.
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