Estudo americano é mais uma evidência da relação
entre zika e microcefalia - Imagem Reuters
|
O vírus Zika mata um
tipo de tecido essencial para cérebros em desenvolvimento, afirmam
pesquisadores.
Em
testes de laboratório, o Zika foi capaz de destruir ou impedir o crescimento de
células progenitoras neurais, que constroem o cérebro e o sistema nervoso.
A
descoberta, anunciada na publicação científica Cell Stem Cell, reforça a crença
de que o vírus esteja causando as más-formações nos cérebros de bebês.
Os
pesquisadores americanos, alertam, porém, que isso ainda não representa uma
relação definitiva entre o Zika e a condição.
Segundo
o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde brasileiro, já são 641
confirmações de microcefalia ou outras más-formações em cérebros de bebês.
Outros 4,2 mil casos suspeitos estão sob investigação e pouco mais de 1 mil
foram descartados.
A
epidemia de zika tem sido amplamente apontada como o motivo do aumento dos
casos de microcefalia, mas esse elo ainda não foi cientificamente confirmado
aos olhos da Organização Mundial da Saúde.
A
equipe americana, formado por pesquisadores das universidades Johns Hopkins
(Maryland), do Estado da Flórida e Emory (Geórgia), infectou um grupo das
células com o Zika por duas horas e analisou essas amostras três dias depois.
Uma das primeiras imagens do vírus Zika, em
amostra retirada de um paciente sul-americano
|
O
vírus conseguiu infectar até 90% das progenitoras neurais em uma das amostras,
levando à morte de cerca de um terço das células e a sérios danos nas demais.
Um efeito similar teria resultados devastadores em um cérebro em
desenvolvimento.
Por
outro lado, o Zika foi capaz de infectar apenas 10% dos outros tecidos
testados, incluindo células cerebrais mais avançadas, renais e tronco.
A
professora Guo-li Ming, uma dos cientistas responsáveis pelo estudo, afirmou
que as descobertas são significantes e representam um primeiro passo para
entender a relação entre zika e microcefalia.
“As células
progenitoras neurais são especialmente vulneráveis ao vírus Zika. Elas dão
origem ao córtex – a principal parte (do cérebro) a apresentar volume reduzido
na microcefalia.”
“Mas
esse estudo não provém uma evidência direta de que o vírus Zika é a causa da
microcefalia.”
Segundo
a pesquisadora, são necessários mais estudos em cérebros em miniatura, criados
em laboratório, e em animais.
Brasil já registra mais de 600 casos
confirmados de microcefalia - Imagem Reuters
|
Ainda
não está claro o motivo de essas células serem tão vulneráveis – elas
aparentemente não criam uma defesa contra a infecção pelo Zika.
Embora
não seja definitivo, o estudo se soma às evidências já anunciadas pela
comunidade científica – incluindo a descoberta do vírus em cérebros de bebês
mortos e em líquido amniótico.
Madeleine
Lancaster, que pesquisa o desenvolvimento do cérebro no Laboratório de Biologia
Molecular do MRC (Conselho de Pesquisas Médicas britânico, na sigla em inglês),
afirmou que o estudo é um “significativo passo adiante”.
“Os
efeitos vistos poderiam explicar o surto de microcefalia e abrem alas para
muitos estudos futuros sobre como o vírus afeta células-tronco e sua habilidade
de produzir neurônios em cérebros em desenvolvimento”.
“Eu acho que se trata de uma contribuição
muito importante, e num momento extremamente oportuno.”
Mas
a cientista concorda com os pesquisadores: é preciso investigar mais.
“(Deve-se) testar se o Zika afeta a produção de neurônios e o tamanho do
cérebro” e descobrir como ele atravessa a placenta, afirma.
Bruce
Aylward, da Organização Mundial de Saúde, diz que as evidências de que o Zika
esteja causando microcefalia e outra condição – a síndrome de Guillain-Barré –
se acumulam.
“Desde
a declaração de emergência internacional, em fevereiro, as evidências de uma
relação causal vêm se acumulando.”
Fonte:
BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário