Os sapos asiáticos podem ter chegado
em contêineres de navegação. Imagem jamesreardon.org
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Ninguém
sabe ao certo como ou quando eles chegaram. Mas, nos últimos anos, milhões de
sapos venenosos se tornaram um praga na região leste de Madagascar.
Os
sapos asiáticos (Duttaphrynus melanostictus) provavelmente foram trazidos para
a ilha africana a bordo de contêineres de navegação, entre 2007 e 2010, e sua
população se expandiu rapidamente, atingindo quase 4 milhões atualmente.
Espécie
alienígena, os sapos ameaçam a raríssima fauna local, incluindo centenas de
tipos nativos de anfíbios. Mas são também uma ameaça para humanos – se
ingerida, a carne desses sapos pode ser fatal.
Um
recente estudo científico pediu esforços urgentes para evitar o que cientistas
classificam como uma catástrofe ambiental. Por esforços, entenda-se o controle
populacional e o extermínio da população alienígena do Duttaphrynus
melanostictus.
Justamente
por estar separada fisicamente da África, a ilha de Madagascar é o lar de uma
série de criaturas que não podem ser encontradas em qualquer outro lugar do
mundo. Elas incluem 106 espécies de lêmures, muitos em números extremamente
raros. É também lar de plantas para lá de exóticas.
Biodiversidade
Mas
o aumento da população de sapos asiáticos pode comprometer a biodiversidade da
região.
“Os
sapos perturbam a cadeia alimentar e causam diminuições nas populações de
predadores e presas nativas que podem chegar à extinção”, afirma Christian
Randrianantoandro, biólogo da Madagasikara Voakajy, uma ONG ambiental da ilha.
Parte dos esforços consiste em
simplesmente "colher" sapos
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Predadores
que se alimentam de batráquios podem ser envenenados pelos sapos. Cobras,
gaviões e o fossa, um felino único de Madagascar, estão entre os animais
ameaçados.
“Os
sapos têm a capacidade de ocupar a maioria das áreas de Madagascar e são uma
ameaça seríssima. Esperamos confrontos populacionais”, diz Cristopher
Raxworthy, pesquisador do Museu Americano de História Natural.
Felizmente,
os sapos ainda não expandiram dramaticamente seu território. Atualmente, ocupam
uma área de 110 km quadrados, equivalente a um quinto da ilha. Se a erradicação
começar agora, os Duttaphrynus melanostictus ainda poderão ser contidos. Caso
contrário, segundo a ONG ambiental, o impacto poderá ser irreversível.
Isso
porque os sapos poderão explorar a longa rede de rios e canais conhecida como
Sistema de Pangalanes, o que tornará a erradicação praticamente impossível por
causa da velocidade com que os bichos poderão se deslocar para outras áreas de
Madagascar.
Há
várias maneiras de se livrar dos anfíbios, incluindo a coleta manual, um
processo que já está sendo testado. O problema é que eles não são facilmente
localizáveis. Outra opção é espalhar uma solução ácida nos locais em que vivem,
o que pode matar os sapos em 24 horas.
“É
um produto disponível na ilha e que tem a mesma concentração de suco de limão.
Ou seja: não é tóxico para o meio ambiente”, explica Raxworthy.
Algumas espécies de lêmures são exclusivas
de Madagascar
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Outros
métodos incluem armadilhas para girinos e o uso de cães farejadores. “Parece
louco, mas você pode treinar cães para farejar sapos”, completa o pesquisador
americano. Mas a erradicação precisa continuar em larga escala. E rápido.
Conservacionistas
recentemente cercaram uma área para capturar sapos e, em duas semanas
capturaram 1200 espécimes. Porém, uma fêmea da espécie invasora é capaz de por
cerca de 400 mil ovos por ano. Isso significa que as populações podem se
expandir rapidamente.
“O
impacto (desses sapos) na biodiversidade de Madagascar pode ser dramático e de
cortar o coração. Gerações futuras ficarão furiosas conosco se não fizemos um
esforço de erradicação enquanto pudermos”, opina Raxworthy.
Cientistas
vêm tentando conseguir recursos junto aos donos da Mina de Ambatovy, uma das
maiores do mundo em extração de níquel. O motivo? Os anfíbios começaram a ser
vistos em Madagascar ao mesmo tempo em que teve início a construção de uma
unidade de processamento de minério ligada à mina. Os sapos também passaram a
ser encontrados na mina a partir de 2011. Mas não está certo se há uma relação
direta com a chegada dos anfíbios.
“O perfil genético dos sapos de Madagascar é
parecido ao de populações conhecidas no Vietnã, Camboja e Tailândia. E uma das
empresas que construiu a usina é tailandesa”, acusa o pesquisador americano.
População invasora é estimada em 4
milhões de espécimes. Imagem jamesreardon.org
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“Não
podemos provar, mas tudo indica que foi essa empresa que acidentalmente trouxe
os sapos. Queremos colocar os donos da mina sob pressão para que eles
contribuam de forma significativa para a erradicação dos sapos”.
Em
comunicado enviado à BBC Earth, a empresa Sherritt International Corporation,
uma das donas da usina, disse estar cooperando com os esforços de erradicação e
desenvolvendo seu próprio programa nas suas instalações.
No
entanto, a empresa não endossa a teoria de que os sapos chegaram à ilha por
causa da construção da usina – argumentam que o Porto de Toamasina, o principal
de Madagascar, recebe muito mais contêineres por ano.
“No
período em que se acredita que os sapos tenham chegado, a mina de Ambatovy
respondeu por apenas 5% do tráfego de contêineres do porto”, disse o
comunicado.
No
entanto, cientistas afirmam que a distribuição geográfica dos sapos sugere que
eles não escaparam no porto. A região de Madagascar em que eles estão
concentrados não apenas está mais distante do porto, como a mina é a principal
atividade econômica do local.
“Claro
que outros importadores podem ter trazido os sapos, mas a mina é maior do que
qualquer outra coisa acontecendo na área em que eles estão”, diz Raxworthy.
Leia a versão original dessa reportagem (em
inglês) no site BBC Earth
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