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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

EM BUSCA DO SEXO PERDIDO


É um homem! Não, é uma mulher! Ai! É melhor definir o que é ser-se homem ou mulher.


Há dois anos, num episódio do Dr. House, série II a equipe liderada pelo sempre simpático médico House enquanto tratava uma jovem supermodelo viciada em heroína, descobre que por trás do corpo kate mossiano se esconde uma fábrica de testosterona. Tudo isto sem a jovem saber. Um pouco ao estilo “descobre o homem que há em ti”.

2009, Berlim. Uma jovem sul-africana acaba de vencer a prova de 800 metros estabelecendo uma nova marca mundial. Um jornal australiano, publica a história da presença de testículos intra-abdominais secretando testosterona que tornavam a atleta, demasiado masculina.
Como podemos ter dúvidas sobre esta pessoa? Como poderá esta jovem ter enganado tanta gente? E terá sido ela que enganou ou terá sido engano ao nascer, naquele momento em que o obstreta levanta o recém nascido pelas pernas e diz com aquele sorriso por trás da máscara : “é uma menina”!.
Na revista Science et Vie, número de Janeiro, vem a explicação. Na realidade temos três (na realidade cinco) sexos. Admirado(a)?
Sexo genético – 46, XX para as meninas; 46 XY para os meninos.
Sexo gonocórico – presença de ovários nas meninas; presença de testículos nos meninos.
Sexo fenotípico – aparecimento de órgãos genitais, e caracteres sexuais secundários.
Podemos ainda juntar um quarto sexo – psíquico e um quinto – social.
Confuso? Também acho! A verdade é que o sexo que vem na certidão de nascimento tem por base apenas um dos critérios – fenotípico.


Vamos esclarecer um pouco mais isto de ser “masculino”.
O feto, na fase inicial de desenvolvimento, é indefinido relativamente ao gênero, independentemente ou não de receber instruções do cromossoma Y. Como os espermatozóides e os óvulos são gerados fora do seu limite, durante alguns meses tudo é neutro, mas o corpo acaba por ser invadido pelo sexo. As várias centenas de células germinativas (os precursores dos espermatozóides e dos óvulos) respondem a um sinal e, após uma breve passagem pelo que será mais tarde o coração, mudam-se de armas e bagagens para o futuro lar. Dezenas de genes auxiliam-nas durante este percurso. Uma vez instaladas na sua morada permanente, as células germinativas e o emaranhado de tecidos ambíguos que originam o pênis em metade da população de bebês dão o primeiro passo, apesar de reversível, para o estado adulto. As gônadas decidem o seu destino e a maioria das vezes os donos seguem-no.
O gene SRY entra em ação cerca de um mês após a fertilização, quando o embrião mede aproximadamente 1 centímetro de comprimento. 
Os ratinhos inativam-no logo, mas nos homens e nos porcos o gene transmite a sua mensagem até à idade adulta, embora se desconheça a razão. Homens e porcos, foi apenas um exemplo, fica melhor que homens e cavalos, etc.
Em seguida, um pequeno bloco de tecido envolvido na manutenção do equilíbrio hídrico modifica o seu curso. Essa interessante protuberância é acompanhada pelos progenitores dos órgãos genitais e nos rapazes afasta-se do precursor do rim (que possui um toque feminino nas células que com ele contatam). Os testículos e seus seguidores emergem de uma espécie de origami biológico executado com dois tubos: os duetos de Müller e de Wolff. Talvez seja por isso que dizem ser importante a mãe grávida ouvir música clássica, rsrsrsrsrsrsrsrsr.
Os seus canais pouco eróticos são dobrados, cortados e fundidos de maneira a formarem genitália adulta: masculina, a partir do órgão de Wolff, e feminina a partir do de Müller. Parece que estamos a falar da montagem das tubulações hidráulica de nossas casas, mas é muito semelhante. Recomendo a leitura de "Quando éramos peixes" de Neil Shubin.
Um determinado tipo de células no jovem testículo produz urna proteína que leva o tubo de Müller ao suicídio. Logo o canal de Wolff inicia as tarefas masculinas e, após uma breve carreira como mero diretor de urina, molda-se para formar as canalizações, válvulas reservatórios e estações de tratamento que auxiliam o esperma na sua viagem. Tal como a maioria dos hormonios, esta substância inibidora mulleriana desempenha outras funções. Avisa os testículos de quando devem mudar-se para a sua residência adulta e é necessária mesmo nas mulheres, nas quais suspende a formação de óvulos até à puberdade.
Enquanto decorrem a cirurgia e a escultura internas, ganha forma a genitália externa. O pênis faz a sua aparição como uma desinteressante massa de tecido, uma dobra acompanhada de uma saliência. Esta humilde estrutura transforma-se num falo pela fusão da seção dobrada, enquanto a saliência se torna o escroto. Os testículos funcionam melhor a temperaturas mais baixas e permanecem no interior do corpo até ao momento do nascimento, altura em que descem até à sua morada através de um ligamento rígido, o gubernáculo (assim denominado devido ao leme num navio grego). Os elefantes não se dão a esse trabalho e retêm os órgãos no interior do corpo sem problemas aparentes, mas os jovens rapazes nessa situação são estéreis. Nos ratinhos e outras criaturas os testículos migram para dentro e para fora do corpo segundo a estação do ano. Os ratinhos são as cobaias do laboratório, por isso estão sempre presentes.

E se os hormônios ou os receptores hormonais funcionarem mal?
É aqui que tudo dá em confusão. O sexo genético pode ficar invertido em relação ao sexo gonocórico.

Se os testículos de um embrião masculino não se produzirem, ou ocorrer problemas na produção de testosterona, o aparelho genital será feminino.
À nascença os órgãos genitais externos são totalmente femininos e ninguém desconfia que a pequena bebê tem testículos no interior e um sexo genético masculino. Pode também ocorrer a situação inversa, mas não interessa para a postagem. E podem ocorrer situações intermediarias desde disfunções genéticas e hormonais com situações de masculinização ou feminização incompleta, pseudo-hermafroditismo, hermafroditismo. Isto é, cada caso é único. O problema é quando um ser humano único tem de entrar num caso ou no outro.
Fonte : Science et Vie; A Descendência do Homem (Steve Jones)

Casos interessantes : neste link – peixes que trocam de sexo e outras curiosidades : http://super.abril.com.br/superarquivo/1995/conteudo_114593.shtml
Link para o artigo da Science et Vie : https://docs.google.com/fileview?id=0ByqDP65wn94_YTY1ZDA0MjctNzM2NC00ZTU1LTliZjQtMjZkYzMyZjhlZTBk&hl=pt_PT

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