A capacidade dos mares de absorver dióxido de carbono (CO2) está se esgotando, como mais uma prova das excessivas emissões do gás estufa proveniente das atividades do homem, advertiu um estudo divulgado esta semana pela National Geographic Society.
O relatório indicou que entre 2000 e 2007, com o aumento das emissões de CO2, a absorção pelos oceanos do carbono produzido pela atividade industrial caiu entre 27% e 24%.
"Trata-se de uma queda bastante grande e a tendência é bastante clara", disse Samar Khatiwala, oceanógrafo do observatório Lamont-Doherty, da Universidade de Colúmbia.
A absorção do CO2 pelos oceanos não consegue mais igualar a quantidade de carbono que está sendo produzida pelo homem, acrescentou.
O cientista esclareceu que isso não significa que tenha ocorrido uma redução da absorção de CO2 pelos oceanos, mas que não está aumentando no mesmo ritmo de antes.
E se os oceanos continuarem se saturando, maior será a quantidade de gás mantida em uma atmosfera onde já é registrado um aumento de sua temperatura, disse.
Segundo Chris Sabine, oceanógrafo do Laboratório Ambiental Marinho do Pacífico, em última instância, são os oceanos que controlam o que acontece no planeta em termos meteorológicos.
"É um grande problema se (os oceanos) se tornaram menos eficientes na absorção de CO2", acrescentou.
Os mares atuam como gigantescos receptáculos de CO2, já que o gás se dissolve na água salgada. No momento, os oceanos do mundo abrigam 2,3 bilhões de toneladas de carbono, o que equivale ao produzido durante seis anos de consumo de gasolina nos Estados Unidos, segundo o cientista.
Em seu estudo, os pesquisadores analisaram dados de temperatura e salinidade de água do mar colhidos entre 1765 e 2008.
Também verificaram a existência de poluentes, como clorofluorocarbonos, que são "marcadores" que permitem determinar o tempo que demoram a chegar da superfície ao fundo do mar.
Sobre modelos criados com esses dados, os pesquisadores determinaram que quando o CO2 proveniente da atividade industrial registrou um brusco aumento na década de 1950, os oceanos receberam uma maior quantidade do gás.
No entanto, os níveis de absorção caíram nos últimos anos por razões desconhecidas, segundo o estudo.
Seus autores sugerem que é possível que a redução se deva a um aumento da acidez marinha, o que diminui a captação do CO2.
Além disso, o gás não se dissolve com tanta facilidade em águas temperadas, o que explica o fato de que cerca de 40% do CO2 tenha sido captado pelas frias águas da Antártida, segundo um estudo que será publicado pela revista "Nature" nesta semana.
Sabine disse que o estudo não leva em conta os processos biológicos que ocorrem no mar e citou o caso dos fitoplânctons, que captam CO2 por fotossínteses.
Quando esse fitoplâncton morre, seus restos são depositados no fundo do mar e se decompõem em um processo que apanha o carbono nas profundezas.
Segundo Timothy Hall, cientista do Instituto de Estudos Espaciais da Nasa (agência espacial americana), até agora se presumia que esse processo não tinha mudado devido ao aquecimento global.
No entanto, advertiu que existe a possibilidade de geração de uma cadeia de efeitos que poderiam alterar o ciclo natural, com o aumento da temperatura das águas.
O cientista explicou que a circulação marinha tem sua origem nas diferenças de temperatura de água e nas quais as mais frias e densas vão para o fundo e as mais mornas e ricas em nutrientes afloram à superfície.
Esse processo não vem ocorrendo normalmente nos últimos anos e é possível que se deva a um aquecimento das águas superficiais, segundo os cientistas.
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